Golpismo de Bolsonaro tende a mergulhar o País “numa onda de violência política”, alerta Cláudio Couto

Gabriella Lodi
Gabriella Lodi é estudante de Jornalismo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em São Paulo e estagiária do Jornal GGN e da TVGGN desde fevereiro de 2022.
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Bolsonaro mantém base de apoiadores armados inflamadas para quando questionar o resultado das eleições, diz Cláudio Couto. Assista na TVGGN

Claudio Couto na TVGGN com Luis Nassif e Marcelo Auler
Foto: Reprodução/ TVGGN

Doutor pela Universidade de São Paulo e professor da Fundação Getúlio Vargas, o cientista político Cláudio Couto alertou em entrevista ao GGN, na noite de segunda (2), que a veia golpista de Jair Bolsonaro pode mergulhar o País em uma “onde de violência política” até as eleições de 2022.

Na entrevista a Luis Nassif e Marcelo Auler, colaborador da TVGGN, Couto esclareceu a conjuntura política atual do governo Bolsonaro, falou sobre a questão dos militares no governo federal e teceu comentários sobre a dificuldade da terceira via em romper a polarização entre Lula e Bolsonaro.  

Sobre Bolsonaro, Couto analisou que a teoria da “cortina de fumaça” para justificar ações e declarações do presidente da República está equivocada. Para ele, o que se apresenta como cortina de fumaça pela mídia, na verdade, é o verdadeiro governo Bolsonaro: uma criação constante de caos. 

“Esse é um governo de movimento. É um constante processo de incitação da base. Ele não tem concepção de agenda de políticas públicas. Isso [agitação da base] é o que Bolsonaro utiliza para se segurar no poder, é um governo de destruição e não de construção”, explica o professor. 

Cláudio Couto entende que o propósito de Bolsonaro em dar um golpe sempre foi claro e o risco atual é a não aceitação do resultado das eleições. Segundo o analista, Bolsonaro pode questionar os resultados das urnas alegando que houve fraude, e mobilizar seus apoiadores armados – civis ou setores das Forças Armadas – para uma grande onda de violência política.

“Bolsonaro pode ter todos os defeitos, menos de esconder de nós quem ele de fato é. Ele já falou lá atrás que se virasse presidente dava um golpe no dia seguinte. Ele já está preparando o terreno para isso e reforça essa lógica. Se isso vai ser bem sucedido ou não, não tem como dizer, mas o receio é mergulharmos numa grande onda de violência política que não sabe até que ponto vai”, diz Couto. 

As instituições da democracia, para o professor, cumprem seu papel de segurar o poder do Executivo, mas, por vezes, são tratadas como irrelevantes por Bolsonaro E aí está o perigo. “Sobre os freios e contra freios da democracia, gosto de explicar assim: os freios do meu carro estão funcionando, mas se eu enfio o carro no precipício, eles vão continuar funcionando até eu cair lá embaixo. Então, no final, os freios não vão resolver nada, porque já estão irrelevantes. É para esse lugar que a gente está caminhando”, ele alerta. 

A ameaça militar 

Para Cláudio Couto, os militares no governo são um fracasso institucional. Os militares acabaram ocupando espaços de poder que deveriam ser de civis, e interferindo no processo político.

“A corporação militar no governo não tem projeto, estão tão predadores quanto Bolsonaro e o centrão. Isso não foi resolvido desde a redemocratização, houve medo de mexer com esse vespeiro. Hoje há a situação em que os militares interferem no processo político e mantêm ameaças constantes para termos medo”, aponta Couto.

Terceira via

Foto: Reprodução/ TVGGN

Segundo Couto, é difícil pontuar uma terceira via para as eleições de 2022. Com tantos possíveis nomes para a disputa, como João Doria, Ciro Gomes, Simone Tebet, Sergio Moro ou Luciano Bivar, uma terceira via mostra-se distante da concretização. Fala-se, hoje, em várias terceiras vias, e nenhuma delas tem mostrado musculatura suficiente para romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. 

“É uma barafunda essa situação da chamada terceira via. Na realidade, o que temos é um cenário consolidado de bipolarização assimétrica entre Lula e Bolsonaro”, afirma o analista. 

Citando pesquisas eleitorais, Couto lembra que 82% dos eleitores de Lula e Bolsonaro afirmam que não mudariam seus votos. Assim, mostram-se firmes nas suas escolhas. Já dentro do percentual de Ciro Gomes, por exemplo, 62% dos seus eleitores falam que ainda podem mudar de voto. O professor mostra que é difícil acreditar que algum candidato fora da bipolarização entre Lula e Bolsonaro tenha condições de crescer nas pesquisas eleitorais.

“A terceira via em plano nacional está inviabilizada politicamente”, diz Couto. 

O que esperar do próximo governo

Para Cláudio Couto, o próximo governo, caso Lula ganhe as eleições – o que as pesquisas estão indicando –  será um governo de reconstrução nacional, uma vez que no ambiente político há uma grande destruição em andamento. “Para satisfazer todos vai ser um processo duro, serão decisões sacrificantes que só vão produzir resultados na frente. O governo tem que ser o mais amplo possível”, Couto explica.

Contudo, para o professor não há como incorporar no governo aqueles que o destruíram na antiga gestão e, por isso, o primeiro passo a ser feito é desmilitarizar os cargos públicos. “30% dos cargos em comissão são ocupados por militares no governo federal, é mais que qualquer partido. É uma presença excessiva de militares em cargos civis, precisamos de uma agregação de forças, união antecipada e limpeza política”, ele reforça.  

Para assistir a entrevista na íntegra, use o o link abaixo. E inscreva-se gratuitamente no canal clicando aqui.

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Gabriella Lodi é estudante de Jornalismo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em São Paulo e estagiária do Jornal GGN e da TVGGN desde fevereiro de 2022.

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