O golpe pode não terminar em 2018, mas se tornar mais violento e ilegítimo, por Jeferson Miola

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O golpe pode não terminar em 2018, mas se tornar mais violento e ilegítimo

[O banimento do Lula]

por Jeferson Miola

A situação política brasileira nunca foi tão imprevisível como atualmente; são tempos de enorme imponderabilidade. Denúncias e escândalos se sucedem vertiginosamente, a Nação é desmanchada com incrível ferocidade e o Estado de Direito está sendo violentado até a morte por ataques contínuos à democracia.

Isso tudo se desenrola num ambiente de exceção jurídica e de caos institucional em que viceja a atuação anômala dos não-eleitos – os empoderados sem voto popular – na arena da política: a mídia, o judiciário, ministério público, polícia federal, sistema financeiro e o grande capital.

Todo arsenal de análise da conjuntura e prospecção do futuro que era válido até antes do golpe de 2016, hoje já não oferece muita utilidade. Se é difícil estimar as tendências para o dia seguinte, prospectar saídas de médio e longo prazos para a situação atual é uma tarefa irrealizável.

Chegamos, por outro lado, a um ponto em que valores e referências como a sensatez, a decência e a legalidade perderam totalmente sentido. Quem, em sã consciência, poderia imaginar que o conspirador Michel Temer ainda continuaria ocupando o Palácio do Planalto mesmo após ser flagrado altas horas da noite, numa agenda secreta, combinando crimes com um empresário-corruptor?

A blindagem assegurada ao Temer pela Câmara dos Deputados, com o objetivo de impedir seu julgamento pelo STF, é um marco da desfaçatez, do cinismo e da hipocrisia reinantes. A mesma maioria corrupta [e titular de inigualável ficha criminal] que derrubou a Presidente Dilma, protegeu o chefe da cleptocracia flagrado praticando nada menos que os crimes de corrupção, organização criminosa, obstrução da justiça e prevaricação.

Com este vale-tudo da política e da justiça, toda classe de vilania e tirania passou a ser autorizada, aceita e validada. No Brasil golpeado e submetido ao regime de exceção, vige um “novo normal” à margem do Estado de Direito e da democracia.

Se tudo pode ser feito sem obediência às normas e às regras instituídas e, além disso, em afronta ao pacto social de 1988, então tudo estará autorizado, tudo estará validado, e o Brasil continuará o mergulho trágico nas profundezas do regime de exceção.

A partir do momento em que o establishment consumou, com a cumplicidade do STF, o processo fraudulento que derrubou uma Presidente honesta e inocente para colocar em seu lugar um conspirador corrupto, iniciou-se o festival de arbitrariedades e abusos que está longe de acabar.

Neste festival, encontra-se juiz de primeira instância atuando como acusador que aplica o direito penal do inimigo para condenar seu inimigo sem provas, e também se encontra juiz da Suprema Corte que, além de conceder liberdade a criminosos ricos com os quais mantém relações privadas, também atua como militante do PSDB e conselheiro político do réu entrincheirado no Planalto.

A oligarquia não desfechou o golpe de 2016 pensando em devolver a normalidade democrática ao Brasil em seguida, logo na eleição seguinte – no caso, na de 2018, se for mantida. Para assegurar que isso não aconteça, o establishment trabalha para impedir, por todas as maneiras e meios, que as forças progressistas, nacionalistas e de esquerda tenham chances eleitorais de reconquistar o governo do país.

A hipótese de impedimento judicial da candidatura do ex-presidente Lula ganhou força nos últimos meses. A dúvida que faz com que este recall do golpe [Lula banido] seja feito, é saber se a exclusão ilegal dele da eleição causará a comoção popular que se supunha. A elite já aposta que isso não deverá ocorrer.

A eleição de 2018 sem o Lula na urna eletrônica será uma eleição suja, manipulada; uma eleição com enorme déficit democrático. O governo eleito numa eleição como esta será um governo carente de legitimidade, que enfrentará instabilidade política e conflito social intenso.

A continuidade do desmanche selvagem do Brasil e o aprofundamento do pacto de dominação rentista-liberal é a opção de guerra da oligarquia dominante contra o povo brasileiro e o ideal de Nação.

Este processo, contudo, não se dará sem resistências que serão crescentes, em padrões presumivelmente mais radicais e duros que atualmente.

A tentativa de contenção da luta e da resistência democrática será na base da repressão, da violência institucional e da supressão de direitos civis que são típicos em Estados de Exceção.

Caso não ocorra uma drástica mudança da correlação de forças em favor do povo, o futuro imediato que se anuncia para o país não será de restauração democrática, mas de incremento da violência e da ilegitimidade do regime de exceção.

O banimento político do Lula, neste sentido, é essencial para a concretização do plano da oligarquia golpista. A caravana do Lula pelo Brasil, iniciada em Salvador ontem, 18/8/2017, consagra o vínculo épico e mítico do maior personagem popular com seu povo – a classe dominante demonstra faro estratégico quando decide exterminar Lula.
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Se Lula continuar crescendo

    Se Lula continuar crescendo nas pesquisas, o que parece que vai acontecer, dificilmente eles continuarão pensando no impedimento por via judicial. Até porque nesse nicho, o judicial, Lula tem defensores de alto nível, em número alto, aqui e no exterior. Lula tem que pensar seriamente (já estaria pensando ?) em se proteger fisicamente.

  2. Não me custa repetir o óbvio:

    Não me custa repetir o óbvio: Com a palhaçada que virou a “justiça brasileira”, vocês só vão ter democracia de volta se criarem uma espinha e pegarem em armas. É muito mais fácil o criminoso Gilmar Mendes dar ordens para massacrar a população revoltosa do que repentinamente criar uma consciência e cancelar o golpe de estado, então vocês tomar a iniciativa.

  3. Nada é tão ruim para que os bandidos não tentem piorar…

    Faz uns quatro meses que especulei aqui no blog que os bandidos que sequestraram o Brasil fariam uma parceria com o Pentágono para agredir o povo venezuelano .

    Pois bem, a minha especulação já está quase sendo confirmada oficialmente :

    OPERAÇÃO MILITAR DO BRASIL COM EUA NA AMAZÔNIA TEM VENEZUELA COMO ALVOAgência Brasil

    Em novembro, uma tropa do Exército dos Estados Unidos vai participar de um exercício militar inédito, com duração de dez dias, na tríplice fronteira amazônica entre Brasil, Peru e Colômbia, do qual participarão também os dois últimos países. Em maio, o Ministério da Defesa informou que a iniciativa e o convite partiram do Brasil. Mas, segundo artigo do jornalista venezuelano Manuel José Montañez, a operação foi uma imposição americana ao governo de Temer, através do embaixador Peter McKinsey,  com vistas ao estudo do teatro de operações no sul da Venezuela; o articulista menciona ainda uma resistência do comandante do Exército brasileiro, general Vilas-Boas, ao modelo da operação, que por isso estaria enfrentando pressões para renunciar ao posto .

    * Tomara que as tropas yankees não estuprem as nossas adolescentes indígenas .

  4. E isso, a resistência deve

    E isso, a resistência deve radicalizar o discurso, dar nome aos bois. O regime transformou-se numa ditadura do judiciário, que aprisiona políticos de esquerda e coloca no poder quadrilhas de laranjas do capital, enquanto a polícia federal protege narcotraficantes oligárquicos.  Tudo sob o guarda chuva da mídia orwelliana. 

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