O conflito Rússia x Ucrânia virou uma guerra global
por Francisco Celso Calmon
Não há somente a batalha militar, há também a guerra cibernética, a guerra econômico-financeira (embargos e contra embargos), e a guerra das comunicações (das informações e narrativas), enfim, uma guerra híbrida.
Nesta contenda global todas as nações perderão, pois a globalização é praticamente universal.
A maior parte da esquerda é internacionalista e humanista, não nos cabe ficar no muro, contudo, a complexidade das causas históricas e das razões imediatas que geraram a invasão, extrapola o senso comum e o raciocino binário da maior parte da militância de base.
Não há dúvida que é mais simples encarar como se fosse uma disputa entre duas agremiações, um FLAXFLU de imperialistas, do que encarar que é muito mais, é a disputa pela reorganização do poder internacional.
Desde o desmonte da União Soviética, o mundo deixou de ser bipolar e passou a ser unipolar, tendo os EUA como centro e policial do planeta. Mas à medida que as crises econômicas e políticas foram ocorrendo, foi sendo desenhado, na prática, uma nova reorganização do poder econômico, político e militar, uma divisão multipolar.
Os BRICS foram o exemplo mais significativo. A ascensão da China como a segunda economia do mundo, com prazo marcado para se tornar a primeira, a Rússia se recuperando economicamente e sendo uma potência bélica deu um basta à estratégia de cerco da OTAN/EUA ao seu território. Uma reação tardia, por isso mesmo, pouco compreendida até mesmo entre os que não rezam pela cartilha estadunidense.
Se o Brasil não tivesse caído nas mãos lunáticas do bolsonarismo, estaria em melhor situação econômica e com o prestígio internacional inabalado, seria bem provável que os BRICS estivessem atuando com seu relativo protagonismo nesta guerra global, na qual o prejuízo será internacional.
Não deveria haver espaços e nem clima para sorrisos e aplausos nesta refrega, como assistimos ao pronunciamento de Biden.
É uma vergonha para a humanidade!
A ideologia dominante no mundo é a do dinheiro, a dos interesses econômico-financeiros, e a beligerância é a forma de mantê-la no tempo-espaço.
A Rússia e a Ucrânia são as únicas interessadas no fim desse conflito. Os EUA e a OTAN não têm esse mesmo interesse.
As relações internacionais e a ONU deixaram a falsidade cosmética da aparência de lado e assumiram, sem a hipocrisia diplomática, a ideologia do dinheiro, dos interesses econômico-financeiros.
Doravante, se não quiserem destruir a humanidade, terão que realizar um novo concerto de nações, com critérios e parâmetros atualizados pela nova realidade internacional.
Os países enclaves entre uma potência e outra, direta ou indireta, seriam declarados países de status neutro, não podendo aderir ou fazer alianças com qualquer dos lados.
A curto prazo todos perdem com essas guerras, a médio e longo prazos só deveremos considerar como vencedor o mundo multipolarizado, tal como é pluricultural.
Fora dessa possibilidade, o risco é o retorno da guerra fria, e a humanidade viver sob o fio da navalha de sua total ou parcial destruição.
Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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