por Francisco Celso Calmon*
O governo Lula III será diferente dos outros anteriores, pelas circunstâncias objetivas, pelas condições subjetivas e particularmente pela estatura moral e política do Lula.
O golpe de 2016 (com STF e tudo mais), o nazifascismo bolsonarista, a injusta e ilegal prisão de 580 dias de Luiz Inácio Lula da Silva, o lavajatismo corrupto e destrutivista, os genocídios (covid e yanomamis), as tentativas frustradas da chamada terceira via, o enfraquecimento da esquerda no período, as emendas secretas do relator, o projeto de um parlamentarismo mambembe, a falta de lideranças sucessoras de Lula, formam um mosaico que impõe um governo de transição na reconstrução do Estado democrático de direito, para fincar estacas e diques instransponíveis a novos golpes e retrocessos de todas as ordens.
Nesse norte, a classe média é politicamente pendular, socialmente preconceituosa, contudo, essencial para a esquerda democrática alcançar uma correlação de forças pelo menos equilibrada.
Sua demonização por alguns intelectuais não serviu para nada, senão torná-la mais arredia a se unir à base trabalhadora e também para muitos militantes descarregarem nela os seus sectarismos.
A conjuntura internacional de recessão e guerra é um desafio. Paradoxalmente pode favorecer como não, a depender muito do Brasil saber se postar para os novos ventos de reorganização global de poder ou de manutenção do modelo unipolar já falido.
“A guerra não pode interessar a ninguém”, disse Lula em reunião virtual com Zelensky, presidente da Ucrânia.
A frase é de grande poder retórico, lhe cai bem como paladino da paz, contudo, sem lastro na realidade.
O Pentágono, as industrias bélicas, a CIA, o domínio unipolar do mundo, necessitam para suas manutenções de guerras e de uma situação internacional permanente de beligerância. E o presidente dos EUA, seja qual for, é refém desse poder permanente dessas forças do mal.
Sem guerra o Zelensky não será nada, a não ser um responsável pela tragédia de seu povo, tanto quanto os agressores. Não voltará nem a comediante, pois terá virado uma piada fúnebre, macabra, e pouco a pouco receberá o desprezo Internacional.
Como fantoche da OTAN, numa guerra laboratorial e terceirizada, o ego subiu, bateu no teto e tende a murchar. Para que isso não ocorra, ele e’ o maior interessado em que a guerra continue num crescente.
A questão não é simples e não pode ser vista como uma fotografia atual, uma imagem, e desconhecer a história até chegar à guerra.
No front interno, a trégua não existiu, apenas esperavam o carnaval passar.
Na retomada da construção da democracia, com a frente amplíssima da candidatura e vitória do Lula, a classe média tem papel relevante.
Filósofos, cientistas políticos, sociólogos, dirigentes, militantes, palpiteiros, enfezados e emocionais, demonizaram a classe média, em lugar do diálogo, do esclarecimento, da conquista para um projeto comum de bem-estar social, lançaram o anátema à classe média.
Seus interesses básicos são legítimos. Planos de saúde médico-odontológicos honestos e a preços acessíveis, acesso gratuito aos remédios de doenças crônicas; conforto nos transportes – quanto maior, menor o uso de carros, rodovias e ruas sem riscos de acidentes; aeroportos e voos seguros, sem a balburdia que grassa hoje; segurança pública preventiva e ativa; lazeres públicos de qualidade; cultura acessível; ampliação da rede de educação pública de excelência, escolas e academias particulares profícuas e a preços compatíveis com a realidade socioeconômica do país, aumento das bolsas de estudos, (a medicina é cada vez mais elitista e mercantilista, pois quem pode pagar onze mil de mensalidades, vai querer cobrar quanto depois?); combate à especulação imobiliária; crédito com juros civilizados para consumo e pequemos investimentos (está sempre pendurada nos cartões).
E o que é sua fixação moral: o combate à corrupção. Ocorre que esse desejo é de todos, salvos os corruptos, que são muitos numa sociedade capitalista e patrimonialista desenvolvida sob corrupção sistêmica. O que é mister é um debate amplo sobre as causas históricas no mundo e no Brasil.
O bolsonarismo é um antro de corruptos, seus próceres são larápios à luz do dia, o caso das joias do casal Bolsonaro, é um caso paradigmático de propina, indefensável, pois pelo código de ética do servidor (inclui todos os agentes políticos) não permite aceitar agrado acima de R$ 100,00.
Se como argumentam, as joias iriam para o acervo do Estado, não precisavam tentar retirá-las oito vezes (até o antepenúltimo dia do seu governo), porque estando com a Receita Federal está com o Estado.
O casal de larápios, das moedas do lago às joias, trafica, lava, rouba e ironizam, mesmo quando são pegos com a boca na botija.
O ex-capitão continua se vingando do Exército (desmoralizando-o) por sua expulsão pelo Comando da época.
Não bastou os 39 kg de cocaína no avião presidencial, 150 imóveis comprados, sendo boa parte com dinheiro vivo, e não bastou casar com uma mulher de familiares meliantes, avó cumpriu pena por tráfico de drogas e agressão a idoso, três tios milicianos presos por homicídio, um por estuprar o próprio filho menor, a mãe responde por estelionato, e agora o caso das joias, que deve ser a pá de concreto na vida desse casal assaltante do Estado.
Michele se converteu da pilantragem e diz que fala a linguagem dos anjos, para a psiquiatria isso tem outro nome, para a justiça também.
Tentar livrar a endereçada das joias femininas é tão escandaloso como tentar culpar o mordomo.
O currículo da Michele Bolsonaro não a credencia para encargos públicos!
Joias há muito tempo são usadas internacionalmente para lavagem de dinheiro e propina.
Temos que ressaltar que essa ladroagem está na pauta da sociedade graças ao funcionalismo público, concursado, que resistiu pressões e carteiradas em obediência à moralidade pública.
A questão não é se as joias vão para o acervo da União, por óbvio que vão, o que se coloca é o julgamento moral, ético e delituoso dos agentes do governo anterior nesse imbróglio.
Al Capone, o maior mafioso americano, foi preso e acabou com a carreira criminosa por sonegação à Receita Federal dos EUA. A família de meliantes pode ter destino análogo, por sonegação à Receita Federal do Brasil.
Sem sombra de dúvida a classe média, não só mas também, está desejando punição aos larápios e aos genocidas dos yanomamis e das vítimas da covid-19.
Uma parcela dessa classe é analfabeta política, romper com esse analfabetismo requer um amplo programa de formação, através de um planejamento bem elaborado e operado pelos meios públicos de comunicação, bem como pela educação comunitária, via escolas e universidades públicas e convênios com as particulares.
Tudo isso aliado ao debate ideológico sobre o capitalismo.
Lula tem clareza de que precisa contar com os segmentos médios da sociedade para empurrar os partidos de direita a apoiarem as políticas sociais que atenda aos anseios dessa classe, inclusive a redução imediata dos juros que também a penaliza e muito.
Essa lucidez precisa ser estendida à militância de esquerda.
No front externo ainda carece de maior lucidez. O caminho para o Brasil ser soberano e protagonista é o da multipolaridade, é o da reorganização internacional da geopolítica, fortalecendo sua liderança no Cone Sul e ampliando os BRICS.
Não é necessário desfilar os crimes dos EUA, sua história de massacre dos indígenas, das bombas atômicas sobre civis no Japão, do napalm no Vietnam, dos golpes na AL, dos bloqueios econômicos, asfixiando países como Cuba, dos laboratórios de guerra química, de sua política interna de segregação aos negros, para concluirmos que é o mal maior da humanidade.
O país mais rico do mundo tem desemprego e fome! Só isso já seria suficiente para concluir que não há democracia social, e a considerada democracia política é como um funil: uma boca larga e uma saída muito pequena, na qual dois partidos se revezam entre radicais e muito radicais do sistema capitalista e da beligerância.
Lembrando da lógica binária de Brizola, onde a Globo estiver, devemos estar do outro lado.
A rede de comunicação democrática, pública e privada, está chamada a realizar o diálogo continuo com a classe média, esquentar as turbinas porque ano que vem haverá novo embate eleitoral e pode ser um termômetro de avaliação de dois anos dos governos estaduais e federal.
*Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça.
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