O horror da tragédia palestina se assemelha ao holocausto
Por Maria Luiza Alencar Mayer Feitosa
A avaliação que faço (e, respeitosamente, aceito) é que a palavra holocausto seja reservada exclusivamente para o caso do extermínio em massa dos judeus, no segundo conflito armado europeu do século passado, em respeito à história e aos milhões de vítimas, para que nunca mais se repita. Para que nunca mais se repita.
O dicionário descreve o holocausto como “massacre de judeus e de outras minorias, efetuado nos campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial”.
Pondero, entretanto, que Lula não mencionou a palavra “holocausto”. Ele se referiu à tragédia ou a um horror semelhante, obviamente menor e mais circunscrito, mas igualmente letal e, desculpem, portador de características semelhantes.
O objetivo do Estado sionista de Israel (não do povo judeu) é idêntico ao do Estado Nazista alemão. Netanyahu pretende tomar o território de Gaza à custa da vida do povo palestino, por questões econômicas (a vertente econômica sempre em primeiro lugar), políticas e raciais, estas imiscuídas com a questão religiosa. Hitler queria de assalto o mundo.
Alguns podem dizer que são coisas diferentes:
1. Netanyahu não é Hitler porque Hitler foi o anticristo. Ah, não é? Tenho minhas dúvidas. Hitler incorpora um personagem que molda a extrema direita no mundo desde longe.
2. Hitler vociferava abertamente que queria exterminar os judeus enquanto Netanyahu apenas defende Israel do terrorismo do Hamas.
Desculpem, não há como esses dois povos viverem em paz. Nas relações internacionais, o mote do terrorismo encobre outros objetivos. O Hamas, infelizmente, atacou Israel, com virulência inédita, considerado que o controle de fronteiras e de tudo sempre fora de Israel, Estado militarmente forte, bancado pelos Estados Unidos, e provocou a investida final, tipo “final solution”, de Hitler. Horror de parte a parte, a massacrar pessoas que só querem viver suas vidas.
O fato é que Israel não existia ali. A ONU podia ter criado o Estado de Israel no Texas ou na Amazônia brasileira no início do século XX. Os próprios judeus chegaram a cogitar a Argentina, mas não, a resolução das Nações Unidas instalou Israel como entreposto dos EUA, ali no Oriente Médio, pertinho dos grandes interesses energéticos que movem o mundo. Desde 1948, a Palestina tem vivido em situação de conflito endêmico, porque uma guerra teve início no dia seguinte à criação desse novo Estado. E depois outra e outra e outra, todas vencidas por Israel.
Israel foi, pouco a pouco, usurpando mais e mais terras e acuando os palestinos. Restaram Gaza e Cisjordânia, onde fica Jerusalém oriental, capital da Palestina, distantes uma da outra, sem fronteira mesmo. Gaza é uma faixa parecida com a praia de Cabo Branco (maior, claro), espremida entre Israel e o Mar Mediterrâneo. Ali, na zona de maior conflito, cresceu o Hamas, partido político, hoje, grupo terrorista.
O que quer Netanyahu? Exterminar os palestinos de Gaza e anexar o território, assim, Israel terá toda a frente-mar, sozinho, de modo a bloquear totalmente o acesso da Palestina ao mar, que é caminho econômico para o Atlântico. Restará, por ora, a Cisjordânia, cercada de Israel por todos os lados.
Se até eu sei disso, por que as relações internacionais são tão hipócritas?
Por que não não assumem esse objetivo e retiram dali as famílias?
Penso que eles avaliam ser melhor aniquilar qualquer restinho de Hamas que possa existir entre eles.
Mas, frise-se, na verdade, a liderança do Hamas está fora de Gaza, no Catar, na Turquia etc. Então o Hamas vai continuar a existir, mas Israel terá dominado todo acesso ao mar. A novela com a Cisjordânia será outro capítulo. Vão dizer que o Hamas se alojou lá e recomeçar.
Lula tem toda razão em utilizar sua potência de fala, no meio de um encontro com importantes autoridades africanas, que conhecem o horror da espoliação internacional e do massacre colonialista, para provocar o tabuleiro do xadrez internacional, depois de perceber que não conseguiria resultado apenas apresentando propostas de paz pelos canais burocráticos. Deu muito certo. A chacoalhada parece que acordou até os EUA, que agora defendem o cessar-fogo. Lula é um ás das relações internacionais e se cacifa para o Nobel da Paz. Para já, representa no mínimo, a voz do Direito Internacional Humanitário, o que não é pouco.
Maria Luiza Alencar Mayer Feitosa é professora aposentada do programa de pós-graduação em Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora visitante do mestrado em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Bolsista do CNPq.
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