por Amanda Sobreira, de Fortaleza (CE)
A primeira semana do governo Lula lançou luz aos direitos dos indígenas e ao protagonismo de lideranças dos povos originários, que passaram a ocupar diversos cargos institucionais no novo governo, alguns deles inéditos para os indígenas.
É o caso de Sônia Guajajara, que tomou posse como ministra dos Povos Indígenas, e de Joenia Wapichana nomeada presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Além delas, o cearense Weibe Tapeba assumiu a Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI).
Poucas horas depois da posse, Lula acatou duas sugestões do Grupo de Trabalho (GT) dos Povos Indígenas, que atuou no governo de transição: revogou o decreto que permitia garimpo em terras indígenas e corrigiu o nome da Funai de Fundação Nacional do Índio para Fundação Nacional dos Povos Indígenas.
Nas redes sociais, movimentos populares comemoraram os avanços nas políticas voltadas aos povos originários. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) reconheceu a nomeação de Weibe como estratégica “para garantir que as demandas dos povos indígenas na área da saúde sejam atendidas”.
A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo (APOINME), considerou o momento histórico e de “fortalecimento do Movimento indígena no novo governo”.
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Quem é o novo secretário?
Weibe Tapeba é líder do povo indígena Tapeba, do município de Caucaia, no Ceará, advogado e vereador. É atuante em organizações indígenas estaduais, regionais e nacionais. Weibe coordenou a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (FEPOINCE) e compõe o departamento jurídico da APOINME.
Por meio das redes sociais, Weibe agradeceu o apoio dos movimentos indígenas e populares que o apoiaram. Ele garantiu que a gestão será pautada no diálogo com gestores e coordenadores de territórios visando reconstruir e fortalecer os movimentos. Weibe também destacou que está comprometido com a força de trabalho existente nos territórios de todo o país.
Para lideranças indígenas a cerimônia de posse do presidente Lula foi o pontapé inicial para um caminho de reparação histórica de diversos grupos marginalizados no Brasil ao longo de séculos. Vale relembrar que, além de receber a faixa presidencial de representantes do povo brasileiro, Lula trouxe de volta o Ministério das Mulheres e criou o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério dos Povos Indígenas.
Política indigenista no Ceará
Seguindo os passos do Governo Federal, o governador Elmano de Freitas (PT) criou as mesmas pastas a nível estadual. O Ceará terá pela primeira vez uma secretaria para cuidar dos interesses dos povos indígenas, que será comandada pela Cacika-Irê do povo Jenipapo-Kanindé, Juliana Alves.
Juliana é professora indígena e mestre em antropologia pela Universidade Federal do Ceará. Ela foi candidata a deputada estadual nas eleições de 2022 e obteve mais de 5,7 mil votos. Ela é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e vice-coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas do Ceará (AMICE).
Filiada ao PcdoB, Juliana é filha da cacika pequena, a primeira mulher a comandar uma aldeia no Brasil. Desde menina acompanha as lutas da mãe pelo reconhecimento da terra e pelos direitos dos povos originários.
“Eu e minha mãe, fomos encontrar o governador para ouvir o convite de alguém que temos muita admiração e respeito, porque ele (Elmano) sempre foi muito próximo do nosso povo. Senti como se fosse um reconhecimento a luta da minha mãe. Eu sou a continuidade dela, mas consegui aliar a vivência, a militância com o conhecimento teórico da Universidade, então aceitamos porque temos diplomacia para isso”, contou Juliana, em entrevista ao BdF.
Durante a conversa, Juliana estava no território indígena, comemorando a conquista com a família e com amigos, em uma mistura de alegria e choro. “Fizemos nossos rituais religiosos e comemoramos. Algumas pessoas me perguntaram se eu ia sair da Aldeia e eu digo que pelas minhas novas tarefas, ficarei mais distante, mas assim como saí para estudar e voltei, vou continuar voltando porque meu pé é no chão da aldeia. É um aqui e outro na luta”, afirmou.
Sobre os desafios e prioridades da primeira Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará, Juliana elencou como prioridade a demarcação dos territórios, problema histórico no Ceará, acentuado nos últimos quatro anos com diversas decisões judiciais contrárias aos povos originários. “Já conversei com o governador Elmano e vamos trabalhar fortemente nisso. Temos muito a contribuir para cessar as constantes ameaças contra nosso povo com a criação da secretaria, reestruturando o que for necessário para revogar ações contrárias aos territórios indígenas. Agora temos um Governo Federal ao nosso lado”, afirmou.
Por fim, a nova secretária respondeu que fica à vontade ao ser chamada de cacika com K ou pelo seu nome de batismo Juliana e que não vai deixar de usar nenhuma das denominações. “Juliana é meu nome de batismo e ele deve aparecer mais por conta da secretaria. Mas é importante dizer que cacika não é um título, é permanente, é o que sou e eu gosto de ser chamada assim”, ressaltou.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia e Sarah Fernandes
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