A ameaça à soberania do Estado e aos direitos fundamentais da população, objetivo escancarado não só no Brasil, mas com a ascensão da extrema-direita global, também tem sido agravado pelo “pragmatismo tóxico” que domina setores da esquerda e pela falta de criatividade em propor novas utopias.
Essa é a visão do jurista Pedro Serrano, que acredita que o momento é crucial para unir a energia dos movimentos sociais a um projeto político capaz de mobilizar a crença em um futuro comum, “reconstruindo utopias”.
Para o jurista, isso envolve debater questões identitárias, combater o cancelamento autoritário e buscar um equilíbrio entre pragmatismo e idealismo. Além disso, é necessário resgatar a essência da política como um espaço de produção de ideias, e não apenas de administração de poder.
“Precisamos do valor da justiça social reconstruído. Como é que nós vamos alcançar mecanismos de proteção social nessas novas formas sociais que a gente tem? E, além disso, é preciso ouvir o que a sociedade está dizendo. Há mensagens transmitidas, até mesmo de reacionários, que precisamos entender. Não devemos reagir apenas com resistência própria”, defende Serrano.
Uma via promissora, aponta o doutor em direito pela PUC, é fortalecer a organização dos pequenos empreendedores. Com apoio e estímulos governamentais, essas iniciativas podem empoderar as comunidades, desde a agricultura familiar até pequenos comércios urbanos.
Essa solução, no entanto, não é suficiente, já que a revolução tecnológica substitui a mão de obra humana em ritmo acelerado. O desafio, nesse caso, não se trata de apenas mitigar os efeitos do desemprego, mas criar mecanismos de solidariedade social para integrar os excluídos.
“Com essa ideologia do empreendedorismo, você cria mecanismos muito perversos de trabalho, de ultraexploração. Ao mesmo tempo, surge outro fenômeno que considero extremamente importante: a exclusão. Isso acontece não só pela conjuntura, mas também pela própria estrutura das tecnologias”, avalia.
Para Pedro Serrano, enquanto a extrema-direita se organiza com uma narrativa de destruição para “reconstruir”, os progressistas precisam oferecer um projeto alternativo que inspire esperança. Caso contrário, segundo Serrano, seremos empurrados para um futuro de “necropolítica”, onde grandes contingentes de pessoas são descartados pela sociedade.
“A promessa do capitalismo e do liberalismo era que isso fosse naturalmente redistribuído na sociedade e que trabalharíamos menos, mas não foi o que aconteceu. Em vez disso, houve uma acumulação brutal de riqueza e o surgimento de um imenso contingente de pessoas cada vez mais sem função social“.
Regulação das redes e o combate ao crime organizado
O enfrentamento progressista no campo das redes sociais, explica o jurista, é um dos caminhos possíveis para evitar o domínio da extrema-direita.
No contexto global, Serrano aponta que a “revolução tecnológica” permitiu que as big techs ousassem substituir o Estado. “Começou com elas querendo ser reguladoras do direito à livre expressão. Agora, elas não querem ter responsabilidade pelo que se fala na rede, mas exigem o poder de excluir quem quiserem.”
“Na juventude, por exemplo, um dos políticos que defendem essa postura, como Javier Milei, é hoje o mais visto na América Latina”, diz Serrano, referindo-se ao discurso ultradireitista adotado por Milei nas eleições argentinas. “Esses exemplos deixam claro que estamos diante de um desafio à soberania estatal em várias frentes.”
Outro ponto levantado por Serrano é o avanço mundial do crime organizado, que tem de ser combatido resgatando o papel do serviço público. “No Brasil, estamos cada vez mais nos ‘mexicanizando'”, referindo-se aos grandes cartéis do narcotráfico que atuam no país.
“Com grupos criminosos dominando territórios. Por isso, considero correta a proposta do governo de permitir que a União atue diretamente no combate ao crime organizado. Não é mais possível delegar essa responsabilidade exclusivamente aos Estados”.
Veja um pouco mais da entrevista abaixo:
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Elogio da Dialética
(Bertolt Brecht)
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
“Agora acaba de começar”.
E entre os oprimidos muitos dizem:
“Não se realizará jamais o que queremos!”
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã.
E o “hoje” nascerá do “jamais”.
“Regulação das redes e o combate ao crime organizado”. Como?
O CEO da Meta, já de quatro para Musk e sua marionete, Trump, anuncia que deixará de verificar conteúdos, e, no mesmo estilo da duplinha MusTru, já cria Fake News sobre “Tribunais Secretos” que, na sua cabecinha de extrema direita escrota restringem o “livre expressar”
Só há uma dialética não estéril, nesse mundo, hoje: é aquela que contrapõe a natureza ideal do homem à natureza real do homem. Isso porque o Capital, para lançar as bases de sua dominação sobre os corações e as mentes dos homens, separou o ser humano da Natureza (que era necessário explorar e transformar, e, ao fim e ao cabo, exterminar) e criou uma nova natureza para si: a Natureza Humana, totalmente sob o seu controle e a seu serviço, e a impôs sobre esses mesmos corações e mentes. O pórtico de Auschwitz dessa ideologia é a frase da Sra. Thatcher: Não há sociedades, há indivíduos. É uma perversão da noção de Aldous Huxley, de que vivemos em grupos, mas existimos a sós; ora, às favas a vida, eu quero é ser eu mesmo! Claro, isso só é possível se se elimina, nesta nova natureza, qualquer indício de ideia ou sonho; portanto, o Capital apela apenas à natureza real do ser humano, aquela que quer crescer, dominar, controlar, e, consequentemente, prosperar, acumular, e submeter. Mas toda criação (como bem sabe o nosso Deus) sempre tem algo que foge ao plano inicial e ao controle possível; esta seria a Natureza ideal do homem, generosa, solidária, compassiva, e compartilhadora. E o que eu acho, amigos, é que o Real está dando de goleada no Ideal. E isso porque a esquerda, ou os progressistas, insistem em ignorar o que há, no homem (e não em uma sua suposta natureza particular: não existe isso que se chama natureza humana), de mesquinho, ambicioso, egoísta, e pérfido. Não somos um bom selvagem corrompido. Somos apenas selvagens – não existe Bem e Mal, existe o interesse. Mas esse, em sua esfera humana, pode ser domado. Para tanto, há algumas inclinações nossas que poderiam nos ajudar; mas elas estão, particularmente nesses últimos anos (pós-Sra.Thatcher) sob ataque intenso e fortemente amparado pela civilização liberal-democrática (sic). Por que a extrema direita rejeita visceralmente a ciência, a arte, a educação? E cultiva, abertamente, o ódio, a morte, a perseguição e extermínio de quem é, ou pensa, diferente? Isso não é autoexplicativo? A primeira coisa de que o Capital apropriou-se, no homem, foi o interesse; sobreviver, nomeadamente. Uma vez assegurada a sobrevivência, liquidem-se aqueles que podem retirá-la de mim, e diminuir meu conforto. Caminho pavimentado para onde estamos, hoje. Quando o jeito é se virar, cada um cuida de si, irmão desconhece irmão (Paulinho da Viola). Permitam-me a vaidade de expor um hai-kai que escrevi há muitos anos: “De onde vim?/Aonde vou?/Quem financiou?” Esqueçam as perguntas metafísicas, impossíveis de serem respondidas. Ao diabo com as utopias; a distopia já chegou, e para ficar. A pergunta certa, e nem um pouco metafísica, ou ética, ou solidária e generosa, é: Quem financiou? Quem está financiando? Quem financiará? Dê-me um capital e eu moverei o mundo. Só o Real é eterno, disse Glauber Rocha. O Ideal não pode mover o homem. Nunca o fez, ao longo de toda a História. E, creio eu, nunca o fará.
A conscientização de toda a população, inclusive os individualistas aquinhoados, necessariamente converge para a política de advertência no sentido de que a miséria, a combater, implica na inclusão social, sem a qual todos sucumbirão à deterioração planetária.