Senhor Engenheiro
Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Se a advocacia depende de escritórios e tribunais, se a medicina depende de clínicas e hospitais, se o ensino depende de instalações adequadas e, enfim, se o ser humano precisa de casa pra morar, podemos dizer que disso se segue a engenharia funciona como o melhor termômetro para se medir o desenvolvimento. Não que seja mais importante que qualquer outra atividade, naturalmente, mas a melhor medida.
O raciocínio é singelo? Sim, mas nem por isso menos verdadeiro. De uma forma ainda mais simples, podemos medir a temperatura do nosso desenvolvimento pelo percentual de engenheiros (civis, ambientais, de produção etc.) uberizados que nos transportam.
Por outra: Soberania e Democracia são conceitos muito ligados ao desenvolvimento, tanto quanto a felicidade do povo está em grande parte ligada ao crescimento econômico sustentável com distribuição de renda, por exemplo.
Por isso que, muito provavelmente, quando o império quis atacar nossa soberania, nossa economia e nossa democracia, interrompendo um ciclo virtuoso da economia brasileira (apesar das enormes críticas que tenhamos ao período) o fez atacando a nossa engenharia de ponta que, devido ao trabalho de muitos figurava entre as mais desenvolvidas do mundo, conquistando obras por todo o planeta.
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Não falo isso por ser engenheiro, evidentemente, falo para que reflitamos sobre isso para que possamos pensar juntos uma maneira de evitar que soframos um novo ataque tão exitoso quanto o que foi feito pela famigerada Lava Jato que, se tinha o mérito de atacar um problema crônico dos países em geral e notadamente do nosso, a corrupção, esteve em primeiro plano a serviço de interesses de governos e corporações estrangeiras e, com o apoio da mídia hereditária, desacreditou nossa política, desestabilizou nossa democracia, e destruiu nossas empresas multinacionais, as que traziam dinheiro de fora para dentro do país.
O que acontece hoje com a Petrobras e com a Eletrobras advém daquela infame iniciativa, que era regida à distância, mas executada em solo brasileiro, mais especificamente, em solo curitibano.
Importa aqui apontar que o alvo ter sido a nossa engenharia de ponta não se deve ao acaso, mas sim à absoluta certeza que seria a maneira de afetar de maneira mais generalizada o país como um todo.
O fato de a indústria da construção pesada e a engenharia nuclear ter estado no epicentro deste terremoto não deixa dúvida razoável, a nosso ver, quanto ao que aqui expomos. Nossos estaleiros desapareceram, nossas sondas para extração de petróleo do pré-sal não são mais feitas aqui, e sequer o direito à tecnologia exclusiva que aqui foi desenvolvida na área de sondas nos foi garantida. Do nosso submarino nuclear nem notícia mais recebemos.
Não teria cabimento a menor soberba, mas precisamos ter consciência da importância estratégica do nosso trabalho, para defender o interesse da classe, claro, mas também os interesses nacionais e, mais especificamente, do povo brasileiro.
Pretendemos aprofundar esse assunto, mas é relevante que tenhamos em mente esse primeiro ponto.
José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, advogado e doutor em engenharia. Dedica-se ao estudo da ecologia e meio ambiente, bem como aos modais de transporte, notadamente o ferroviário, para cuja bandeira milita.
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A questão do perder envolve, sobretudo, o quanto isso te afasta do ganhar. Claro que interesses adversos foram presentes no que se relaciona à operação LAVA JATO. Mas a defesa do interesse nacional jamais poderia ser feita, senão pela institucionalidade do País. Tanto as instituições públicas quanto as instituições privadas, cada uma dentro das delimitações cabíveis a cada uma. Como foi referido, o todo envolvido não consistia apenas com a construção civil, mas a várias outras atividades. A solidez de uma sociedade está na garantia que ela oferece de si mesma, ou seja, na sua capacidade capacidade de avalizar a civilização contida e sob responsabilidade dela. Ser capaz de decidir sobre suas próprias questões, demonstra que toda e qualquer questão abrigada nessa engenharia jurídico – legal, que é a nação brasileira estará também garantida. A sociedade representada e o Estado representante são conexões de uma mesma causa. Perder essa orientação dentro das subordinações e da paridade entre as partes do Estado/sociedade, sobrepõem vontades nem sempre aplicáveis ao melhor proveito do conjunto de toda a sociedade. Fazer a preservação de todo o patrimônio produzido pela execução dessas atividades, levando em consideração o que representava esse acumulado, em face da dimensão dessa participação. As dimensões das perdas diretas e indiretas, seriam suficientes para justificar e legitimar a manutenção dessas atividades. Buscar estágios mais avançados para todas as engenharias envolvidas, podendo abrir espaços a outras, seria de grande impulso ao País sem qualquer prejuízo no que diz respeito ao cumprimento das leis.