A direita vence as eleições de 2024 e a esquerda comemora ‘representatividade’, por Vitor Hugo Fernandes

Os principais partidos da direita e extrema-direita no Brasil, vão comandar 70% dos municípios brasileiros.

A direita vence as eleições de 2024 e a esquerda comemora ‘representatividade’

por Vitor Hugo Fernandes

As eleições municipais sempre tiveram características próprias. Sempre foram as menos politizadas, onde, nas últimas duas décadas, pelo menos, parece eleição para síndico de prédio. Aí, obviamente, o poder econômico da burguesia e dos coronéis da política pesam mais.

 A direita sempre venceu as eleições municipais devido ao seu poder econômico, particularmente no interior do país. Em grande parte das cidades do interior Brasil, sequer tem candidatos de esquerda para as prefeituras. Então, para avaliar a vitória ou derrota de um campo político, temos que observar quem cresceu e quem diminuiu em votos e em prefeitos e vereadores eleitos.

 Com o retorno de Lula ao governo federal, era esperado que a esquerda voltasse a crescer nas eleições municipais, já que o apoio do governo central é fundamental para as campanhas às prefeituras.

 Vejamos então o que aconteceu comparando o resultado das eleições municipais de 2020 para as de 2024 (no primeiro turno):

 Os principais partidos da direita e extrema-direita no Brasil, vão comandar 70% dos municípios brasileiros. Somados, PL, Republicanos, PSD, PP, MDB e União Brasil, vão comandar esses 70% de municípios.

O PL de Bolsonaro, de extrema-direita, foi o partido que mais cresceu em votos, saindo de 4,7 milhões para 15,7 milhões de votos, crescendo 236%. Com relação a prefeitos eleitos, saiu de 334 para 512. Um crescimento de 53%.

 O PSD de direita liberal, saiu de 10,6 para 14,5 milhões de votos, crescendo 36%. Com relação a prefeitos eleitos, subiu de 657 para 882. Um crescimento de 34%.

 O MDB, de direita liberal, saiu de 10,9 para 14,4 milhões de votos, crescendo 32,5%. Com relação aos prefeitos eleitos, subiu de 793 para 856. Um crescimento de 8%.

O Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, tem tido extraordinário crescimento nas últimas eleições e saiu de 5 para 7,4 milhões de votos, crescendo 46%. Com relação aos prefeitos eleitos, subiu de 213 para 436. Um crescimento de 223%.

Já o PT, saiu de 6,9 para 8,9 milhões de votos, crescendo 28,2%. Com relação aos prefeitos eleitos, subiu de 182 para 248. Um crescimento de 36%. Mesmo com esse crescimento, se observarmos as perdas da última década, o PT está longe do que foi há poucos anos. Em 2012, o PT elegeu 11% do total de prefeitos; em 2016, caiu para 5%; em 2020, para 3% e agora subiu para 4%.

O PDT teve forte queda, saindo de 5,3 para 3,2 milhões de votos, perdendo 40% dos votos que teve em 2020. Com relação aos prefeitos eleitos, caiu de 315 para 149. Uma perda de 53% com relação a 2020.

 O PCdoB teve forte queda, saindo de 1,2 para 0,3 milhões de votos, perdendo 76% dos votos que teve em 2020. Com relação aos prefeitos eleitos, caiu de 46 para 19. Uma perda de 61% com relação a 2020.

 O PSOL saiu de 2,2 para 2,6 milhões de votos (dos quais 1,7 vieram de Guilherme Boulos em São Paulo), um crescimento de 16%. Com relação aos prefeitos eleitos, caiu de 5 para 0 prefeitos eleitos, incluindo Belém (Pará), que foi perdida nessas eleições.

Como podemos observar, as derrotas no campo da esquerda são significativas. O bolsonarismo segue firme e forte; a direita liberal, chamada de “centrão”, ampliou mais ainda a sua força, forçando o PT a se render mais ainda à chantagem por cargos e emedas parlamentares.

 Paralelamente à vitória eleitoral e política da direita, a esquerda, focada o identitarismo e ignorando o quadro geral, parece se contentar em aumentar a “representatividade”. Se comemora (com razão), a eleição de mais LGBTs, PCDs, mulheres, negros, etc. Mas não se faz a crítica do quadro geral de para onde a esquerda brasileira está caminhando. Por que estamos encolhendo? Por que tantos jovens periféricos votaram em Pablo Marçal em São Paulo? Parece que o quadro geral, da esquerda perdendo força ou não conseguindo nem de longe se recuperar do tombo pós 2016, não importa, desde que tenha “representatividade”.

Vitor Fernandes – Cientista Social (UERJ). Mestre em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ)

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2 Comentários

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  1. Infelizmente o sucesso da política econômica do lula não está se m refletindo.na conscientização da população. O governo está se comunicando muito mal, o ministro pimenta desapareceu após porto alegre e o presidente esqueceu do projeto de falar diariamente.

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