O impacto ocidental na Rússia pós-soviética, na visão de Katharina Pistor

Em artigo, professora norte-americana destaca impacto ocidental no governo de Boris Yeltsin, que pavimentou caminho para Putin

Boris Yeltsin e Vladimir Putin. Foto: Wikipedia

As lutas entre ucranianos e russos escondem questões muito mais complexas do que apenas questões territoriais e a defesa da democracia – inclusive com cidadãos russo sendo presos em protesto contra Vladimir Putin. Entre eles, o impacto da pressão ocidental (em especial norte-americana) sobre a Rússia após a queda da União Soviética.

“Após o colapso da União Soviética há 30 anos, conselheiros econômicos americanos convenceram os líderes da Rússia a se concentrarem nas reformas econômicas e colocarem a democracia em segundo plano – onde Putin poderia facilmente extingui-la quando chegasse a hora”, diz Katharina Pistor, professora da Columbia Law School, em artigo publicado no site Project Syndicate.

A acadêmica diz que essa contingência histórica não é algo trivial – e teve início em novembro de 1991, quando Boris Yeltsin recebeu do Parlamento poderes extraordinários e um mandato de 13 meses para lançar reformas. A União Soviética foi oficialmente dissolvida em dezembro de 1991.

“Cercado por um pequeno grupo de reformadores russos e conselheiros ocidentais, Yeltsin usou esse momento histórico único para lançar um programa sem precedentes de “terapia de choque” econômica”, explica Katharina.

Em meio à privatização, liberação de preços e abertura de fronteiras, o governo russo não perguntou aos cidadãos se era isso o que eles queriam. “Os reformadores e seus conselheiros ocidentais simplesmente decidiram – e depois insistiram – que as reformas de mercado deveriam preceder as reformas constitucionais”.

Mesmo com o apoio ocidental, o mandato de Yeltsin foi considerado um desastre econômico, social, legal e político. E, segundo Katharina, foi a recusa de Yeltsin de sair do poder que ajudaria a preparar o terreno que culminou com o presidencialismo autoritário russo.

Boris Yeltsin e seus aliados “declararam a atual constituição russa de 1977 ilegítima, e Yeltsin passou a assumir o poder unilateralmente, enquanto pedia um referendo para legitimar a medida”.

Porém, tanto o tribunal constitucional como o parlamento se recusaram a ceder, e a crise política só foi resolvida com a convocação de tanques pelo então presidente para dissolver o parlamento, levando 147 pessoas à morte.

Segundo Katharina, em 1993 uma nova constituição foi adotada por meio de um referendo realizado em conjunto com as eleições para o novo parlamento. Mesmo com a derrota, os novos poderes garantiram a continuação das reformas e a “reeleição” de Yeltsin em 1996. E foi justamente o precedente aberto por Yeltsin que, em 1999, o levou a escolher Vladimir Putin como seu primeiro-ministro.

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