Nave Brasil em turbulência, por Nilto Tatto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Nave Brasil em turbulência

por Nilto Tatto

Parece que foi ontem. Em 2013 fomos surpreendidos com uma sequência de manifestações como há muito tempo não víamos. Em São Paulo, tendo à frente o Movimento Passe Livre, grandes mobilizações tomaram as ruas e praças contra o aumento das tarifas no transporte público. Rapidamente se estendeu por outras capitais e, pelo inusitado da época, ocupou generosos espaços nos meios de comunicação.

Estas manifestações que começaram com foco específico – não ao aumento da tarifa e transporte público de qualidade – rapidamente tomaram dimensão mais ampla, porém de maneira difusa, numa espécie de contra tudo e contra todos. Uma resposta à reação de boa parte dos governantes, que receberam os manifestantes com repressão, violência gratuita e prisões injustificadas. Em especial da parte do governo Alckmin, ficaram as marcas do autoritarismo e falta de diálogo, que resultaram em expressiva revolta na sociedade.

E 2013, por assim dizer, marca o início de um espantoso processo de radicalização das manifestações e mesmo de comportamento, que se estendeu à sociedade como um todo. O ano seguinte agudizou ainda mais esse fenômeno. O “não vai ter Copa” e, simultaneamente, o início do período eleitoral marcaram 2014. Tomam forma e conteúdo, então, as mazelas da intolerância. Ouso dizer que, a partir de então, cai por terra o mito da “cordialidade brasileira”, na definição teórica do saudoso Sérgio Buarque de Hollanda.

Apesar de mundialmente reconhecida como muito bem organizada, da Copa de 2014 ficaram para nós a vergonha do 7 a 1 e a frustração do hexa que não veio. Sobre as eleições, o grau de acirramento na disputa eleitoral levou a consequências que vivemos ainda hoje. E olha que “venderam” a ideia de que bastava cassar o mandato de Dilma para que tudo voltasse à normalidade política, econômica e social. Não voltou e, tudo indica, vai demorar a voltar.

Disputas políticas, debates de ideias, liberdade de expressão, atos públicos de protestos e reivindicações são manifestações próprias de democracias saudáveis e consolidadas. Mas os caminhos tomados, os métodos adotados vêm assustando em razão de sua crescente conotação fascista. Grassa em nosso meio, infelizmente, a violência, o preconceito, a perseguição, a intolerância. É a triste realidade: o espectro do fascismo ronda por aqui sob o olhar complacente das autoridades e, em alguns casos, sob seu próprio patrocínio.

Cresce a cada ano a violência no campo contra camponeses e populações tradicionais, como índios e quilombolas. E nos centros urbanos não é diferente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil registra a segunda maior taxa de mortalidade por agressão do mundo atrás, apenas, da Colômbia, país mergulhado numa guerra civil há mais de três decadas.

Em 2016 houve 61 assassinatos no campo. Este ano já são 37 casos. Na cidade, estudos do Instituto Sangari e do Fórum Brasileiro de Segurança, revelam: no Brasil o número de vítimas fatais por conta da violência supera as mortes de países em guerra, como Iraque, Siria e Afeganistão

É fato notório que a turbulência política desses últimos três anos tem levado nosso País a uma situação de completo desarranjo político, social e econômico. Sobretudo porque quem perdeu a eleição, em 2014, não aceitou a derrota e partiu para o vale-tudo em busca do “quanto pior, melhor”. Com isso, também têm sido violentados o estado de direito, as garantias civis, a democracia como valor fundamental e o respeito à Constituição.

Também nesse período, ao lado da retomada da “voz rouca das ruas”, como dizia aquele ex presidente também cassado, a operação Lava Jato. E a política entra em xeque de vez. O que, no início, esteve restrito a praticamente um só partido, hoje políticos em geral tornaram-se a “Geni” na sociedade. A exemplo de Donald Trump, nos EUA, uma suposta antipolítica ocupa espaço e vai assumindo contornos estranhos à democracia

Os valores e pressupostos da nossa Constituição estão sendo pisoteados e dilapidados, em nome de supostas mudanças, sem que a população seja consultada e tenha condição de expressar sua opinião e o que quer em torno de temas como reformas e, principalmente, o modelo de sociedade. Se de maneira plural e democrática ou estreita e intolerante com as diversidades.

É preciso, urgente, retomar a normalidade democrática e adotar ações efetivas para coibir e punir atos de violência de qualquer natureza. E isso passa, necessariamente, pela legitimidade e respeito ao voto popular, às instituições e à sociedade civil.

Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP) e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. POBRE BRASIL

    ….”Sobretudo porque quem perdeu a eleição, em 2014, não aceitou a derrota e partiu para o vale-tudo em busca do “quanto pior, melhor”. Com isso, também têm sido violentados o estado de direito, as garantias civis, a democracia como valor fundamental e o respeito à Constituição.”… Se fosse tão simples assim! O movimento de 2013, muito suspeito desde então, sabesse hoje (Haddad na Piaui), declara que Puttin e Edorgan já alertava a Dilma e Lula sobre  o patrocinio externo do movimento. Os mesmos que patrocinaram as “primaveras” em várias partes do mundo. Leiam o livro  Legados de Cinza a historia secreta da Cia (Pulitzer 2002 – Tim Wine), entenderão como tudo é planejado com muito tempo de antecedencia. Eles são estrategas preparados, sabem o que querem fazer no mundo inteiro: O que, Porque, Quando, Onde, Como, Quanto custa! No Brasil: tirar o Brasil do BIRCS (ok), tomar o Pré-Sal (ok) e privatizar a Petrobras (em andamento), Acabar com o Mercosul e a integração da AL (ok). O resto vem de cambalhacho para agradar a FIESP. O golpe de 1964 começa na pagina 90. 

  2. nave…

    Turbulência politica destes 3 anos nos truxe aqui? Não !!! Apenas revelou o que nunca tiivemos. Omissões, corrupções, incompetências e nenhuma representatividade apenas ficaram evidenciadas, foram expostas. O Rei está nu. E partidarismos e ideologizações apenas perpetuarão o atraso nacional, a falta de liberdade, transparência e democracia. O cadáver da Justiça é apenas consequência. A quem queremos nos  enganar a esta altura da História?  

  3. E Sobre o Inimigo Público Número Um, NADA!

    Impressionante!

    Até a estátua horrenda do Borba Gato, na Santo Amaro tão conhecida dos Tattos, sabe serem a organização  da família Marinho a coluna basilar de tudo que é operado para manter o Brasil colônia e patinando na desigualdade, que leva ao atraso e ao passado como futuro.

    No entanto sequer uma citaçãozinha sobre os inimigos públicos número um do Brasil é feita.

    Cacilda até quando essa paúra, afinal, que rabo preso tem a maior parte dos eleitos do PT com essa gente, já que estão sempre em silêncio obsequioso sobre os mesmos?

    Nem um pio, a não ser pelas exceções de sempre: Lindenbergh, Gleise, Damous, Pimenta e mais um ou outro gato pingado. 

    Até quando?

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