Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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O Bom, o Mau e o Feio, por Francisco Celso Calmon

Quem é favor dos juros baixos? Todos! Quem é favor dos juros altos? O mercado rentista

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília. Foto: Marcelo Casall/Agência Brasil
Edifício-Sede do Banco Central em Brasília. Foto: Marcelo Casall/Agência Brasil

por Francisco Calmon*

As classes dominantes no Brasil são filhas naturais da Casa Grande, conservadoras, reacionárias, truculentas, preconceituosas, autoritárias, violentas e entreguistas. 

É produto de um histórico de dominação/exploração e impunidade, desde os tempos da colônia. 

Os mais de três séculos de trabalho escravo (foi o último país da América Latina a abolir, no papel, a escravatura), deixaram sequelas intensas na sociedade e marcas ideológicas nas classes dominantes. 

Soma-se a esses mais de 300 anos as tentativas de golpes contra a democracia e as ditaduras geradas e teremos como resultado a impunidade como marca nuclear e DNA da nossa história.

O que esperar dessas classes de cinco séculos de impunidade? 

O capitalismo tardio, dependente, herdeiro de um feudalismo com características escravocratas, não incorporou a participação popular e nem rompeu por completo com as velhas estruturas sociais, o que explica, em parte, ainda no presente haver relações de trabalho escravistas, como agora os 200 trabalhadores, recrutados na Bahia para a safra da uva no RG, resgatados da situação análoga à escravidão, descobertos por conta da denúncia de três deles que conseguiram fugir; na década 1970/80 o emprego de trabalho escravo numa fazenda da Volks no sul do Pará é outro exemplo entre vários.

A escravidão no Brasil foi deveras cruel, como descrevi em meu artigo, no GGN, A Necessária Consciência de Rejeição, de 11 de março de 2019. https://jornalggn.com.br/artigos/a-necessaria-consciencia-de-rejeicao-por-francisco-celso-calmon/

Nos mais de três séculos da escravidão, os escravos se organizaram em diferentes e criativas formas de luta e resistência, nas fugas e na constituição de quilombos, mas, essa história foi abafada, falsificada. Ainda desconhecida da maioria da população. 

O fim oficial da escravidão foi paradoxalmente desumano, pois os libertos de toda ordem se viram sem amparo e sem mercado de trabalho que os acolhessem dignamente.

A compleição de leis e regras do mundo do trabalho foi tardia e autoritária como a conquista de direitos e de organizações sindicais.

A tutela do Estado nessa construção aparece como de cima para baixo, como dádivas dos governos.

Esperar das classes dominantes do Brasil, compromisso, entusiasmo ou apoio ao governo Lula, não é só por conciliação de classes e pensamento desejoso, mas, outrossim, por ingenuidade teórica ou má fé política de quinta-coluna. 

Esperar empatia e bondade dessas classes com os necessitados é crer em Papai Noel.

Quanto melhor for o governo para o povo e para o Brasil, mais engrossarão as críticas e tentativas de desestabilização. 

Elas temem o sucesso do Lula e do PT.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn”      

Os ministros não têm correspondido em postura e narrativas as de Lula. Felizmente a presidenta do PT faz o contraditório no tom certo e necessário.

Uma das causas e talvez a principal é que muitos deles são pretensos presidenciáveis. O que tem levado Lula a deixar aberta a possiblidade da sua reeleição. Isso segura alguns, mas, estimula a outros do campo à direita. 

A mídia golpista procura abrir uma cunha entre os ministros do governo, estereotipando uns e outros, formando imagens de ocasião à luz de seus interesses a serviço, notadamente, do mercado financeiro. 

Nesse diapasão vão imprimindo estereótipo de bonzinho, de mauzinho e de feinho, em relação aos seus parâmetros.

Getúlio tentou fazer uma revolução social, suicidaram-no. Jango tentou, golpearam. Lula e Dilma foram tentando devagarinho, uma foi golpeada e o outro preso. 

E Lula só concorreu em 2023 porque não encontraram outro com potencial para derrotar o genocida. 

Não foi a súbita lucidez jurídica do STF e nem o arrependimento por terem sido partícipes do golpismo a redenção do Lula, foi por razões políticas.

Mesmo assim, a direita não se engajou na transferência de votos, pelo contrário, arriscaram a eleição, para que o resultado não empoderasse demais o Lula e o PT. 

Merval Pereira levantou esse “perigo”, de uma vitória larga, várias vezes, no jornal Globo e na Globo News, sugerindo dosar o apoio.  

E a vitória foi por uma diferença estreita de 1.8%, pouco mais de dois milhões de votos.

A semente da discórdia será exatamente o futuro 2026 no presente 2023.

Temo por tantos suplentes no Congresso, substitutos dos ministros convidados para compor o governo.

Congressistas de esquerda experientes estão no governo. Ocorre que o parlamento, as ruas e as redes sociais constituem os palcos principais na marcha da reconstrução da democracia.

Nos governos I e II de Lula o PT foi desfalcado, atrofiou-se, no III é a bancada da esquerda a subtraída. 

Se por um lado, os ministros eleitos para o Congresso frustram em parte seus eleitores, que votaram para vê-los no Parlamento, por outro, no governo, são mais fortes no desempenho de suas funções, exatamente pela mesma razão. Enquanto os ministros sem voto necessitam mais do respaldo do Lula.

Com ou sem votos, todos os ministros precisam conhecer a história, para não esquecerem as lições e também dos protagonistas de outrora.

Conversar, sim, fazer acordos quando necessários, sim, ceder quando inevitável, sim, mas tratar adversários ideológicos a pão de ló, nem na curva da encruzilhada da desesperança.

Sem incorporar a participação popular não se rompe com as velhas estruturas sociais. Para isso, as pautas e embates institucionais devem ser também dos movimentos sociais. E cabe aos partidos fornecerem o combustível de agitprop às suas militâncias inseridas nesses movimentos. 

Quando dormem e esquecem a hora, os militantes devem despertar suas lideranças.  

A hora é baixar imediatamente os juros!

Quem é favor dos juros baixos? Todos! Quem é favor dos juros altos? O mercado rentista.

A sociedade tem que ser a musculatura dessa empreitada contra os juros exorbitantes e por uma reforma tributária socialmente justa, e os movimentos sociais a sua vanguarda. A frente partidária de esquerda a direção.

E os sindicatos, quando vão despertar da burocracia?  

A oportunidade de conjugar luta institucional com a luta social está dada. 

E o presidente do Banco Central, bolsonarista desafeto do Lula, carece de escracho da sociedade civil organizada.

Nesse sentido saúdo a CUT que está convocando trabalhadores(as) e lutadoras(os) sociais para se manifestarem no dia 21,terça feira, em frente a cada sede regional do Banco Central, e, onde não houver, em local assemelhado, para exigir #jurosbaixos e #ForaCamposNeto. 

*Francisco Celso Calmoncoordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem um ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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2 Comentários

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  1. O BANCO CENTRAL DO BRASIL, É UMA INSTITUIÇÃO LIGADA A ALGUM MINISTÉRIO SOCIAL? TUDO INDICA QUE NÃO, POIS PELA SUA NATUREZA, DEVERIA ESTAR VINCULADO AO MINISTÉRIO DA FAZENDA. NO ENTANTO, NA PRÁTICA, SUA AÇÃO É DE UMA INSTITUIÇÃO COM PRÁTICAS SOCIAIS. SE NÃO, VEJAMOS: SUA PRINCIPAL ATIVIDADE SE DÁ ATRAVÉS DO SEU PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA DOS MAIS POBRES PARA OS GIGOLÔS DO MERCADO FINANCEIRO, PODE? E NESSA TOADA, ELES JÁ ESTÃO DESDE O GOVERNO FHC, COM A CHAVE DO COFRE.SE QUISEREM CONFERIR: BASTA PESQUISAR QUEM FORAM E QUEM SÃO OS DIRETORES DO BCB E SUAS RELAÇÕES COM O MERCADO FINANCEIRO.

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