Série ‘Adolescência” não é tudo isso, por Ricardo Mezavila

A série trata de sexismo, machismo, cyberbullying, dentro de uma sequência claustrofóbica que mostra a transição dos adolescentes

Série ‘Adolescência” não é tudo isso

por Ricardo Mezavila

A enorme propaganda da série Adolescência, antes mesmo de estrear na Netflix, estourou a bolha das plataformas de streaming por assinatura e tornou-se assunto obrigatório em reuniões programadas e aleatórias.

Você viu a série Adolescência? Está entre as frases mais repetidas deste primeiro bimestre de dois mil e vinte e cinco.

A série inova mais pela técnica sofisticada do cinema, conhecida como plano-sequência, do que pelo roteiro ‘tudo do mesmo’ do excelente Stephen Graham. Há também de se elogiar a ótima atuação do jovem Owen Cooper.

Há vários fatores que tornam a série interessante, como a dificuldade e o despreparo que os pais têm diante da aceitação de que existe uma nova linguagem formada por emojis, símbolos, emoticons etc.

Há mais coisas entre corações vermelhos e carinhas tristes do que pode imaginar nossa vã tecnologia.

Outro fator é a relação bem estruturada no ambiente familiar, onde o pai protetor, a mãe amorosa e a irmã companheira, não serviram de acolhimento socioafetivo e impedimento para a personagem Jaime Miller, de 13 anos, assassinar uma colega de turma com várias facadas.

A série, que foi escrita sob a ótica da cultura europeia, com um cenário de uma unidade escolar suntuosa, inacessível para noventa e cinco por cento dos jovens brasileiros, é eficiente porque traz para o debate público uma nova e poderosa linguagem universal.

O dinamismo do plano-sequência absorve tempo que poderia ser utilizado mais efetivamente para falar sobre o ‘Involuntary Celibates’- Incel, que significa ‘Celibatário Involuntário’, que serve para descrever adolescentes homens, inseguros e tímidos, com dificuldade de socialização, que é a base para o cometimento do crime.

A série trata de sexismo, machismo, cyberbullying, dentro de uma sequência claustrofóbica que mostra a transição dos adolescentes do seio da família, do ambiente escolar, para as ruas sombrias das redes sociais.

É só mais um alerta para que os pais, os que possuem autocontrole, monitorem o que os filhos consomem no escurinho da alcova com cheiro de tênis e mochila.

Onde está a novidade para tanto estardalhaço? A série comercial não aponta para nenhum lugar desconhecido do comportamento da juventude contemporânea entre o oriente e o ocidente; tanto a psicóloga quanto o policial não acrescentam nada. O que há de novidade nisso?

Ricardo Mezavila, cientista político

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador