
Porque o voto em Lula tem que ser um “voto envergonhado”?
por Eduardo Ramos
Leio a matéria no GGN do dia 13/09/2022, abaixo, o link para quem quiser conferir:
Para meu espanto, o assim chamado “voto envergonhado”, que se explica na própria denominação, é maior em relação a Lula do que em Bolsonaro. Depois, parando e refletindo sobre o tema, entendi que fazia todo o sentido – em termos do que é a nossa sociedade nesse tempo que vivemos – que assim seja. Senão, vejamos:
1 – O tal “voto envergonhado” só existe quando o eleitor não tem um candidato que o represente, isso é óbvio. Escolhe entre “dois males”, em sua mente, seu julgamento. Opta pelo “mal menor”, ou, no caso dessa eleição ultra peculiar, temos não uma polarização entre Lula X Bolsonaro, essa é uma IDEIA FALSIFICADA DA REALIDADE: a polarização se dá entre os que idolatram Bolsonaro, o sentem até hoje em suas mentes e corações como um mito, de verdade, e os que o rejeitam com todas as suas forças, sentem nojo e repulsa do que ele representa, a barbárie, a violência, a selvageria, “o fundo do fundo do fundo do poço!” – o Brasil tornado um pária internacional, pior, um pária vexaminoso, degradado, humilhado. Pessoas minimamente lúcidas têm com clareza em si mesmas esse sentir convicto, e querem se livrar do ser demente-bestial “A QUALQUER CUSTO”. E é por esse prisma que devemos compreender o número imenso de “votos envergonhados” em Lula. Duas coisas corroboram essa tese: a primeira, é que o eleitorado de Bolsonaro não está inflado de modo intenso por “anti-lulistas”, é majoritariamente um eleitor apaixonado pelo seu mito, dele não sente vergonha alguma, ao contrário, o idolatra de modo tacanho e fanático, são como um rebanho que seguiria seu líder desfiladeiro a baixo, para a morte, (sentido figurado) se tal lhes fosse solicitado. O voto em Lula – e aí entra a segunda questão – não é formado “apenas” pelos tradicionais trinta por cento de pessoas simpatizantes ao PT e a Lula, alguns milhões de brasileiros, que festejaram e celebraram a Lava Jato, mas apesar de sua repulsa a Lula, tiveram e têm lucidez e valores pessoais ainda presentes o suficiente para enxergarem A DIMENSÃO DE MALIGNIDADE QUE BOLSONARO REPRESENTA PARA A HUMANIDADE, NÃO SÓ PARA O BRASIL, essas pessoas encorpam hoje o voto em Lula, APENAS e tão somente com esse objetivo: livrar o Brasil de Bolsonaro! E aí entramos no segundo tópico dessa reflexão.
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2) Como gosta de citar sempre em seus artigos o Wilson Roberto Vieira Ferreira no seu blog “Cignose”, com vários artigos publicados aqui no GGN, as chamadas “bombas semióticas” são uma trágica e permanente realidade na sociedade brasileira, manipulando, formando rebanhos sociais, inoculando nas pessoas exatamente os pensamentos e sentimentos desejados por quem detém o poder na grande mídia, criando bandos de fanáticos, cegos quase que totalmente à realidade “em si” – ou seja, multidões são jogadas numa espécie de “mundo-matrix”, onde vale a DISTORÇÃO, não a realidade.
Nesse mundo distópico, o ápice se deu, talvez mais até do que no bolsonarismo, no processo da Lava-Jato, quando quase que o país inteiro celebrou um herói – Sérgio Moro – seus aliados paladinos da Justiça – Janot, Dallagnol e os 11 justiceiros do MPF – e toda uma nação se viu hipnotizada, transtornada, envolvida em paroxismos doentios, onde o ódio a Lula, Dilma e o PT foram exacerbados num nível tão perverso, que provavelmente não temos outro período igual em nossa História para comparar.
O efeito dessas bombas semióticas é tão profundo, que mesmo eventos gigantescos como as revelações oriundas do VAZAJATO foram capazes de curar as pessoas de seus preconceitos, seus nojos, sua certeza íntima de que “o PT é uma quadrilha, e Lula, o chefe dos ladrões” (sic…).
É contra esse horror que lutamos, os totalmente lúcidos e conscientes de todas as perversidades e doenças sociais que varreram nosso Brasil nessa última década, Globo e Veja como dois tumores malignos espalhando metástases de seu ódio e distorções da verdade no corpo da sociedade brasileira – foram toneladas e toneladas de venenos diversos inoculadas “na veia”, nos brasileiros. Nenhum país passa por tal processo, de malignidade ímpar e incalculável, impunemente! Tanto é assim, que se boa parte dos “anti-Lula” são capazes de, AINDA QUE “ENVERGONHADOS”, nele votarem, para se livrarem do mal absoluto – Bolsonaro – vemos, tristes, perplexos e envergonhados, que mais de trinta por cento de nossos compatriotas votarão no ser bestial com convicção, alguns por semelhança mesmo, outros como fruto de toda essa manipulação literalmente, demoníaca!
A esses brasileiros que se enquadram no que o CEO da Quaest chama de “brasileiros com o voto envergonhado”, um alerta que sei absurdamente inócuo e impotente:
Tentem se lembrar, racionalmente, passado o tempo das paixões, o que foi a Lava Jato, quem é Sérgio Moro e quais eram seus objetivos, tentem se lembrar do que foi Lula em seus dois governos, quantos milhões tirou da miséria, como a economia bombava, empresas contratavam sem parar, milhões de jovens entrando na Universidade, a alegria que era viver nesse país, o Brasil tornado um país festejado e celebrado em todo o mundo, éramos o “algo novo” que não se via há décadas, estrangeiros vindo para cá em busca de oportunidades, meu Deus, quando tivemos isso em algum outro período?
Tentem se lembrar quem eram/são as personalidades nacionais e internacionais que endossaram e endossam Luís Inácio Lula da Silva e o respeitam, tentem se lembrar como ele foi recebido há uns poucos meses na Europa, por reis, primeiros ministros, presidentes, são todos tolos-cegos que não sabem “que o Lula é um chefe de quadrilha”, é isso mesmo???
Ninguém precisa ser um “lulista” para não se envergonhar de Lula. Eu mesmo, e já disse isso várias vezes, antes de se tornar esse surtado rancoroso deplorável, sempre votei em Ciro Gomes nos primeiros turnos em que participou. Não sou “petista”, apenas um simpatizante do partido e um simpatizante que admira e respeita Lula por tudo o que fez de bom, e o critica por seus equívocos.
Mas jamais eu direi, por tudo o que a História recente me mostrou, que votaria nele “um voto envergonhado”.
É um voto consciente de quem sabe que ele pode ajudar o Brasil a sair do pântano em que nos encontramos.
Não sinta vergonha por votar em Lula.
É o outro lado que deveria se sentir envergonhado!
(eduardo ramos)
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Voto envergonhado é do MERDAL e outros no mesmo patamar.