‘Mercadonte’, o atrasado, por Túlio Muniz.

O “Mercadonte” do título é para dizer que ele ocupa posição obsoleta, ultrapassada, tão pesada e desastrada como seria um mastodonte pré-histórico

‘Mercadonte’, o atrasado.

por Túlio Muniz.

Beira a hipocrisia a ‘provocação’ de Aloísio Mercadante, proferida em debate acerca da situação caótica da academia e da pesquisa científica no Brasil. É gravíssimo que a coligação em torno da candidatura Lula/Alckmin mantenha Mercadante na proa da elaboração do programa de governo da coligação. É inda mais grave que, como quem fala pela coligação, ele siga proferindo opiniões descontextualizadas acerca de quem trabalha na Educação. O “Mercadonte” do título é para dizer que ele ocupa posição obsoleta, ultrapassada, tão pesada e desastrada como seria um mastodonte pré-histórico caso fosse ressuscitado num laboratório repleto de tubos de ensaio.

Consta em matéria da Carta Capital de 09-07-2022: “Mercadante, naquilo que ele mesmo definiu como ‘uma provocação elegante’, fez novo pedido por mobilização: ‘Cadê o movimento estudantil e docente nas universidades para reverter esse desmonte? Por que não estão na rua? Por que não estão se levantando e expressando sua indignação? As universidades não terão recursos a partir de setembro, não há custeio para chegar ao fim do ano. Se todo mundo for se encolhendo e aceitando passivamente essa destruição institucional das universidade e da CT&I não haverá recuperação. Acho que é um momento muito dramático e importante. Precisamos que as universidades pensem para além dos  interesses corporativos e mostrem à sociedade a sua contribuição para o projeto de reconstrução nacional. Pensem em como se engajar nesse processo”. (em https://www.cartacapital.com.br/politica/mercadante-promete-mais-investimentos-em-ciencia-e-tecnologia-e-cobra-mobilizacao-do-setor/).

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É preciso uma condescendência imensa para ver alguma ‘elegância’ na tal provocação que denota, de fato, a imensa ignorância de Mercadante acerca do que fala. Ele segue alheio ao momento atual das categorias de técnicos, de docentes e de estudantes, que estão nas ruas ainda mais intensivamente desde o início deste ano. Ele desconhece que hoje dezenas de Universidades e Institutos Federais ou em estado de greve ou em vias de deflagrar movimentos?  E que muitas instituições só não o fizeram ainda para concluir semestre em curso, e não prejudicar ainda mais a condição de estudantes e docentes, que há dois anos bravamente contornam limitações para dar conta de não interromper aulas e formação em forma remota ou mista, por conta da pandemia?

Antes de proferir suas opiniões bizarras, podia ao menos se dar o trabalho de consultar as paginas dos dois sindicatos nacionais da categoria docente (ANDES e Proifes), que, aliás, são dois a se embaterem ha dez anos por ter sido Mercadante a consolidar o ‘racha’ no campo sindical de esquerda da categoria, dada a intransigência do MEC na gestão da greve de 2012.

Foi Mercadante, como ministro da Educação em 2012 e 2015 (Governos Dilma) que estraçalhou a carreira acadêmica e dividiu a categoria, que cortou verbas e investimentos, entre outros atos deletérios e violentos(ver ao final deste).  Sua falta de tato absoluta para Economia foi apontada por Luís Nassif em artigo recente (https://jornalggn.com.br/politica/para-entender-as-cabecas-em-torno-do-programa-economico-do-pt-por-luis-nassif), e na Educação e Ciência e Tecnologia Mercadante segue sendo uma ameaça, pois seu histórico frente ao MEC é desabonador, como foi em 2015 quando, sob sua chefia, o MEC chamou a PM do Distrito Federal para retirar à paulada o comando de greve docente do saguão do Ministério.

A propósito, e para encerrar, reproduzo comentário meu quando da publicação do artigo de Nassif:

“Mercadonte, o atrasado. Que as deusas e os deuses te ouçam, Nassif, e que me leiam, por favor, Lula, Padilha e os não-mercadontes. A última atuação de Mercadante na gestão pública foi à frente do MEC, quando das duas maiores greves da universidade pública (2012 e 2015). O MEC, sob os governos Dilma conseguiram um ‘bi-campeonato’ diante de FHC ( até então a maior greve ocorrera em 2001). Resultado: dividiram o movimento sindical de esquerda no ensino superior (Proifes e ANDES até hoje são antagónicos). Com endosso cúmplice do Proifes , corroeram e desmantelaram a carreira docente criando novos degraus de progressão para ingressantes, extinguiram direito de preservar 75% do último salário anterior a aposentadoria, limitando esta ao teto da previdência- sendo que Lula já havia ‘mordido’ 25% do direito a aposentadoria integral, porque, até FCH, era 100%. Mas Lula compensou investindo em expansão física-estrutural e em verba pra pesquisa e formação, e não houve sequer uma greve em seus governos, negociando, diferente de Dilma e Mercadante, que, em 2015, fechados em copas e sem dialogar com comando de greve, chamaram a PM do DF para expulsar à pancada manifestantes que ocuparam o saguão do MEC, e excluíram as Ciências Humanas do Ciência Sem Fronteiras. Antes que me apedrejem com a pecha de ‘defensor de privilégios’, convém lembrar que quem opta por carreira docente, em qualquer área, abdica de anos de atuação no mercado privado para se dedicar à formação de graduação e pós-graduação que pode levar até 15 anos no país no qual são raros os apoios para tal. Apesar de tudo, a academia foi uma trincheira contra o Golpe do Impeachment de 2016. E há quem estranhe que os reitores não eleitos nomeados por Bolsonaro tenham apoiadores e assessores mesmo que não sejam pessoas de direita… Portanto, restou aberta uma cicatriz resultante desses erros desastrosos de Dilma e Mercadante na Educação, que só se fechará com a reversão de medidas equivocadas adotadas em 2012-15, reestruturando a carreira docente, senão em patamares anteriores, ao menos não tão corrosivos como os atuais, que não apontam para perspectivas positivas futuras a quem nela almeja permanecer tendo nela ingressado após o desastre que foi Mercadante. Imaginem o que não seria (será?) da Economia”.

Túlio Muniz. Historiador (com Graduação e Mestrado pela Universidade Federal do Ceará), com Doutorado na Área de Sociologia (Pós-Colonialismo e Cidadania Global, pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra). É Professor Adjunto na Faculdade de Educação (FACED-UFC). Também é Jornalista Profissional.

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1 Comentário

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  1. Falta-me conhecimento e competência necessários para emitir opinião sobre quem está certo (ou errado) sobre esse assunto. Mas não me falta visão de conjunto para perceber que esse artigo nada produz além de discórdia, e completamente deselegante. Podemos questionar até Jesus Cristo, que preconizou disponibilizar a outra face quando uma é agredida, mas nada disse de como devemos proceder diante de uma nova agressão. Deixou-nos “no escuro”, calar ou revidar ? Que cada um proceda conforme seus ditames, mas sem perder a ternura, e sem fornecer munição ao exército adversário, sob risco de mais 4 anos de horror, horror, horror.

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