Jornal GGN – Em setembro de 2017, o repórter Marcelo Auler buscou a assessoria de imprensa da Lava Jato em Curitiba para apurar uma situação “inusitada”. O jornalista apurou que o procurador Orlando Martello, lotado oficialmente em São Paulo, recebia milhares de reais todo mês, a título de diárias para cobrir despesas de moradia, alimentação e deslocamento, para trabalhar na capital do Paraná. Só que Martello é casado e tem filho com uma procuradora do Paraná, e o casal possui casa em Curitiba. Ambos recebem, ainda, auxílio-moradia em dobro. O pagamento de diárias a ele, portanto, pode até ser regular, mas é imoral nessas condições.
Mas a Lava Jato em Curitiba não parecia envergonhada por situações como a de Orlando Martello. Ao contrário: quando Auler publicou sua reportagem, a força-tarefa fez piada a respeito dos valores recebidos. Alguns procuradores disseram que a matéria só serviu para que eles percebessem que acumularam menos que Martello. Em tom de sarcasmo, propuseram fazer uma “vaquinha” para compensar aqueles que estavam se sentindo “mais pobrinhos”.
Conversas de Telegram divulgadas nesta terça (30) pelo The Intercept Brasil mostram que o próprio Martello não se sentia incomodado com o recebimento das diárias. “Vou dizer [ao jornalista] que se CF [Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-procurador da Lava Jato] recebe sem trabalhar, pq eu não posso receber trabalhando”, disparou no chat de Telegram quando soube da demanda de Marcelo Auler.
Martello, segundo o Intercept, foi o segundo procurador que mais recebeu diárias na Lava Jato, R$ 461 mil. Diogo Castor de Mattos (que estava lotado no interior do Paraná, mas também mantinha casa em Curitiba) recebeu R$ 373 mil entre 2014 e 2019. Isso significa que ele tinha um ordenado de R$ 25 mil por mês e ainda engordava o bolso com uma média de R$ 11 mil extras, em diárias. Santos Lima, o “mais interessado” em esconder as diárias, recebeu R$ 361 mil. Jerusa Viecili, que reclamou de ter recebido pouco, tirou R$ 196 mil em diárias durante três anos.
De acordo com dados que a Procuradoria-Geral da República enviou ao Tribunal de Contas da União, as forças-tarefa da Lava Jato em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro gastaram juntas R$ 3,25 milhões em diárias. Dinheiro público. Só a Lava Jato paranaense foi responsável por mais de 97% desse gasto: R$ 3,17 milhões.
Procurada, a Lava Jato respondeu que o pagamento das diárias de seus membros está de acordo com a lei.
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