O futuro de Cuba

Como falaram no texto, em 2020 é improvável que qualquer dos revolucionários esteja governando Cuba. Porém, a pergunta fica para o que virá após isso, ainda mais com uma economia tão em frangalhos quanto a atual (ainda que haja embargo, dizer que é só disso a culpa da situação atual e do ocorrido historicamente é querer desviar a responsabilidade de si). 

Do Terra Magazine

Análise: Cuba escolherá entre igualdade de renda e de chance 

Dayanne Sousa

O Congresso do Partido Comunista de Cuba convocado para 2011 pelo atual presidente Raúl Castro deve servir para confirmar reformas anunciadas na economia, como introdução de formas de gestão não estatais, comenta a socióloga Marifeli Pérez-Stable, da Florida International University. Há uma pressão da nova geração, diz, que “quer igualdade de oportunidades, não de renda”.

PerePérez-Stable comenta assuntos da política cubana no jornal Miami Herald. Estudiosa das relações da Ilha com os Estados Unidos, chegou a ser atacada por leitores e blogueiros conservadores, acusada de ser uma espiã de Fidel Castro. O jornal desmentiu a história revelando que ela foi simpática à Revolução Cubana (sobre a qual publicou um livro), mas que hoje é crítica do regime e estuda o país observando como os americanos poderiam melhorar suas relações.

Ela acredita que as lideranças do Partido devem “encontrar novas atitudes em relação ao mercado” a despeito do aumento das desigualdades sociais. “Esse é o preço do progresso”, lamenta.

Leia a entrevista na íntegra.

Terra Magazine – O Partido Comunista não promove um Congresso desde 1997. É um longo tempo. O que você acha que o anúncio de um novo congresso em 2011 representa?
Marifeli Pérez-Stable – De acordo com Fidel Castro, os dirigentes cubanos foram incapazes de lidar com a economia. Castro é avesso ao mercado e restringiu muitas das reformas dos anos 1990 no início de 2000. Raúl Castro é menos encantado com a ideia de uma sociedade de livre mercado. No entanto, antes que um Congresso poderia ser chamado, ele teve que colocar a casa em algum tipo de ordem. Isso é o que Raúl tem feito desde que seu irmão adoeceu. O congresso irá ratificar as mudanças anunciadas recentemente. Até então, a liderança terá uma ideia de como os cubanos comuns estão lidando com sua nova realidade.

Raúl Castro anunciou também que o Congresso vai discutir “problemas econômicos”. O que significa isso? Que tipo de transformação Cuba está pronta para fazer? Há alguma?
Raúl nunca vai dizer que ele favorece uma economia de mercado, mesmo como a China ou o Vietnã, onde o Partido Comunista está firmemente no controle. Ele está falando de “atualização” da economia cubana, enfatizando que uma rede de segurança permanecerá em vigor, etc. O fato é que a demissão de mais de um milhão de trabalhadores em apenas 18 meses é coisa séria. As pessoas estão ansiosas e com razão. O resto da população tem que se adaptar psicologicamente e emocionalmente, com a perspectiva de ganhar a sua vida. Mas uma mudança de mentalidade também é necessária por parte da liderança. Se aproximam-se as reformas ou “atualizam” com a mesma atitude de limitar o salário, que institui regulamentos, etc, a mudança não vai funcionar. Se os líderes encontrarem novas atitudes em relação ao mercado, alguns cubanos, talvez muitos, vão começar a ganhar dinheiro real e as desigualdades aumentam. Esse é o preço do progresso.

Não há muito tempo, o jornalista Jeffrey Goldberg postou em seu blog que Fidel Castro tinha dito que o modelo de Cuba “não estava mais funcionando”. Mais tarde, Fidel disse que foi mal interpretado. Você sente que este episódio foi realmente significativo ou foi, como disse Fidel, apenas um erro da imprensa? O socialismo continua forte em Cuba?
A resposta Fidel para Goldberg tem servido a um propósito útil: porque os cubanos citam ela o tempo todo, dizendo que mesmo o comandante diz que o modelo cubano não funciona mais. Bem antes da revolução, a justiça social foi fundamental para a cultura política cubana. Enquanto o socialismo estava identificado com a igualdade, o resultado em Cuba e em outros países foi um desastre econômico. Jovens cubanos querem oportunidades, especialmente para um futuro melhor. A igualdade de oportunidades, não de renda.

Uma das coisas que afirma o seu livro é que os EUA não estão interessados na instabilidade política em Cuba. Você acha que não mudou?
Eu acredito que os Estados Unidos sempre tiveram preocupação com a instabilidade política em Cuba. Após a Guerra Fria, os defensores do embargo dos EUA alegaram que Washington preferia uma Cuba estável com Castro a uma Cuba instável, que seria atropelada por traficantes de drogas. Cuba hoje tem um maior potencial de instabilidade dado que em breve deve haver a passagem da geração revolucionária. Em 2020, é improvável que Cuba seja conduzida por Raúl, que dirá Fidel. 

Luis Nassif

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