
O Brasil Dividido entre Vira-Latas e Patriotas Autênticos
por Luiz Henrique Lima Faria
Se há um traço psicossocial que atravessa a história brasileira há séculos, é o comportamento recorrente de comparar o país com outras nações e, frequentemente, sair dessa comparação com a sensação de inferioridade. O famoso “complexo de vira-lata”, magistralmente descrito por Nelson Rodrigues no contexto futebolístico, há muito extrapolou os gramados marcados com cal e infiltrou-se na política e na identidade nacional.
Durante a ditadura militar (1964-1985), esse fenômeno não apenas se consolidou, mas também se desdobrou de maneira peculiar: o país fragmentou-se entre aqueles que ladram em torno das pernas do Tio Sam, abanando o rabo à espera de um cafuné, e aqueles que ergueram a cabeça e buscaram pavimentar um caminho autônomo para o Brasil no cenário internacional.
Sob esse contexto, de um lado, temos os vira-latas. Mas não aqueles adoráveis cãezinhos de rua, resilientes e carismáticos. Falo aqui de uma subespécie humana: a dos políticos vira-latas, sempre ansiosos para lamber as botas estrangeiras, especialmente quando essas botas vêm direto de Washington. São aqueles seres caricatos que ficaram do lado de fora da posse de Trump, fantasiados de figurões internacionais, esperando uma migalha de reconhecimento, mas que só receberam desprezo e portas nas fuças.
Enquanto o mundo civilizado evitava Trump e sua legião como se ele fosse lixo radioativo, esses políticos patéticos esperavam, de peito estufado, serem convidados para o banquete. Os tolos não haviam compreendido que a festa era exclusiva para os aliados que de fato tivessem algo de valor a oferecer à mesa geopolítica, além da subserviência incondicional.
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Esses vira-latas desvirtuados são os mesmos que vibravam ao ver um ex-presidente brasileiro, ainda no exercício do mandato, prestando continência à bandeira estadunidense e fazendo “arminha” com as mãos, como um embaixador honorário da idiotia. São servos de espírito que advogam pela subordinação econômica e política, que anseiam por bases militares estrangeiras em solo nacional, que aceitam acordos internacionais humilhantes e que se regozijam ao receber um tapinha condescendente nas costas, desde que vindo de algum representante diplomático dos Estados Unidos. São aqueles que, na prática, acreditam que “Brasil acima de tudo” só faz sentido com o complemento “Estados Unidos acima de todos”.
Do outro lado, temos os verdadeiros patriotas segundo o sentido literal do termo: aqueles que amam, defendem e são leais à sua pátria. Ser patriota significa ter um vínculo forte com o próprio país, valorizando sua cultura, identidade e interesses nacionais. Sob esse sentido autêntico, o patriotismo pertence aos que sabem que o Brasil é grande demais para viver como um apêndice de qualquer potência estrangeira. Brasileiros patriotas são os que se orgulham de nossa cultura, nossa diplomacia e nosso povo. São aqueles que, ao invés de ficarem na fila de algum buffet geopolítico alheio, cozinham seus próprios pratos e os servem ao mundo com altivez.
Um exemplo atualíssimo desse patriotismo autêntico vem da cultura. Enquanto alguns políticos obtusos rastejam em busca de reconhecimento de figuras controversas como Musk e Trump, uma equipe de artistas brasileiros brilha no exterior sem precisar de comprar convites para regabofes ou de permissão estrangeira para estar presente. O elenco do filme ‘Ainda Estou Aqui’ está em plena campanha internacional por três categorias no Oscar, incluindo a de Melhor Filme, levando pela força de sua narrativa a riqueza da nossa história e cultura à atenção mundial. Eles não dependeram de um convite indulgente. Não permaneceram do lado de fora de cerimônias estrangeiras como vira-latas. Fizeram-se presentes pelo mérito e conquistaram seu espaço com legitimidade.
Esse é o Brasil que se coloca na geopolítica sem precisar orbitar como satélite de qualquer potência, compreendendo que relevância global não se alcança pela subserviência, mas pela autenticidade. A diplomacia da cultura sempre foi uma de nossas maiores fortalezas, projetando a essência da identidade nacional por meio da música, da literatura, do cinema e de outras artes, que ressoam pelo mundo sem necessitar de chancela externa.
O mesmo se aplica à ciência, onde nossos pesquisadores não apenas rompem barreiras, mas lideram avanços, desenvolvendo tecnologia, inovando em áreas estratégicas e contribuindo decisivamente para o progresso do conhecimento global. Um exemplo eloquente é o médico sanitarista Carlos Augusto Monteiro, da Universidade de São Paulo (USP), reconhecido em 2025 como um dos 50 cientistas mais influentes do mundo por suas pesquisas sobre os impactos dos alimentos ultraprocessados na saúde humana.
É por meio dessas expressões genuínas de talento e criatividade que mostramos ao mundo a grandiosidade do país. Nessa direção, o Brasil precisa decidir que tipo de país quer ser. Podemos continuar com a mentalidade subalterna, aceitando ser um quintal malcuidado das potências estrangeiras, ou podemos ser um país que reconhece seu próprio, que investe em sua identidade e que se recusa a dobrar os joelhos em busca de aceitação de quem quer que seja.
Enquanto os vira-latas continuam lambendo as sobras do imperialismo anacrônico, reduzindo o Brasil ao papel de figurante na cena internacional, nossos artistas e cientistas constroem pontes, projetam nossa identidade e fazem do Brasil um protagonista pelo que somos, não pelo que nos permitem ser.
De certo, os espíritos vira-latas continuarão a mendigar reconhecimento internacional, repetindo o velho bordão de que o Brasil necessita do amparo de tutores estrangeiros. No entanto, aqueles que compreendem a verdadeira dimensão do país persistirão na criação e na afirmação de um protagonismo edificado com autonomia. Para os patriotas autênticos, o prestígio em premiações internacionais, embora represente um parâmetro de sucesso, jamais será mais valioso do que o percurso singular que elevou os brasileiros à condição de protagonistas de sua própria trajetória até essas conquistas.
Afinal, o patriotismo que verdadeiramente deve importar para o Brasil não é aquele que aguarda submissamente a aprovação de potências estrangeiras, mas o que se afirma no mundo com autodeterminação e a convicção de ser artífice do próprio destino.
Luiz Henrique Lima Faria – Professor do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e Editor-Chefe da Revista Interdisciplinar de Pesquisas Aplicadas (RINTERPAP).
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O texto é excelente! É do tipo que nos leva a pensar:”Caramba, que delícia! Não importa que eu não tenha capacidade para produzir um texto desse nível, pois o que importa é que foi produzido.” Abordou integralmente o tema e lavou minha alma! Humildemente agradeço.Obrigado.
Kkkk, texto chinfrim direcionado exclusivamente para extrema esquerda; me diga onde estão os grandes cientistas brasileiros? Eu digo, estão nos EUA,me diga quanto custou esse filme mequetrefe para os para o pagador de impostos?
Excelente a abordagem do professor Luiz Henrique. Eu espero e desejo que os que tem a síndrome de vira lata possam ler esse artigo e reflitam sobre é ser verdadeiramente patriota.
Quanto veneno. O cara deve ser petista rarara
Ridículo artigo
Eu vejo como essas pessoas escrevem longas linhas para resumir ofensas aquele que nem o cargo publico ocupa mais sendo roubado nos seus direitos aliado a vontade dos seus eleitores que querem um país melhor.
Para eleger uma pessoa que não representa o país sendo impossado pela urna do crime que não elege o escolhido mas o que já estava programado.
Que recebe ditador com tapete vermelho e gasta tudo que pode e coloca o país em condição de colônia internacional.
Esse não representa nada e não pode ser comparado com vira-lata o animal merece respeito .
Só nos resta pagar a conta de um desgoverno corrupto e seus cúmplices.