Brasil vai propor aliança contra a fome ao G20

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

País assume Presidência do grupo a partir de dezembro, e vai priorizar combate à fome e desigualdade; leia íntegra do discurso de Lula

Cerimônia de entrega de mudas de árvores no Bharat Mandapam, Plenário da Cúpula. Nova Delhi – Índia Foto: Ricardo Stuckert/PR

O Brasil vai lançar uma Aliança Global contra a Fome durante seu mandato na Presidência do G20 a partir de dezembro de 2023 até 30 de novembro de 2024.

Em seu discurso na 18ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo do G20, na Índia, Lula afirmou que o combate à fome, pobreza e desigualdade é uma das prioridades elencadas pelo governo em seu primeiro mandato desde que o grupo passou a se reunir chefes de Estado e Governo, em 2008.

“Lançaremos, em nossa Presidência do G20, uma Aliança Global contra a Fome. Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês. Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno”, disse Lula.

“O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer”, afirmou o presidente, ressaltando que muitos dogmas econômicos não dão conta da realidade e precisam ser mudados para que o problema da desigualdade possa ser enfrentado de maneira mais ampla.

O presidente brasileiro destacou que, em seu mandato à frente do G20, uma força-tarefa será formada contra as mudanças climáticas. Para que isso seja possível, é necessário que o desenvolvimento sustentável seja uma meta cada vez mais adotada, segundo ele.

Em seu mandato à frente do G20, o Brasil deverá organizar mais de 100 reuniões oficiais, que incluem cerca de 20 reuniões ministeriais, 50 reuniões de alto nível e eventos paralelos como seminários.

Leia abaixo a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Comparo o mundo a uma grande família, cujo bem-estar depende da harmonia entre seus membros – que somos nós.

Eu me pergunto se estamos agindo como bons irmãos. E a resposta, infelizmente, é Não.

Falamos diferentes idiomas, e mesmo assim somos capazes de nos entender perfeitamente.

Temos diferentes personalidades, mas isso não nos impede de trabalharmos juntos pelo bem comum – e tomo como exemplo esta Cúpula do G-20

Apesar de todos os esforços, nossa família está cada vez mais desunida. O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer.

Há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior do que a dos mais pobres.

Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres.

Os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%. 

De acordo com as Nações Unidas, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda estarão fora da escola ate 2030.

Precisaremos de quase 300 anos para atingir a igualdade de gênero perante a lei.

Segundo a FAO, a fome, que afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo.

O mundo desaprendeu a se indignar e normalizou o inaceitável. 

A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa.

Os recursos não chegaram nas mãos dos mais vulneráveis. 

O mercado continuou indiferente à discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência. 

A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída.

Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias.

Na semana passada, lançamos o plano Brasil sem Fome, que vai reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar.

Garantir oportunidades iguais para todos significa assegurar acesso a serviços básicos de qualidade.

Significa formular políticas públicas que contribuam para erradicar o racismo e o sexismo das nossas práticas sociais e institucionais.

No Brasil, tornamos obrigatório que homens e mulheres que fazem o mesmo trabalho recebam o mesmo salário. Essa é uma aspiração antiga da OIT.

Como líderes das vinte maiores economias do mundo, é nosso papel fortalecer a capacidade do Estado de cuidar dos seus cidadãos.

É preciso colocar os pobres no orçamento público.

E fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios.

As instituições financeiras internacionais devem funcionar a serviço do desenvolvimento, em vez de agravar o endividamento.

Novas tecnologias devem ser compartilhadas, em vez de aprofundar o fosso digital entre as nações.

A desigualdade é um flagelo que cresce dentro dos nossos países, mas também entre eles.

A disparidade de renda entre países ricos e pobres quadruplicou entre o começo do século dezenove e o fim do século vinte.

As assimetrias se perpetuaram por nova formas de dependência econômica e financeira, regras e instituições injustas, compromissos não cumpridos.

A Agenda 2030 prometia redefinir essa relação.

É urgente resgatar o espírito de solidariedade que anima os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para formularmos respostas conjuntas aos desafios econômicos do nosso tempo.

Lançaremos, em nossa presidência do G20, uma Aliança Global contra a Fome.

Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês.

Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno.

E nos reconhecermos, de fato, como uma grande família. Que não deixa ninguém para trás.

Muito obrigado.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador