
do Ineep
Preço dos combustíveis: incertezas reafirmam tendência de alta no Brasil
por Adhemar S. Mineiro
O comportamento dos preços dos derivados de petróleo nos próximos meses estará assentado em fatores com elevado grau de incerteza. Ainda assim, é possível prever uma tendência de alta no Brasil, resultante principalmente de limitações internas ao aumento da produção e de um cenário internacional adverso, recentemente, ainda mais abalado em razão da escalada do conflito entre Israel e o Hamas.
Em maio deste ano, a Petrobras, buscando construir uma alternativa à rigidez da referência exclusiva no Preço de Paridade de Importação (PPI) vigente desde 2016, anunciou um novo critério de comercialização para os derivados. Essa mudança tinha como objetivo chegar a uma política de preços mais nacional, flexível e vinculada a uma estratégia de concorrência da empresa no mercado interno. Entretanto, a transição tem se mostrado complexa.
As limitações existentes na capacidade do Brasil para produzir derivados aumentam a dependência de importações e a suscetibilidade às flutuações dos preços internacionais. Somado a isso, nos últimos anos, implementou-se uma política que não expandiu o refino e desregulamentou a importação e exportação de derivados (priorizando a liberdade de movimentos de entrada e saída, e não a preocupação com o abastecimento interno), dificultando o suprimento de alguns combustíveis, em especial o diesel.
Nesse momento em que acontecem flutuações internacionais nos preços de óleo cru e de derivados, a nova política permitiu, por exemplo, reduzir os preços da gasolina, produto em que há maior capacidade de produção nas refinarias nacionais. Porém, em relação aos preços do diesel, derivado para o qual há menos flexibilidade para expansão de produção, houve alta.
Há, também, mudanças em curso que turvam o cenário futuro do mercado internacional de petróleo. De um lado, os investimentos em refino, em especial na China e na Índia, devem aumentar a disponibilidade de produtos (nos mercados internacionais) nos próximos anos. Contudo, de outro lado, pairam incertezas sobre a trajetória da economia global, em particular das duas maiores economias: China e Estados Unidos. Além disso, as turbulências geopolíticas resultantes da guerra na Ucrânia se acirram ainda mais com o novo conflito no Oriente Médio. A Arábia Saudita e a Rússia, dois grandes produtores de petróleo e gás, vêm limitando sua produção e sinalizam que nos próximos meses devem manter tais restrições.
No âmbito doméstico, as previsões para a economia brasileira variaram de uma estimativa de crescimento em torno de 0,5% no início do ano, para algo superior a 3% já na metade do ano. Um maior crescimento implica em um maior consumo de energia, e o petróleo está na base da política de transportes no país. Assim, uma possível expansão econômica resultaria em uma pressão maior sobre o mercado de derivados, sobretudo em relação ao diesel (o principal combustível de caminhões e ônibus).
Outro fator que gera incertezas é o comportamento da taxa de câmbio, que tem oscilado constantemente nos últimos meses. As variações registradas são de cerca de 3% para cima ou para baixo de R$ 5,00 por dólar; ora caem a R$ 4,85, ora sobem a R$ 5,15. De um lado, há um forte saldo comercial (recorde no primeiro semestre), que garante entrada de moeda estrangeira; mas, de outro, existem flutuações financeiras que também provocam movimentos de saída. Desse modo, se os fornecedores internos (Petrobras e refinarias privadas) seguem tendo os preços internacionais cotados em moedas estrangeiras como parâmetro, essas variações pressionam os preços.
Por fim, nos próximos meses, a reforma tributária será analisada e votada no Senado e também é incerto como ela pode incidir sobre os preços finais dos derivados. Todos esses elementos devem ser acompanhados de perto no próximo período, visando maior previsibilidade dos movimentos dos preços.
Adhemar S. Mineiro – Economista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.