Amazônia: Terra de ninguém? Por Ricardo Mezavila 

Abandonada pelas autoridades, com fiscalização reduzida, a Amazônia é dominada pela madeira ilegal, pelo fogo e pela grilagem

Foto: Foco Amazônia/ Divulgação

Por Ricardo Mezavila

O texto oficial sobre Dom e Bruno dão conta de que: As buscas para encontrar o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira completaram nove dias. Objetos pessoais dos ‘desaparecidos’ foram encontrados na mata e estão sendo periciados.  

Por que a Funai retirou armas usadas na proteção de indígenas do Vale do Javari? A decisão inviabilizou serviços essenciais para a proteção dos grupos indígenas que vivem na área demarcada.  

Essa decisão vinda de um governo armamentista ratifica que o decreto que legalizou o uso e o porte de armas foi para beneficiar milicianos urbanos, do campo, madeireiro, garimpeiros e pescadores ilegais.  

A baixa espiritualidade de Bolsonaro sempre se revelou em suas reflexões sobre os indígenas. “Índios em reservas são como animais em zoológicos”, “Cada vez mais, os índios são seres humanos iguais a nós”, “eu assumindo não vai ter um centímetro quadrado a mais para terras indígenas” 

Discursando na ONU em 2019, criticou o Cacique Raoni: “A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes, alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”, disse. 

Ao patrocinar o projeto que libera o garimpo em terras indígenas, o presidente atacou os ambientalistas: “O grande passo depende do parlamento, vão sofrer pressão dos ambientalistas. Esse pessoal do meio ambiente. Se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente, e deixem de atrapalhar”. 

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Durante três anos e meio de desgoverno, a taxa de homicídio de indígenas cresceu mais do que as de homicídio em geral, segundo portal Atlas da Violência, gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com a colaboração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 

Em julho de 2019, o jornalista britânico correspondente do The Guardian, Dom Phillips, participou do café da manhã no Palácio do Planalto, quando interrogou Bolsonaro sobre desmatamento, diminuição de multas emitidas pelo IBAMA, fez críticas à política ambiental e questionou a relação do ministro do meio-ambiente Ricardo Salles com madeireiros.  

“O presidente pretende mostrar para o mundo que o governo tem preocupação séria sobre a preservação da Amazônia”? – perguntou Dom Phillips. Bolsonaro respondeu que “primeiro vocês têm que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês…nenhum país do mundo tem moral para falar da Amazônia…” 

Há enorme contradição entre o que Bolsonaro diz e sobre o que quer para a Amazônia. Trecho de uma conversa de bastidores do documentário O Fórum entre Bolsonaro e Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, em Davos, 2020:  

“Estou preocupado com a Amazônia” – disse Gore.  

Bolsonaro: “Quero explorar os recursos da Amazônia com os EUA”.  

Al Gore: “Não entendi o que você quer dizer”. 

As entrelinhas dos fatos nos dão a possibilidade de leituras muito mais profundas do que o desaparecimento de Dom e Bruno, duas pessoas preocupadas com o meio-ambiente, com a natureza, com os povos originários.

Suas contribuições ao país foram tratadas levianamente por Bolsonaro como “uma aventura que não é recomendável que se faça”.  

Abandonada pelas autoridades, com fiscalização reduzida, a Amazônia é dominada pela madeira ilegal, pelo fogo e pela grilagem. É Terra de Ninguém, mergulhada no caos e na violência. 

Ricardo Mezavila, cientista político

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Redação

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