

Jean-Luc Mélechon (Foto: Cancillería Ecuador/Wikimedia Commons)
Jornal GGN – Os resultados das pesquisas das eleições francesas, que estão a dez dias de seu primeiro turno, só surpreendem que não tem acompanha o crescimento da popularidade dos dircussos contra o sistema, depois de nove anos de crise econômica mundial.
A opinião é da professora Laura Carvalho, que, em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, fala sobre o crescimento do candidato Jean-Luc Mélenchon, que tem discurso econômico antiausteridade e hoje aparece em terceiro lugar nas pesquisas, com crescimento de sete pontos percentuais em sua intenções de voto.
Para a economista, o avanço de Mélenchon é mais um sinal da rejeição da população ao status quo, somando-se à participação do Bloco de Esquerda na coligação que governa Portugal, à força de Bernie Sanders nos EUA, ao “brexit” e à eleição de Donald Trump.
Leia mais abaixo:
Da Folha
por Laura Carvalho
A dez dias do primeiro turno das conturbadas eleições francesas, uma pesquisa mostrou pela primeira vez Jean-Luc Mélenchon —candidato com programa econômico antiausteridade— em terceiro lugar, com 18% dos votos.
Com o ganho de sete pontos percentuais, Mélenchon pode ter ultrapassado o vencedor das primárias da direita, François Fillon, e fica a apenas cinco pontos de Marine Le Pen —candidata anti-imigração da extrema direita -e de Emmanuel Macron, o jovem ex-ministro da Fazenda do presidente François Hollande, que optou por candidatar-se por um novo partido.
A maior parte do crescimento de Mélenchon deu-se pela perda de força da candidatura de Benôit Hamon, do Partido Socialista, que parece pagar o preço da impopularidade do fraco governo Hollande e está agora com 9% das intenções de voto.
François Fillon, que foi alvo de escândalo pela contratação de sua mulher e filhos como supostos assessores parlamentares, também vinha perdendo força.
Os resultados só surpreendem os que não têm acompanhado o aumento da popularidade dos discursos antissistema, após nove anos de crise econômica global e várias décadas de ampliação das desigualdades nos países ricos.
A rejeição da população ao status quo fica cada vez mais evidente: da participação do Bloco de Esquerda na coligação que governa Portugal à força de Bernie Sanders nos EUA; do “brexit” no Reino Unido à eleição de Donald Trump.
Na França, Macron e Fillon ainda reproduzem o discurso da austeridade e da necessidade de “reformas” redutoras do tamanho do Estado.
Fillon, que se diz admirador da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, promete uma contenção ainda maior das despesas públicas. Macron prevê uma redução mais gradual de despesas e baseia as perspectivas —pouco ambiciosas— de retomada do crescimento econômico em uma política de desonerações fiscais e de redução de direitos trabalhistas.
O candidato apresenta-se assim como um representante do bom e velho “trickle-down economics”, em que se acredita que os incentivos dados ao andar de cima acabam chegando ao andar de baixo.
A verdade é que, quando o assunto é política econômica, Macron não se distingue muito do atual presidente, que desistiu de tentar a reeleição por gozar de baixíssima popularidade. Talvez por isso, seu ex-ministro da Fazenda apareça nas pesquisas com menor vantagem do que Mélenchon em um eventual segundo turno contra a candidata Marine Le Pen.
O candidato da France Insoumise, que já começa a amedrontar os mercados financeiros europeus, promete elevar tributos progressivos para financiar a ampliação de investimentos e preservar o Estado de bem-estar social francês.
Aproxima-se assim de Bernie Sanders, que, apesar da derrota nas primárias do Partido Democrata, acabou tendo o programa econômico incorporado parcialmente à plataforma de Hillary Clinton nas eleições dos EUA.
Em comício a céu aberto que contou com a presença de 70 mil pessoas em Marselha no domingo (9), Mélenchon posicionou-se de forma contundente contra o extremismo dos mercados, que estariam “transformando o sofrimento, a miséria e o abandono em ouro e dinheiro”.
A subida do candidato aumenta a forte indefinição sobre o resultado das eleições do dia 23. Sua possibilidade de ida ao segundo turno dependerá, grosso modo, da capacidade de atrair os eleitores do socialista Hamon.
Independentemente do resultado, a força da candidatura dele e da de Marine Le Pen deve servir como sinal de alerta aos que mantêm o discurso tecnocrata de que não há alternativas. A tolerância com o desemprego alto, a redução da rede de proteção social e a gritante elevação dos lucros financeiros parecem estar se esgotando mundo afora.
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Não é uma candidatura anti-sistema, é esquerda mesmo.
Já em 05/12/2016 escrevi aqui no meu Blog sobre o renascimento da esquerda na França (Vide – Jean-Luc Mélenchon, uma nova esquerda que nasce na França), após isto tenho acompanhado as eleições francesas dia a dia, e acho que chamar Melenchon de Anti-sistema é uma piada, Mélenchon é a esquerda mesmo.
O problema é que a esquerda pequeno burguesa, tipo um PSOL no poder, simplesmente queimou por completo a “marca esquerda” e para evitar confusões Jean-Luc Melenchon adotou uma mensagem mais inclusiva mas ESQUERDA MESMO, com coisas bem concretas como aumentar as faixas de imposto de renda acima de que quem ganha mais do que 20 salários mínimos para 90% e será cobrada de todo o Francês morando ou recebendo na França ou no exterior (coisa que já existe em dois estados Norte-Americanos).
Quando tiver mais tempo escreverei um comentário sobre isto.
Espero que a esquerda vença
Espero que a esquerda vença na França, mas levando em conta o que acontece hoje no Brasil, não duvido que a banca financeira e os falcões americanos joguem tudo e mais um pouco para assegurar a vitória de seu candidato. Não duvido nem mesmo de um golpe à brasileira. Certo é que a população francesa é muito mais instruída e informada que a nossa, mas será que seria suficiente, mesmo, para deter um golpe ?.
Quando a mídia se dará conta de que o Séc. XX já acabou?
http://www.romulusbr.com/2017/04/alerta-na-franca-e-brasil-quando-midia.html