
Semifinais eleitorais: o que dizem as pesquisas sobre as eleições em Fortaleza?
por Monalisa Torres e Alexandre Landim
A menos de uma semana do primeiro turno, o cenário eleitoral de Fortaleza se apresenta como um dos mais competitivos da história recente. Contudo, as últimas pesquisas indicam a consolidação de uma tendência já cogitada por analistas atentos. O eleitor assiste a uma espécie de “semifinal” entre os dois principais candidatos da direta – André Fernandes (PL) e Capitão Wagner (União) – e os dois da esquerda – José Sarto (PDT) e Evandro Leitão (PT). Em uma eleição de ruptura, dada a baixa aprovação do governo Sarto, o atual prefeito e o veterano em eleições Wagner derretem nas pesquisas. Já os novatos Fernandes e Leitão crescem, ocupando espaços à direita e à esquerda.
Semifinal à esquerda: a disputa entre as máquinas
Apesar dos quase 17 milhões investidos, o maior aporte financeiro entre as campanhas deste ano em Fortaleza, Sarto amarga um fraco desempenho entre os candidatos competitivos. O prefeito viu a sua candidatura cair de 22% para 18% das intenções de voto no levantamento da Quaest e de 23% para 15% no Datafolha, em pesquisas de agosto e setembro.
Com a pior avaliação entre os prefeitos de Fortaleza dos últimos 24 anos – 21% de ótimo/bom (Datafolha) e 67% de desaprovação (Atlas) – o marketing pedetista escolheu uma estratégia centrada na imagem de “zoeiro”, com publicidade humorística e direcionada ao eleitor jovem da periferia, os “vetim”.
Porém, o simulacro não foi bem aceito e Sarto perdeu 6 pontos percentuais na faixa de 16 a 34 anos, segundo a Quaest. Outro gargalo é a impopular “Taxa do Lixo”, cujos adversários prometem extinguir. Assim, o pedetista viu a sua rejeição aumentar de 43 para 53% no levantamento da Quaest, e de 33% para 38% no Datafolha, a maior entre todos o os concorrentes.
Na falta de uma marca positiva de administração, o PDT apelou para recall positivo do ex-prefeito Roberto Cláudio. Além disso, Sarto tem movido um arsenal de críticas aos adversários, sobretudo a Fernandes, emulando o #EleNão, a fim de conter o avanço do direitista. O resultado foi o aumento de 6 pontos na rejeição de Fernandes que, ainda assim, possui a menor rejeição: 32% (Quaest).
Disputando o mesmo eleitorado de centro-esquerda, Leitão (PT), explora a trindade “Elmano, Camilo e Lula” em seu HGPE. A estratégia tem dado certo: Leitão, que era desconhecido por 38% dos eleitores diminuiu para 20% (Quaest). Além disso, houve o crescimento de 14% para 23% nas intenções de voto da Quaest e de 8% para 25% no Datafolha.
Semifinal à direita: autofagia da direita alencarina
Veterano em disputas majoritárias em Fortaleza, Wagner (União) tem amargado as armadilhas do reposicionamento de imagem. O ex-militar construiu trajetória política na direita com forte apelo à pauta da segurança pública, agenda cara ao fortalezense. 81% (Atlas) consideram esse o principal problema da cidade. Para 2024, no movimento conhecido como catch all Wagner tenta conquistar votos também ao centro e à esquerda. Para isso, fez acenos ao segmento, tecendo elogios à ex-prefeita Luizianne Lins (PT).
Porém, a tática se mostrou duplamente equivocada, além de perder votos entre eleitores de Lula, Wagner abriu uma lacuna na direita mais radical, agora ocupada por Fernandes.
Em agosto, Wagner liderava as pesquisas da Quaest e do Datafolha (31% e 29%) e desde então apresenta tendência de queda. Atualmente possui 18% e 17% das intenções de voto, respectivamente.
Jogando para reaver o eleitorado direitista, o ex-militar apostou em propaganda negativa ao recuperar vídeos polêmicos da época em que Fernandes era youtuber e questiona o eleitor: “você sabe quem é André Fernandes?”.
Por sua vez, o estreante em eleições majoritárias, Fernandes (PL), inicialmente ancorou sua candidatura no eleitor bolsonarista. Agora, líder, aposta em uma imagem moderada e “oculta” o ex-presidente de seu HGPE. Vale lembrar que uma das primeiras agendas do candidato foi uma moto carreata com Bolsonaro.
A maioria dos eleitores de Fernandes dizem se informar sobre política em redes sociais, demonstrando que o “efeito Pablo Marçal” tem potencial de se repetir em outras capitais. O candidato é o mais visto no TikTok de todo o Brasil, com mais de 21 milhões de visualizações.
Conduzindo sua campanha até agora intacta, o jovem do PL viu o seu nível de desconhecimento cair de 50% para 29% (Quaest) enquanto cresceu de 14% para e 27% as intenções de voto, segundo o Datafolha. O perfil de seu eleitorado é composto em grande parte por homens jovens com ensino superior incompleto e abriu boa vantagem sobre o eleitor evangélico.
Final
As pesquisas divulgadas até a escrita deste artigo apontam para um consistente crescimento de Fernandes (PL) e Leitão (PT), acompanhado da queda de Wagner (União) e Sarto (PDT), indicando a troca de guarda dos principais nomes da esquerda e da direita na cidade. Assim, passadas as semifinais na capital cearense, o eleitor terá um segundo turno agendado pela polarização Lula versus Bolsonaro. E pelo visto, a decisão ocorrerá nos minutos finais, uma vez que o Datafolha tem mostrado o empate entre os candidatos no segundo turno (43%) e a Quaest a ligeira vantagem de Fernandes (43% a 39%). Resta saber se Leitão terá forças – e tempo – para conquistar mais votos em uma eleição marcadamente de ruptura.
Monalisa Torres é professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (PPGPP/UECE), analista política e pesquisadora vinculada ao LEPEM (UFC).
Alexandre Landim é professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e autor da tese de doutorado “O Deus das urnas”. [email protected]
Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).
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