O patrimonialismo brasileiro e o engodo da civilização

Marcos Coimbra, TSE e os donos do poder

Euclydes da Cunha e o engodo da civilização

Comentário ao artigo: A campanha do TSE na TV, por Marcos Coimbra

Caros,

Para corroborar a essa denúncia, diria grave, gravíssima, do artigo de Marcos Coimbra, vou pedir ajuda ao pragmatismo de Charles Sanders Peirce (1839-1914) e a nossa história, História do Brasil Nação: O engodo da civilização.

“Saber o que pensamos, para sermos senhores do que queremos dizer, contituirá um fundamento sólido para o pensamento. Pessoas cujas idéias são pobres e limitadas aprendem isso mais facilmente; e elas são muito mais felizes do que aquelas que se revolvem desemparadas num rico lamaçal de concepções”. Pág. 64 -Ilustrações da Lógica da Ciência, Charles Sanders Peirce, 2008. Editora Idéias e Letras.

O pensamento acima de Peirce, lembra o dito popular, derivada de um pensamento de Joaquim Nabuco, “o povo é melhor que sua elite“, pode ser, mas não é, ainda, quem da as cartas.

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De certo forma essa crítica, esse artigo provocador de Marcos Coimbra, sobre a propaganda do TSE, expõe as víceras de nossa história., desde o império ao nascimento da República e ainda “A República Inacabada“, como diz com todas as letras, Fábio Konder Comparato no livro sobre Raymundo Faoro.

A elite do “Estamento”, do patrimonialista está secularmente enraizado nas instituições brasileiras, de uma simples relação pessoal aos mais altos orgãos da nação. Em qualquer país democrático republicano, essa campanha seria imediatamente retirada de circulação, pelo seu caráter nefasto, falso moralista, de uma falsa questão que esconde as reais intenções do conservadorismo, pedante, o academicismo da pedantocracia hipócrita e secular brasileira, que permeia a todos, pessoas, escolas e instituições.

Ontem e hoje, separando o joio do trigo, hoje o Lula é o mito-vivo e FHC é um morto-vivo (A Política do Espírito: Lula e FHC), mas o governo continua como dantes no quartel de abrantes, cheio de propaganda de governo, não de Estado, que temos “um projeto sólito de nação”, aí quando se pergunta a eles, Como a ‘Era Lula‘ criou o ‘Rockefeller‘ brasileiro?, que seria o mesmo que perguntar sobre o “Encilhamento da era FHC”, como demonsta cabalmente Luis Nassif, “Os Cabeças de Planilha” ou o “encilhamento mor” no nascimento da República, como escreveu magistralmente, em 1992, Raymundo Faoro, texto absolutamente atual no  contexto do Brasil, desde o divisor de águas da Constituição de 1988 ao Pré-Sal: A Questão nacional: a modernização, IEA-USP (link 1: vídeo, link 2: texto):

Ao jogo cidadão….:

(…) “A modernização, no Brasil, encontra, na sua primeira versão histórica, a modernidade em maturação. As inovações de D. João recaíram sobre um país em transformação, dirigindo-o, e, ao mesmo tempo, freando-o e renovando-o com o transplante da corte portuguesa no Rio de Janeiro. O espírito pombalino permeou a obra da Independência, mediante severo controle da ascensão social que a emancipação política deveria produzir. Entre a sociedade civil, frágil e vigiada, e o estamento aristocrático, deu-se uma transação, alterada em torno dos meados do século XIX. A conciliação política, desarmando os antagonismos, regularia e controlaria a mudança social. Mantida a pirâmide — mantida a “ordem”, como se dizia — o Império escravocrata adia sua mais urgente reforma social, a do cativeiro, logo adiante, para se modernizar. Sem o sonho das manufaturas, arquivado o projeto colbertiano, joga-se na febre das estradas de ferro e dos melhoramentos urbanos. O centro da economia se desloca para as ferrovias, “o maior — dizia o ministro da Fazenda do Governo Provisório — dos instrumentos de civilização e o mais generoso de todos os sistemas de proteção ao trabalho, em todas as suas aplicações nacionais” (Rui Barbosa.Relatório do ministro da Fazenda. Obras Completas, v. XVII, t. II, p. 27). Sem as garantias de juros e a proteção estatal não haveria a estrada de ferro. A agricultura, devastada pelos financiadores de escravos e safras, mal deixava recursos para edificar algumas cidades brasileiras, cuja infra-estrutura dependeu, para se fazer, também do capital importado.

Num conto de 1884, Machado de Assis faz a caricatura do ciclo ferroviário, tocando em suas três notas. Em primeiro lugar, a estrada de ferro é o progresso: ” o Brasil está engatinhando, só andará com estradas de ferro”. Depois, a estrada de ferro é a própria indústria. Em terceiro lugar: o País deve dedicar-se “exclusivamente — notai que digo exclusivamente, diz o personagem, enfaticamente — aos melhoramentos materiais”. O advérbio exclui a questão servil e o debate institucional.

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As estradas de ferro não trouxeram o progresso, nem o País começou a andar. Os “proventos da escravidão” (Joaquim Nabuco. O abolicionismo. São Paulo, 1949, p. 130) mal conseguiram uma superficial modernização pré-industrial e mercantilista.” 

 

(…) De outro lado, sempre satiricamente, o espectador não vê o desenvolvimento nos números que deslumbram os homens de negócios, nem na euforia dos governantes. Ele vê, no mundo dos negócios, o jogo: o jogo oficialmente bancado. O cronista de meados do século, diante da febre ferroviária, zombava: “Ao jogo, cidadão, ao jogo! … Lançai uma estrada de ferro desde São Cristóvão até o Pará; desmontai as cachoeiras de São Francisco…; fundai um banco, dois mais, de hipotecas, tudo o que quiserdes, porque o nome nada tem com a instituição em si” (Victor Viana. O Banco do Brasil. Rio de Janeiro, 1926, p. 362). O ousado cronista, ao imaginar uma estrada que partisse de São Cristóvão — a residência do imperador — até ao nada, sugeria, numa imagem, o oficialismo, a especulação, a inanidade da empresa. A mesma nota vibra em outra sátira, esta agora sobre a modernização do fim do século, em O encilhamento, do visconde de Taunay. Queria-se, na voz da caricatura, promover, agora e já, o progresso dentro da ordem, rompendo com a “acautelada morosidade e a paciente procrastinação” da rotina. O País dormia, hipnotizado: era preciso acordá-lo. Malograda a industrialização, a modernização se faria na agricultura, sob a direção do dr. Bogóloff, de Lima Barreto. Os porcos seriam do tamanho dos bois, os bois, do tamanho dos elefantes, graças à ciência, prescrita sacralmente pelo grande químico e fisiologista inglês H. G. Wells.”


Somos uma nação de elite primária, tomo aqui uma posição um pouco diferente do disse Janio de Freitas no Roda Viva da TV Cultura, semanas atrás, pois creio que o povo realmente é melhor que sua elite. 

Como disse acima, em uma nação democrática, republicana essa propaganda seria tirada do ar sumariamente, diantes das graves denúncias, e das pressões socias, mas ao sul do equador, “la nave va”.

Quem viver verá!

Luis Nassif

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