MDB x União Brasil: a competição eleitoral para a Prefeitura de Boa Vista, por Roberto Ramos Santos

De acordo com a pesquisa Quaest, realizada entre 14 e 16 de setembro, Arthur Henrique tem 56% das intenções de voto

Parque do Rio Branco – Boa Vista

MDB x União Brasil: a competição eleitoral para a Prefeitura de Boa Vista

por Roberto Ramos Santos

          Das cinco candidaturas que disputam o cargo de prefeito de Boa Vista em 2024, duas sobressaem na preferência do eleitorado. São elas a do atual prefeito, Arthur Henrique, que tenta a reeleição pelo MDB, e a da deputada estadual Catarina Guerra, que compete pelo União Brasil.

            O atual prefeito, Arthur Henrique lidera a corrida eleitoral, na busca por um segundo mandato. De acordo com a pesquisa Quaest, realizada entre 14 e 16 de setembro, Arthur Henrique tem 56% das intenções de voto, enquanto Catarina Guerra registrou 19%. Os demais candidatos, Mauro Nakashima (PV), Lincoln Freire (PSOL) e Antônio Carlos Nicoletti (União), pontuaram até 2%. No momento da pesquisa, 15% dos entrevistados não haviam ainda decidido em quem votar para a prefeitura.

            A campanha de Arthur Henrique defende conquistas da sua gestão, procurando fazer os eleitores reconhecerem os benefícios recebidos durante o seu mandato, com um discurso focado na ideia de que Boa Vista não pode retroceder, buscando destacar às políticas públicas de fortalecimento do município, principalmente nas áreas de saúde, educação, infraestrutura e lazer. Ressalte-se que, segundo a Quaest, 64% dos entrevistados avaliaram como positiva a atual gestão.  hEntre os candidatos, ele tem a menor taxa de rejeição, de apenas 13%.

            Na disputa pelo voto, Arthur Henrique conta com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, pela aliança com o PL, indicou o candidato a vice-prefeito. O escolhido foi o tenente-coronel do Exército e médico ortopedista Marcelo Zeitoune (PL). A cidade de Boa Vista tem se constituído num forte reduto bolsonarista. Em 2022, Bolsonaro obteve 79% de votos no segundo turno da eleição presidencial. Entre as capitais do país, Boa Vista foi a que deu o maior percentual de votos à candidatura de Bolsonaro.    

            Na pesquisa Quaest realizada em agosto, 44% dos eleitores entrevistados preferiam que o candidato a prefeito de Boa Vista fosse aquele apoiado por Jair Bolsonaro. Apenas 5% consideravam favorável que a aliança fosse com o presidente Lula.   

            Arthur Henrique conta ainda com o apoio da ex-prefeita de Boa Vista Teresa Surita e do ex-senador Romero Jucá, ambos do MDB, que esperam, com a vitória de Arthur Henrique, manter o domínio do partido na capital. O MDB é hegemônico em Boa Vista desde 2013.

            Para levar a disputa municipal para um segundo turno, a campanha de Catarina Guerra não poupa críticas à gestão de Artur Henrique, principalmente em relação aos problemas de infraestrutura dos bairros e ao serviço de saúde do Hospital Infantil Santo Antônio e das Unidades Básicas de Saúde. Também, tenta vincular o nome de Arthur Henrique ao de Romero Jucá como forma de transferir para ele a rejeição dos eleitores da capital ao nome de Jucá. Nas duas últimas eleições para o Senado, Romero Jucá perdeu a disputa em Roraima.

            O principal apoiador de Catarina Guerra é o governador Antônio Denarium (PP), que tem procurado movimentar a máquina política estadual pela sua candidatura. O governador é adversário político de Romero Jucá e de Teresa Surita, que disputou contra ele o governo do estado em 2022. Ao dar apoio político ao nome de Catarina Guerra no município, Antônio Denarium tenta romper com a tradição na qual o grupo político que controla o governo de Roraima não controla a Prefeitura de Boa Vista. Denarium tem forte prestígio eleitoral em Boa Vista.

            Dois fatores podem, ainda, influenciar o resultado da eleição, principalmente se a disputa não for encerrada no primeiro turno. O primeiro fator é uma eventual cassação da candidatura de Catarina Guerra pelo TSE. Isto porque a justiça eleitoral do estado decidiu, em 10 de setembro, pela retirada do seu partido da disputa majoritária. Como o acórdão do TRE-RR não era definitivo, Catarina Guerra recorreu da decisão no TSE, e o ministro Nunes Marques concedeu liminar autorizando sua participação no pleito. O pleno do TSE não havia julgado o caso a 5 dias da eleição.

            O segundo fator refere-se também a uma possível cassação do mandato do governador Denarium. Ele teve, durante 2023 e no primeiro semestre de 2024, o mandato cassado pelo TRE-RR por abuso de poder econômico e político nas eleições de 2022. Em pleno exercício do cargo, Denarium aguarda decisão que será proferida pelo TSE.

            Embora a competição eleitoral se aproxime do final, com Arthur Henrique apresentando chances muito maiores de vencer o pleito majoritário, o grau de incerteza quanto ao resultado continua, pois o retrato indicado pela pesquisa pode ter se alterado nas duas últimas semanas, e o TSE pode ainda provocar uma reviravolta na disputa.

Roberto Ramos Santos é professor de Ciência Política da Universidade Federal de Roraima e pesquisador do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal – LEGAL, e do Núcleo de Pesquisas Eleitorais e Políticas da Amazônia – NUPEPA/UFRR.

Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).

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