Entre Lula, o Datafolha e a casa-grande, por Luís Felipe Miguel

Entre Lula, o Datafolha e a casa-grande

por Luís Felipe Miguel

Pesquisa do Datafolha, publicada na Folha de hoje, mostra que, apesar da intensificação da perseguição contra ele, Lula continua vencendo em todos os cenários para a presidência da República. Na verdade, suas marcas melhoraram e a taxa de rejeição caiu. Creio não ser por acaso que o jornal não apresenta nenhum gráfico de linha, que permitiria observar a evolução das intenções de voto no tempo.

O fato é que, havendo eleição, Lula ganha. Se já ganharia hoje, imaginem com campanha eleitoral, quando ele terá acesso à mídia e poderá apresentar sua versão dos fatos e contrabalançar um pouco a campanha colérica que é feita há anos contra ele.

Sem Lula, não haverá eleição, no máximo “eleição”. É de fato incrível a tranquilidade, a fleuma, a nonchalance com que o Judiciário brasileiro está disposto a afastar da competição o franco favorito, com base em indícios frágeis, para dizer o mínimo, e num processo questionável e questionado. Em qualquer país do mundo, as implicações de um tal passo seriam sopesadas e o risco de esvaziar de sentido o processo eleitoral só seria assumido caso existissem provas contundentes e indiscutíveis contra o candidato.

Ah!, dizem os defensores da Lava Jato, mas essa é a prova de que as “instituições” estão funcionando maravilhosamente. A Justiça é cega, não se preocupa com quem é o réu e exara suas decisões a partir dos autos, sem se preocupar com consequências colaterais.

Só que não – isso não retrata a Justiça brasileira, muito menos seu braço em Curitiba. Mas as instituições estão, sim, funcionando, não decerto como pregava a Constituição que foi rasgada, mas de acordo com seu papel histórico de proteger os interesses da casa-grande.

A previsível condenação de Lula, com o consequente afastamento do favorito da corrida presidencial, mostra que a direita partiu para o tudo ou nada. Depois do golpe, resolveu desprezar de vez o verniz de legitimação popular que deveria estar presente no exercício do poder. Mostra isso todos os dias, com as medidas antipopulares do governo usurpador, e mostra ao retirar das eleições de 2018 a mínima chance de representar uma revinculação entre povo e governantes.

Nem os sucessivos acenos do ex-presidente aos integrantes da elite política golpista e aos deuses do mercado, como forma de demonstrar que sua volta ao Planalto não representará uma ruptura, são suficientes. No Brasil que o golpe está criando, não há nenhum espaço para esse tipo de acerto, nenhum espaço para um governo que ouse pensar em políticas compensatórias, por mais tímidas que possam ser.

Poucas páginas depois, a continuidade da pesquisa Datafolha dá conta de que caiu o “apoio do eleitorado à democracia”, medido pela concordância com a frase “a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo”. Nem vou voltar a discutir como essas pesquisas de opinião são epistemologicamente bizarras. Mas eu me ponho na posição de um cidadão com pouca educação política, isto é, da ampla maioria: se isso que temos aí é o que eles chamam de “democracia”, como eu posso julgar que é uma boa forma de governo?

Talvez o que esteja caindo mesmo é o apoio à oligarquia, palavra que define bem melhor o governo que temos.

 

19 Comentários

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  1.  Lula é imbatível. A memória

     Lula é imbatível. A memória do que era a vida na sua presidência, a terrível crise, o progressivo ganho de consciência a respeito do caráter das reformas, a sua capacidade de falar diretamente ao povo… tudo isso faz de Lula o candidato que ninguém conseguirá derrotar. Se for candidato. E aí, como todos sabemos, está o problema, pois o golpe é, também, jurídico. Logo, é preciso um plano B. Mas não conseguimos formulá-lo.

    O PT e outros parecem acreditar que a força eleitoral do Lula obrigará as classes dominantes a um acordo. O 247 chega, ingenuamente, a expressar essa ideia no título de uma de suas matérias. Surreal! Acreditam também que essa força eleitoral obrigará esse judiciário, ou pelo menos os doze, a invalidarem o que os três decidirem (aumentar a pena e impugnar a candidatura, é claro).

    Ao contrário, se houvesse um plano B realmente viável, o Lula teria mais chances. Pois se a vitória do campo democrático parecesse inevitável às “elites”, com Lula ou sem Lula, talvez fosse melhor com Lula. Afinal, ele é fundamentalmente o homem do acordo.

    Mas não há plano B. Alguns do PT realmente acreditam que o Lula seria capaz de transferir votos para o Haddad. As pesquisas e o bom senso mostram que isso é uma ilusão; ainda por cima é paulista. O Ciro julga que pode simplesmente herdar os votos que iriam para o Lula. Não pode. A transferência só poderia ocorrer se ele já estivesse no barco do Lula, participando das caravanas, etc. Ou seja, se tivéssemos construído de facto um campo democrático, com candidaturas alternativas claramente postas. Lula como candidato natural, é claro, mas aceitando e trabalhando para uma candidatura alternativa não petista. Para tanto, seria necessário grandeza e abnegação, por parte do PT, do Ciro e do próprio Lula.

    Corremos, então, o risco de uma vitória da despreparada Marina ou de um fascista como Bolsonaro ou Dória, ou qualquer outro. Será terrível, pois a eleição de alguém do campo democrático é condição imprescindível para o muito que se tem a fazer para reverter as terríveis consequências do golpe. É necessário anistiar os presos políticos (Dirceu, eventualmente o próprio Lula), reformar o judiciário e o MP, estabelecer vária CPI para investigar um monte de gente, seus acordos internacionais, etc., reverter a entrega dos nossos ativos ao capital internacional, talvez convocar uma constituinte, como adiantou o Lula, e por aí vai.

  2. O nome já é maior que o homem

    Batem no homem, e o nome cresce.

    Lula atingiu seu teto, diziam as doutas análises em junho… Lula já era, proclamam os antas (não é erro de concordância não) desde 2010.

    Como pode uma classe dominante ser assim tão cega a ponto de querer governar o país ignorando a grande massa da sua população? Pior que ignorá-la, desdenham, debocham, ridicularizam-na.

    A resposta lhes é dada da forma mais elegante. Elegância que as elites brasileiras nunca tiveram. “Batam no Lula, nós sabemos reconhecer quem nos representa e quem nos quer ver por trás”.

     

  3. Só sei que com esses

    Só sei que com esses oligarcas imbecis não é possível um acordo. Se sair acordo deve ser com objetivo de depois traí-los para eliminá-los.

    2016 provou que não dá pra conversar e muito menos confiar nesses animais.

  4. Sem sombra de dúvidas, o Lula é o candidato mais capacitado a re

    Sem sombra de dúvidas, o Lula é o candidato mais capacitado a reconstruir o país. O grande problema é que os setores comprometidos com a casa-grande não vão permitir. O STF e o TSE controlados pelo Gilmar Mendes, o MPF, o TCU, o Congresso Nacional, todos os veículos da mídia corporativa, os banqueiros e os rentistas, a classe média alienada, todos farão de tudo para que o Lula não vença a próxima eleição.

    E o pior de tudo, o PT e a esquerda não têm condições de reverter esse quadro desolador. Colocar todas as fichas na candidatura do Lula é uma aposta com 100% de certeza de fracasso. Não há no horizonte nenhuma força capaz de se contrapor a estrutura montada para a condenação do Lula. Assim como, não há perspectiva de o STF cumprir seu papel de guardião da Constituição. Também o Legislativo está completamente aparelhado pelas oligarquias que sempre mandaram nesse país e não querem a volta do Lula.

     A dependência do PT e da esquerda da candidatura do Lula inviabiliza a construção de alternativas para a reconstrução do país. O Lula não pode ser a única resposta do PT e do campo progressista. É fundamental a superação dessa limitação, dessa lógica binária do “ou Lula ou nada”.

    Todos os grupos comprometidos com a esquerda e o campo progressista deveriam trabalhar a formação de uma Frente Ampla capaz de agregar forças políticas em torno de um programa, ao invés de uma personalidade específica. Essa seria uma forma de superar as limitações impostas pela dependência da figura específica do Lula.

    Outra questão é o fato de a direita não ter discurso. O único argumento que possui é ser anti-Lula. Caso o Lula não concorra, a direita ficará completamente desorientada sem nenhum tipo de argumento. Se o Lula deixar de disputar as eleições de 2018, a lava jato perde seu objeto e sua razão de ser. E também forçaria o surgimento de novas lideranças na esquerda.

    Uma frente de esquerda que unisse o PT, o PCdoB, o PDT, o Lula e o Ciro Gomes poderia impor uma derrota histórica à direita em 2018. E poderia criar potência suficiente para eleger uma numerosa bancada na Câmara e no Senado capaz de assegurar a presidência das duas Casas. Dessa forma, possibilitaria a reversão de todo o desmonte do Estado brasileiro aprovados pelos golpistas, como as “reformas” trabalhistas, educacional e as privatizações.

    1. Lula deixou de ser uma

      Lula deixou de ser uma “personalidade especīfica . Lula transformou-se num mito e assim jå entrou para a história não só brasileira como universal.

    2. Lula é o menos pior

      No 1º mandato, lula tinha várias propostas, como criar o CNJ e presídios federais. E ele (ou o PT ou líderes da esquerda) não falou nenhuma até agora.

      Acho que o Haddad e o Ciro seriam os melhores presidentes para as próximas eleições, mas piores candidatos. O 1º já perdeu pro Dória e acho que perderia de novo. O 2º tem uma alta rejeição e fala m***a, outro dia disse que atirava na PF se fossem prendê-lo numa operação da lava-jato.

  5. Os métodos dos golpistas vão continuar, não nos descuidemos

    Mas não podem prender Lula, senão: não haverá guerra, nem batalhas, mas os que puderem se organizar ai sim, tem de ir às ruas.

    1. O Velho de Novo Vendido

      Exatamente.

      Esse é o candidato Novo, clone do Macron, inclusive físico, que a Globo irá lançar e a mídia coadjuvante virá atrás e que já começa aos poucos a aparecer em pequenos espaços nos orgãos de desinformação dessa gente, como agora esse 1% no Datafolha para lança-lo nas pesquisas (pode conferir que as próximas pesquisas o trarão fazendo parte das mesmas com o 1% de batismo).

      É um “ex” executivo do Itaú-BBA guindado a presidente do partido Novo, gestado no laboratório político da Casa dos Banqueiros, digo das Garças, por rentistas e banqueiros como Arminio Fraga, Bacha , etc., para substituir o PSDB quando esse viesse a apresentar sinais de fadiga do material, que é o caso, tanto que o partido Novo que estava na prateleira há 6 anos, foi registrado para a eleição de 2016, de olho na campanha de 2018, tanto que já providenciaram a transferencia de ativos do velho PSDB como, Luciano Huck e Bernardinho, para o novo PSDB, o Partido Novo, com o João Dionisio Amoêdo, como o Macron brasileiro. 

      Olho neles!

      Vem aí o Collor II, o NOVO.

  6. Violência revolucionária e fascismo

    O liberalismo ou totalitarismo financista é um câncer que produziu desigualdade e pobreza por todos os países por onde passou, da Alemanha ao EUA, além de estragos irremediáveis no Brasil.

    A questão que ninguém consegue prever, a partir da decomposição do Golpe de 2106, é quando o stress da desigualdade social se converterá em ruptura e violência. Não falo do fascismo que é subproduto das economias liberais, mas da violência revolucionária legítima.  Marilena Chauí abordou a diferença entre ambas em entrevista de 2013, por conta das Jornadas de Junho.

    A prudência e o bom senso recomendam adiar ao máximo esse ponto de não retorno, sendo relevante destacar que, no momento, Lula constrói-se como a única liderança política com legitimidade e maturidade para costurar um consenso amplo pela paz, como o socialista Mário Soares fez em Portugal décadas atrás.

    Ambos os lados precisarão aceitar a liderança de Lula, ambos precisarão aceitar suas perdas, ambos precisarão aceitar suas diferenças, ambos precisarão conter os focos de violência em seus flancos se decidirmos emergir dessa crise como um país grande, forte e coeso.

    https://revistacult.uol.com.br/home/pela-responsabilidade-intelectual-e-politica/

    E há uma espécie de incitação à violência por parte de alguns líderes de movimentos sociais e intelectuais de “esquerda”.

    Olha, existe a violência revolucionária. Ela se dá no instante em que, pelo conjunto de condições objetivas e subjetivas que se realizam, pela própria ação revolucionária, se entra num processo revolucionário. E, durante o processo revolucionário, a forma mesma da realização é a violência. O baixo da sociedade diz “não” para o alto e não reconhece a legitimidade do alto da sociedade. Esse é o movimento revolucionário, com operação de violência no interior dele, porque é um movimento pelo qual se destroem as instituições vigentes, a forma vigente da propriedade, do poder etc., para criar outra sociedade. E isso se faz com violência; não é por meio da conversa e do diálogo. Mas tem de haver organização. Primeiro a classe revolucionária tem de estar organizada e saber quais são as metas e quais os alvo físicos. Você não quebra qualquer coisa. Eu me lembro de uma frase lindíssima do Lênin em que ele dizia assim: “Há uma coisa que a burguesia nos deixou e que nós não vamos destruir: o bom gosto e as boas maneiras”. Ora, não estamos num processo revolucionário, para dizer o mínimo! Se não se está em um processo revolucionário, se não há organização da classe revolucionária, se não há definição de lideranças, metas e alvos, você tem a violência fascista! Porque a forma fascista é a da eliminação do outro. A violência revolucionária não é isso. Ela leva á guerra civil, à destruição física do outro, mas ela não está lá para fazer isso. Ela está lá para produzir a destruição das formas existentes da propriedade e do poder e criar uma sociedade nova. É isso que ela vai fazer. A violência fascista não é isso. Ela é aquela que propõe a exterminação do outro porque ele é outro. Não estamos num processo revolucionário e por isso corremos o risco da violência fascista contra a esquerda (mesmo quando vinda de grupos que se consideram de “esquerda”!).
     

  7. gente que pensa

    É esse tipo de análise, desenvolvimento de raciocínio e apresentação de argumentos que me trás aqui todos os dias. Irretocável e completo. Parabéns. É gratificante ler o que escreve gente que pensa.

  8. Que Lula é imbatível nas
    Que Lula é imbatível nas urnas todos sabem, e a direita sabe até mais que a esquerda por isso se esforça tanto para inviabilizá-lo juridicamente. Por isso é que deve haver uma formação de uma “frente ampla” de centro-esquerda en 2018. Depender única e exclusivamente da figura de Lula, com sua provável condenação, é correr um risco muito alto de ver a vitória de um centro anódino com Marina, ou uma direita provinciana neoliberal com Alckmin ou Meirelles ou ainda pior, ver a ultradireita raivosa, despreparada (e ainda ultraliberal!) de Bolsonaro ou Doria.

    1. Lula
      Tudo mentira, Lula e sua prole serão presos pelos militares, Data folha esquerdista que se cuide, fazendo propaganda pra um rato desses que afundou nosso país!

      1.   O governo do “rato” elevou

          O governo do “rato” elevou em muito o país. Como você é um rato não conseguiu olhar para cima para enxergar isso, preferiu bater panela para tirar da presidência uma pessoa honesta e dar espaço para o mafioso que nos governa.

  9. As pesquisas desses DataFolha…

    Para mim, as pesquisas desses institutos datafolha, ibope, cni etc, pertencentes à casa-grande não merecem a menor confiança pq nunca refletiram a verdade dos fatos, foram sempre manipuladas conforme as conveniências suas e de seus confrades.

    Outra revelação que o articulista faz e que deve causar preocupação ao povaréu, são os acenos de Lula pró casa-grande que, se permitirem-no vingar, será o erro fatal, o apocalipse pq não haverá como atender à ganância insaciável dos senhores do engenho de modo a sobrar mais que suas migalhas para os alforriados ao léu.

     

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