Brasil muda tom após Grupo de Lima discordar de intervenção na Venezuela

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A portas fechadas, Mourão e Ernesto Araújo apoiavam EUA na intervenção. Após negativa da maioria do grupo, mostraram lado "pacífico"

Vice de Trump, Mike Pence, à esquerda, e ao centro, Juan Guaidó, acompanhando Grupo de Lima – Foto: Reuters

Jornal GGN – A tão esperada reunião do Grupo de Lima foi concluída, nesta segunda-feira (25), com a assinatura pelos governos da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai e Peru de uma declaração que “exige a saída imediata de Nicolás Maduro”, mas por maioria posicionaram-se contra a retirada do mandatário venezuelano por meio de força e de intervenção militar.

No encontro, também esteve presente o autodeclarado presidente da Venezuela, líder da oposição, Juan Guaidó, e o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que sinalizou que o país norte-americano estaria disposto a uma medida mais radical. Disse que, “para a gestão de Donal Trump, todas as opções estão sobre a mesa”. 

O bloco, como já era esperado, criticou o regime chavista e as barreiras impostas por Maduro nas fronteiras com os países, como Brasil e Colômbia, resultando em confrontos e feridos, que tentavam entrar no país com a chamada “ajuda humanitária”. Apesar de essa ajuda incluir alimentos e remédios destinados aos opositores, liderados por Guaidó, os países negaram que haveria uma tentativa de ingressar com munições ou soldados para iniciar um confronto.

Na declaração, os 13 estados latino-americanos condenaram “os atos de repressão violenta que causaram vários feridos e mortos na fronteira com a Colômbia e o Brasil, que agravaram o risco em que se encontram a vida, dignidade e integridade dos venezuelanos”.

Na conclusão do encontro, os países pediram à Corte Penal Internacional que analise a situação da Venezuela frente a esse bloqueio imposto por Nicolás Maduro contra a chamada ajuda humanitária.

Por outro lado, logo após a União Europeia pedir aos Estados Unidos que abandonem a possibilidade de intervenção militar no país chavista, a maioria dos dez representantes presentes decidiram tirar esse fantasma que rondava sobre as possibilidades de ataque dos EUA, com apoio de outros estados, como o Brasil, e subscreveram que irão apoiar a “transição democrática” da Venezuela, que “deve ser conduzida pelos próprios venezuelanos pacificamente”.

O entendimento ocorreu com o apoio da maioria do Grupo de Lima, mas o Brasil, por exemplo, por meio do vice-presidente Hamilton Mourão e de Ernesto Araújo, do Itamaraty, haviam previamente, a portas fechadas, mostrado interesse de apoiar os EUA em uma decisão mais radical de intervenção.

Publicamente, após a maioria do bloco negar, enquanto Mike Pence silenciou o caso, uma vez que apesar de comparecer ao encontro não detinha de poder decisório sobre o grupo, os representantes brasileiros mostraram um lado contraditoriamente pacífico.

“O Brasil sempre apoiou soluções pacíficas para qualquer problema nos vizinhos”, disse Mourão, após a derrota da maioria do bloco não querer a intervenção militar. Da mesma forma, assim manifestou Araújo, já ao fim da reunião: “a força militar está totalmente descartada”.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, o ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro havia, em momentos anteriores, mostrado interesse a Mike Pence de apoiar a intervenção. No encontro, o vice de Trump deixou claro o interesse: “todas as opções estão sobre a mesa”. Mas o Grupo de Lima não quis.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Contagem regressiva

    Não demora muito e o Grupo das Laranjas Lima irá soltar seus impropérios contra os “vermelhos” do Grupo de Lima.

    5… 4… 3… 2… 1… 0

  2. O Brasil hostilizaria a Venezuela em proveito dos EUA. A única coisa que o Brasil ganharia com essa agressão seria a inimizade de um vizinho e custos/prejuízos. Já o Trump teria todas as vantagens, pois faria uma guerra por conta e risco de dois países trouxas: Colômbia e Brasil.

  3. O estafeta do império, ernesto araújo, não engana ninguem. Mas há os que se esforçam para fazer-se de enganados por mourão. São 2 fascistas, um patético, o outro tosco e dissimulado.

  4. Permita-me a sugestão de leitura de mais um texto esclarecedor sobre a gravíssima situação da Venezuela, da América do Sul e dos países periféricos redigido pelo professor José Luís Fiori, intitulado “Conspiração e estratégia” e publicado na Carta Maior em 24/2/2019.

    Certamente, não encontrarão, lá, palpites nem sobre a gula do Maduro nem sobre os porres dos diretores da PDVSA, os quais certamente não têm nenhuma relevância para o entendimento da situação naquele paí e no continente.

    É artigo de quem entende do riscado, apresenta poderosas ferramentas de análise e mostra de que lado está.

    Uma palhinha: “O tempo do Plano Marshall e da “hegemonia benevolente” dos Estados Unidos acabou e não voltará mais. E este é um “dado de realidade’ que precisa ser assumido e computado pela estratégia dos povos e das forças políticas que ainda sonham e lutam para ser donos do seu próprio destino”

    Uma boa leitura para fugir do achismo desvairado: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Conspiracao-e-estrategia/6/43354.

  5. Esse governo bozonazi e’ ridiculo, pois esta de 4 ao entregar nosso petróleo para o Trump e não satisfeito quer ajudar o imperialismo norte americano a roubar o petróleo dos venezuelanos.

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