Delegação do Wikileaks chega ao Brasil e deve se encontrar com Lula e governo de Transição

Kristinn Hrafnsson e Joseph Farrell chegam no dia 24 em São Paulo e participam de uma série de atividades no Brasil até o dia 30

Chega ao Brasil nessa quinta-feira, 24, uma delegação do site WikiLeaks (WL) composta pelo jornalista investigativo, editor-chefe e porta-voz da plataforma, Kristinn Hrafnsson, e pelo jornalista e editor, Joseph Farrell. A ampla agenda que será cumprida pelos dois no país inclui um encontro com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e com os Grupos de Trabalho (Gts) de Comunicação e Relações Exteriores do Governo de Transição.

A passagem pelo Brasil está sendo coordenada pela Assembleia Internacional dos Povos (AIP) e faz parte de uma série de compromissos que os jornalistas estão realizando pela América Latina a fim de se reunirem com lideranças políticas e sociais, movimentos, organizações e sociedade civil organizada que defendem a liberdade de Julian Assange e denunciam as diversas violações dos direitos humanos, civis e políticos do jornalista.

A delegação do Wikileaks quer discutir, ainda, questões relacionadas à importância da liberdade de expressão e do direito à informação, valores que se qualificam como pilares da sociedade. “Os representantes do Wikileaks pretendem falar sobre os riscos que existem para a democracia e a liberdade de imprensa se Assange for extraditado para os Estados Unidos”, disse a organização.

   “Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn”      

Assange

A situação política e de saúde do fundador do Wikileaks é dramática. Detido sem base legal na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido, desde 2019, Assange está prestes a ser extraditado para os Estados Unidos onde pode sofrer uma pena de até 175 anos em confinamento solitário.

O ativista australiano é acusado pelo governo estadunidense de violar a Lei de Espionagem de 1917. Ele foi responsável, por exemplo, pela publicação, entre 2010 e 2011, de documentos classificados revelando crimes de guerra e campos de tortura no Iraque e Afeganistão.

A então Ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, aprovou a extradição de Assange para os EUA em 17 de junho.

“Sem uma forte mobilização internacional, o jornalista Julian Assange não será libertado. Ao publicar no WikiLeaks milhares de documentos, fotos e vídeos que comprovam o envolvimento dos Estados Unidos e seus aliados na morte de inocentes e na espionagem em escala internacional, Assange cumpriu seu dever como jornalista. É por isso que a luta pela sua liberdade afeta a todos nós”, declara Giovani del Prete, da Secretaria Operativa da Assembleia Internacional dos Povos.

Ameaças à liberdade de imprensa

A eventual condenação de Assange por essas publicações criminalizaria todas as etapas do processo jornalístico básico: solicitar, receber, possuir e publicar informações verídicas e de interesse público. A defesa do jornalista quer que os EUA retirem as acusações como forma de proteger a liberdade de imprensa em todo o mundo.

A ação do governo estadunidense busca estabelecer um precedente mundial, uma vez que poderia exercer jurisdição extraterritorial sobre qualquer jornalista ou imprensa estrangeira, o que é alarmante.

Os EUA indicaram que a Primeira Emenda à Constituição não se aplicaria a jornalistas estrangeiros, portanto, se Assange for extraditado e processado, ele não se beneficiará de proteções constitucionais da liberdade de expressão em virtude de ser cidadão australiano.

A decisão de processar Assange foi universalmente condenada por grupos de defesa, liberdade de expressão, grandes jornais, políticos proeminentes e sindicatos, indicando que as ações que os Estados Unidos desejam impor são uma ameaça sem precedentes à liberdade de imprensa em todo o mundo.

Quem são Kristinn Hrafnsson e Joseph Farrell do Wikileaks?

Kristinn Hrafnsson é jornalista investigativo e editor-chefe/porta-voz do WikiLeaks desde 2010. Ele trabalhou duas décadas como jornalista na Islândia, na imprensa e na radiodifusão e televisão, o período mais longo na RUV, a emissora pública. Ele foi co-produtor e apresentador do programa de investigação Kompás (Compass) na emissora privada Channel 2 durante o turbulento período do colapso financeiro na Islândia, após a crise bancária de 2008. Kompás foi um programa premiado onde ele e seus colegas frequentemente expuseram atividades criminosas e corrupção em altos cargos. Em abril de 2010, ele voou para Bagdá para entrevistar crianças do ataque militar registrado no “Collateral Murder”, o vídeo icônico publicado pelo WikiLeaks. Kristinn é um dos jornalistas mais premiados na Islândia e recebeu o prêmio da Federação de Jornalistas da Islândia em todas as três principais categorias em 2004, 2007 e 2010.

Joseph Farrell é um jornalista e editor britânico que trabalhou para o Bureau of Investigative Journalism e para o Centre for Investigative Journalism, onde atualmente faz parte do Conselho de Administração. Ele trabalha para o WikiLeaks desde 2010 como editor de inúmeras publicações importantes do WikiLeaks, incluindo os Diários de Guerra do Iraque e Afeganistão e Cabos Diplomáticos (Cablegate). Seu trabalho para o WikiLeaks junto com outros associados, fez dele o alvo de uma investigação contínua do FBI. Ele foi membro da Coalizão da Sociedade Civil na conferência diplomática da World Intellectual Property Organisation sobre um tratado de exceções de direitos autorais para pessoas com deficiências em Marrakesh, Marrocos. Ele também aparece regularmente nas redes de televisão como comentarista de notícias.

Leia também:

O caso Julian Assange e por que não podemos olhar para o outro lado, por Kalianny Bezerra

Sobre a extradição de Julian Assange, por Carol Proner

Redação

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