Braga Netto é a maior ameaça à democracia, por Luis Nassif

A maior ameaça não é Bolsonaro: é o Ministro da Defesa Braga Netto.

Novos episódios comprovam que as eleições deste ano serão as mais agitadas da história, à medida que fique definida a derrota de Jair Bolsonaro.

Ontem, na matéria Xadrez do golpe de Bolsonaro em andamento, relembramos série de reportagens mostrando a maneira como Bolsonaro está armando seus correligionários. Desde o primeiro dia de governo, os Bolsonaro deram início a uma estratégia política de armar seus aliados – das milícias aos Clubes de Caça e Tiro. Não apenas expressaram essa intenção em tuítes, como houve um desmonte de todos os processos de controle das armas, sob beneplácito do Exército, a quem caberia o controle através da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados, do Comando Logístico do Exército Brasileiro.

A pretexto de simplificar a importação, eliminaram-se as formas de rastreamento das munições, permitiu-se a importação de armas privativas do Exército, criando-se a figura do “colecionador” – autorizado a importar quantidades enormes de armamento.

Até ali, ficava claro a montagem de milícias armadas, podendo criar incidentes armados, a exemplo do que ocorreu com os tiros desferidos contra o ônibus que transportava Lula, antes de sua prisão. Mas, sem adesão das Forças Armadas, nenhum golpe seria bem sucedido.

Nos últimos dias, no entanto, afloraram episódios mostrando uma tensão gradativa das instituições. De um lado, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, proferiu duro discurso garantindo o combate à violência nas eleições e a defesa da democracia.

Do outro lado, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso, fez dura crítica a Bolsonaro, pelo vazamento de dados sobre tentativas de hackers de invadir os sistemas eleitorais.

A chave para entender a manifestação de Barroso são informações recentes, dando conta de que os questionamentos de Bolsonaro em relação às urnas foram alimentados diretamente pelos militares que atuam no governo. 

Reportagem de Rubens Valente, na UOL, baseada no inquérito da Polícia Federal, mostra que as informações sobre as supostas irregularidades nas urnas, nas eleições de 2018, foram levantadas por um coronel da reserva do Exército. Eduardo Gomes da Silva, e um empresário de São Paulo, Marcelo Abrileri. As suspeitas – baseadas em dados incorretos e desmentidos pelo TSE – foram levadas até o comandante do Comando Militar do Sudeste, general Luiz Eduardo Ramos, atualmente na Secretaria Geral da Presidência.

Gomes da Silva era “oficial de inteligência” do CMSE. Em 2020 passou para a reserva e atualmente é secretário especial de Modernização do Estado na Secretaria comandada pelo general Ramos.

coronel Gomes da Silva

Essas relações reforçam as suspeitas, manifestadas por alguns estudiosos da questão militar, de que a inteligência do Exército teve papel ativo na campanha de Bolsonaro, utilizando princípios da “guerra híbrida” – na qual as redes sociais têm papel central.

No governo, o agente central dos ataques às urnas é o general Braga Netto, Ministro da Defesa. Ele foi o interventor de fato no Rio de Janeiro, na Operação de Garantia de Lei e Ordem do governo Temer. Apesar dos poderes absolutos de interventor, foi incapaz de afrontar os interesses das milícias ou, ao menos, coordenar investigações eficazes sobre a morte da vereadora Marielle Franco.

No dia 3 de agosto de 2021, na reportagem “Xadrez de como Braga Netto tentou operação Davati quando interventor no Rio” mostramos como Braga Neto atuou na intervenção.

“Segundo reportagem de A Pública, Braga Netto fechou R$ 140 milhões em contratos sem licitação. Uma das compras foram 14 mil pistolas Glock para a Polícia Militar do Rio de Janeiro. O principal divulgador  da Glock passou a ser  Eduardo Bolsonaro. A compra antecedeu sua campanha, mostrando que as teias estavam sendo tecidas por Braga Netto mesmo antes da ascensão de Bolsonaro.

(…) Na 5a feira, Brasil de Fato publicou reportagem mostrando acordo fechado por Braga Netto com a CTU Secutiry, para compra de coletes de segurança, no período em que comandou a intervenção no Rio de Janeiro. 

Primeiro, Braga Netto armou a compra de coletes com dispensa de licitação no valor de R$ 40 milhões. Aparentemente, a jogada foi suspensa após análise da Secretaria de Controle Interno da Presidência da República”.

A CTU era uma empresa de segurança em dificuldades financeiras. A sigla significa Academia Federal da Unidade de Combate ao Terrorismo. Era presidida por Antonio Emmanuel Intríago Valera, o Tony Intriago, um venezuelano conhecido como Tony Intríago e, agora, investigada pela participação no assassinato do presidente do Haiti. Os contatos entre ambos provavelmente se deram por ocasião do envio da Força da Paz brasileira ao Haiti.

Tony Intríago

A firme e surpreendente posição dos dois Ministros do STF – Fux e Barroso – deixa nítido que acordaram para os perigos que a democracia terá pela frente.

A maior ameaça não é Bolsonaro: é o Ministro da Defesa Braga Netto.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Minha sensação é de que se o Paraguai, Uruguai e Bolivia declararem guerra ao Brasil, eles ganham em 3 dias

    Esse milicos so provam a deformação do ensino militar. Muito tiro e pouco conhecimento.

    Aposto que todos sabem cantar o Hino Nacional, mas se forem postos num cruzamento para comandar o trânsito, vão haver vários acidentes.

    Na época da Ditadura diziam que a milicada era nacionalista, os de hoje são entreguistas.

  2. O pior é que esta gente de farda, junto com os seguidores de Bolsonaro, não têm a mínima noção do que é uma Democracia. Agora que estão no poder, vão defender com todos os meios o seu status , e justificam a sua permanência no poder em questões morais de família, em questões religiosas, em questões ideológicas de anticomunismo. Não lhes passa pela cabeça que governar é promover o desenvolvimento do país, reduzir a desigualdade social, viabilizar o acesso de todos os cidadãos à educação, à saúde e à justiça. São todos inocentes úteis, quando não parceiros, dos interesses estrangeiros de exploração e saque das riquezas do país. Como os idiotas, burros e ignorantes têm absoluta certeza de que somente eles estão certos – pois a dúvida na certeza absoluta é uma virtude dos mais inteligentes – eles vão usar de todos os meios para se manter no poder, inclusive a força. As regras democráticas não fazem parte da sua visão de mundo.

  3. A principal ameaça não é nenhum desses sujeitos. Eles apenas estão forçando a barra para que uma instituição do Estado,no caso,as Forças Armadas e,mais nitidamente, o exército brasileiro, sirvam de capacho,como estão servindo,aos falcões do norte,cujo as asas seriam irremediavelmente cortadas se o Brasil assim não se portar, adiantando a bancarrota imperial que inapelavelmente virá.

  4. Infelizmente grande porção de brasileiros optou por um miliciano em detrimento de um Professor.
    É conhecido que Bolsonaro sempre pertenceu a grupos milicianos no Rio de Janeiro.
    Recomendo leitura de “A República das Milícias – dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” autoria de Bruno Paes Manso, especialmente as páginas 33, 35, 36, 37, 41, 42 e 43.

  5. Não me venha dizer que por preocupação com os desígnios do país, não querem é perder o protagonismo e a boquinha dos cargos no governo, desgraça – toc toc toc na madeira para não entrarmos, de dessa gente não ter guerras para se ocupar, daí ficam nessa chatice.

  6. Se a Informação é, hoje, um dos principais ativos – e, em alguns sentidos, o principal – do poder, é de supor que o Braga Neto, interventor no RJ durante o governo Temer, tenha o Bolsonaro no bolso (perdão pelo trocadilho involuntário, mas infame).
    O General, a menos que a Inteligência do Exército esteja nas mãos do Agente Somos e do Agente Tamos, sabe absolutamente tudo sobre o presidente miliciano. E, um dia, se for necessário desfazer-se do jumento presidencial, não o fará publicamente, o que implicaria assumir que prevaricou (ainda que, segundo o nosso Poder Judiciário, agentes da direita – leia-se, do Mercado -, ainda que prevariquem, não prevaricam, como a PF deixou bem claro, ainda outro dia, no caso Covaxin).
    Não. O Bozo será chamado, privativamente, e lhe serão dadas as alternativas: sumir, e aceitar o ostracismo, ou morrer.
    Não foi assim que fizeram com JK, Jango, e Lacerda?

  7. O país não está pacificado. Simples.
    O golpismo permanece vivo na mente dos protagonistas de 2013-2016.
    Além do Departamento de Estado americano permanecer super vigilante sobre o aqui ocorre, dez em cada dez ricos brasileiros ou destes puxa sacos permanecem com o programa “Lula Zero”. E só há uma única esperança de redemocratização brasileira e consequente salvação da civilização ocidental hoje em Lula. Seria a retomada do equilíbrio mundial, onde o Brasil é hoje a única opção a fazer contraponto aos três gigantes. Mas nem o império, ainda o maior deles enquanto a super bolha não estoura quer, e muito menos a sociedade escravista brasileira vai permitir.
    “Que Deus tenha piedade deste nação!”

  8. Não esquecer que o mamateiro general Braga Neto está se auto-nomeando vice na chapa do genocida Bolsonaro, obrigado a aceitá-lo disfarçado como “sua preferência”. Assim, Braga Neto se tornará ator político muito importante nas eleições, cuja voz terá forte apoio e toda a repercussão da mídia golpista, ainda mais se, com possível desistência forçada do Genocida – em troca de anistia para seus crimes e os da famiglia -, se tornar o candidato a presidente da banda podre milico-miliciano-fascista atualmente no poder.

    Não se duvide de que, caso esteja na chapa (e mesmo que não esteja), atuará forma violenta e eficiente para desestabilizar Lula e a esquerda no processo eleitoral, usando todo o arsenal de mentiras característico do exército de ocupação do Brasil e o imenso banco de dados de (já) quase 7 anos de arapongagem político-militar do governo Temer-Bolsonaro, forjado pelas tropas subordinadas de coronéis a soldo de Etchegoyen, Braga Neto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, toda a praga militar filhote e herdeira do golpista general Villas Boas e da ditadura estupradora, torturadora e assassina de 64.

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