Bolsonaro não impedirá levante de bolsonaristas em derrota nas eleições

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Se o TSE não aceitar propostas das Forças Armadas, não garantirá eleições, indicou Flávio Bolsonaro em tom de ameaças

Bolsonaro em evento com militares
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do presidente e o coordenador da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro, disse que não poderá impedir uma revolta de bolsonaristas caso o mandatário não vença as eleições 2022.

A fala foi dada em entrevista ao Estadão, divulgada nesta quinta (30). Segundo Flávio, o levante que ocorreu no Capitólio, nos Estados Unidos, com a derrota de Donald Trump, não foi culpa do ex-presidente do país.

EUA: pessoas se indignaram com eleições

“Como a gente tem controle sobre isso? No meu ponto de vista, o Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá [invadir o Capitólio]. As pessoas acompanharam os problemas no sistema eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram.”

O coordenador de campanha do presidente tampouco respondeu se Bolsonaro aceitará a derrota. “O presidente vai aceitar o resultado da eleição?”, perguntou o repórter Felipe Frazão.

“O presidente pede uma eleição segura e transparente, era o que o TSE deveria fazer por obrigação. Por que não atende às sugestões feitas pelo Exército se eles apontaram que existem vulnerabilidades e deram soluções? A bola está com o TSE”, respondeu Flávio.

Via comandante do Exército

Ainda, segundo o senador e filho do presidente, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não atender aos pedidos das Forças Armadas, “talvez via comandante do Exército, via ministro da Defesa” responderá que “não pode garantir que as eleições vão ser seguras”.

Sem dar mais detalhes sobre como seria esse posicionamento das Forças Armadas, a resposta foi feita em tom de ameaça.

O GGN está produzindo um documentário sobre como o avanço da ultradireita mundial ameaça as eleições do Brasil em 2022, com Jair Bolsonaro incitando discursos de ódio e contra o sistema das urnas.

A referência do senador são as sugestões enviadas pelos militares ao TSE, algumas delas já acatadas, outras impossíveis de serem aplicadas ainda neste pleito e outras negadas, não por “resistência”, conforme caracterizado por Flávio, mas por falta de embasamento e inviabilidade.

O discurso de Jair Bolsonaro, contudo, vai além das sugestões dadas pelos militares. O mandatário quer que as eleições sejam em papel, o que já comprovadamente é suscetível de fraudes, e não pelas urnas eletrônicas.

Criar instabilidade

O filho 01 de Bolsonaro admitiu que a defesa do presidente e dos militares para mudar o sistema eleitoral incitam instabilidade junto à população.

“Essa resistência do TSE em fazer o processo mais seguro e transparente obviamente vai trazer uma instabilidade. E a gente não tem controle sobre isso. Uma parte considerável da opinião pública não acredita no sistema de urnas eletrônicas”, continuou.

Não foi culpa de Trump

Ainda em comparação aos EUA, quando apoiadores de Trump invadiram o Capitólio, em janeiro do ano passado, durante a contagem de votos do Colégio Eleitoral que deu vitória a Joe Biden, deixando 5 mortos e centenas de feridos, defendeu Trump e voltou ao tom de ameaça:

“Não teve [no episódio do Capitólio] um comando do presidente [Donald Trump] e isso jamais vai acontecer por parte do presidente Bolsonaro. Ele se desgasta. Por isso, desde agora, ele insiste para que as eleições ocorram sem o manto da desconfiança.”

Quem dar golpe na democracia?

“Se for com o sistema que está aí, e o presidente tiver resultado negativo, ele reconhece a eleição?”, voltou a questionar o repórter do Estadão.

E novamente fugindo da resposta, Flávio disse: “Alguns avanços o TSE já fez, que, se forem implementados, dificultam a possibilidade de fraude. Se tem mais coisas que podem ser feitas para diminuir, por que não fazer? Quem quer dar golpe na democracia, Bolsonaro ou quem está resistindo a atender a sugestões técnicas?”.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Um jornal golpista só pode dar voz a golpistas.
    Para infelicidade de amboas,ainda ontem houve um depoimento na república falcoeira de funcionários do governo na época do cabelo amarelo que afirmam categoricamente que o sujeito incentivou a invasão do capitólio e que somente não foi pessoalmente dirigindo a limusine oficial porque foi impedido.
    Golpista é assim mesmo: perde e não sabe perder.

  2. Vejo a “Faria Lima” calada , a imprensa fala do risco , o Exército temo eu parece querer o golpe , o TSE parece acuado , a opinião pública passiva talvez por não confiar nos democratas , os democratas no seu jogo político de conchavos , do manual dos golpes 3 x 2 golpe.

  3. Existe um meio institucional de responsabilizar ou desmoralizar figuras públicas irresponsáveis ou delinquentes como o (des)presidente, (des)senadores, (des)ministros e que tais, que se chama INTERPELAÇÃO JUDICIAL ou não (extra-judicial, de menor força).
    Toda vez que um político, delegado como representante do povo e a este SUBORDINADOS, ameaçar, mentir ou propor com segundas intenções, cabe a nós, sociedade a qual estão subordinados, interpelá-los com perguntas formais, firmes e objetivas para que afinal neguem (e se desmascarem ou contradigam) ou confirmem o entendimento, abrindo confissão para que sejam devidamente processados.
    O problema é que as PESSOAS nas instituições não interpelam as centenas ou milhares de ABSURDOS cometidos por este (des)governo e seus (com)parças.
    Se alguém quiser fazer ou me ensinar como entrar com interpelações judiciais no STF ou outras instâncias, proporei umas duzentas para que estes desequilibrados se manifestem.

    Um exemplo: Quando um (des)presidente mente publica e conscientemente, faz afirmações sem provas ou faz ameaças veladas ou explícitas como “não vai respeitar decisões judiciais”, deve ser questionado a esclarecer, sob pena de ser processado de imediato (ou oportunamente) por atos ilegais e responsabilidades como ter jurado publicamente (tendo a responsabilidade implícita de) cumprir, respeitar, fazer respeitar a Constituição.
    Ou se desmente ou comete crime, público e confesso.

  4. ANTI-GOLPE MILITAR – AS reformas elitistas de Bolsonaro nas FFAA só beneficiaram generais e altas patentes, prejudicando os praças e baixas patentes, que superam 75% do efetivo, estão insatisfeitos e com muitos candidatos nas eleições 2022. Urge ao PT apoiar essas candidaturas e CRIAR CLIMA ANTI-GOLPE DENTRO DOS QUARTÉIS. Nenhum general privilegiado. corrupto e entreguista, tentará golpe sob risco de se

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