No aniversário da libertação de Auschwitz, mundo não pode ignorar a extrema-direita atual

O retorno da extrema direita apresenta as mesmas ideologias que geraram o Holocausto, mas desta vez com um outro "inimigo"

Um artigo de opinião publicado nesta segunda (27) por AL Jazeera traça um paralelo entre a ideologia fascista dos nazistas e da extrema-direita europeia hoje, que trocou de “inimigo”: antes, os judeus; agora, os muçulmanos e os imigrantes. O artigo ocorre por ocasião do Dia Internacional da Memória do Holocausto, data firmada pelas Nações Unidas em 2005. 

Há exatos 80 anos, o maior campo de concentração e extermínio de judeus era encerrado. O Auschwitz-Birkenau aprisionou cerca de 1,3 milhão de pessoas entre os anos de 1940 e 1945, e pelo menos 1,1 milhão delas foram exterminadas.

Enquanto a Europa celebra oito décadas desde o fim do Holocausto, líderes políticos voltam a ressaltar a importância de combater o ódio e lembrar da “ruptura civilizatória” que o genocídio representou.

No entanto, a ascensão de partidos e movimentos de extrema direita, por todo o continente, coloca em risco este compromisso, principalmente com os novos representantes dessas ideologias fascistas.

Embora muitos desses partidos homenageiem as vítimas do Holocausto e afirmem combater o antissemitismo, suas ações falam mais alto. Em vez de abandonar seu passado fascista, essas forças políticas se adaptaram e continuaram a propagar ideais perigosos de supremacia branca e ódio, agora com um foco crescente na islamofobia, podendo ser considerados como os “herdeiros nazistas”.

Por décadas, a extrema direita na Europa foi marcada por uma retórica abertamente antissemita, com figuras como Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, e Jörg Haider, do Partido da Liberdade, desafiaram o consenso pós-guerra. 

Contudo, nos últimos anos, com a “guerra ao terror” e o medo crescente do islamismo, a medida foi direcionada contra os muçulmanos. Ao mesmo tempo, o apoio a Israel aumentou, melhorando a negação do direito de existência do país pela negação do direito de um estado palestino.

Essa mudança de foco, que encontrou o antissemitismo por islamofobia, provou ser bem sucedida, por volta de 2022, ano também em que a líder do partido pós-fascista Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, tornou-se primeiro-ministro, e em 2023, o partido de Geert Wilders, na Holanda, foi o mais votado. 

Em 2024, a extrema direita participou de grandes vitórias sendo muito significativas em Portugal, França e outros países, com a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Partido da Liberdade da Áustria também avançando. Esse crescimento está diretamente relacionado ao fracasso dos partidos tradicionais em lidar com questões como a imigração e a islamofobia. 

Ao adotar políticas semelhantes às de extrema direita, os partidos de centro ajudam a legitimar essas ideias. Ao mesmo tempo, a incapacidade da esquerda de oferecer alternativas eficazes ao crescente descontentamento social e econômico permitiu que a extrema direita se apresentasse como uma solução para esses problemas.

O mais alarmante é a normalização dessas ideologias nos dias de hoje, já que a extrema direita participa de coalizões governamentais em vários países, e suas ideias radicais, como a “remigração” ou manifestações agressivas de figuras públicas, já não são mais escondidas.

O retorno da extrema direita reflete as mesmas ideologias que geraram o Holocausto. A troca de um inimigo – os judeus – por um novo inimigo, os muçulmanos, ou os imigrantes, e a defesa da supremacia branca, são facetas da mesma ameaça. 

Além disso, a negação do genocídio palestino e o apoio ao massacre em Gaza por parte de alguns líderes europeus reforçam a continuidade de uma mentalidade que não só ignora as lições do passado, mas também coloca em risco o futuro.

Neste cenário, as declarações feitas sobre a libertação de Auschwitz são vazias. O ressurgimento da extrema direita e suas políticas de ódio e racismo deixam claro que o “nunca mais” nunca foi garantido.

*Com informações do Aljazeera

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2 Comentários

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  1. A Inquisição Espanhola só existiu porque Isabel e Fernando, depois de captarem dinheiro junto aos judeus ricos, para financiar sua briga contra os mouros, queriam um ardil pra darem um calote; e “espremer” ainda mais a comunidade judaica, e continuarem se financiando.
    Do mesmo modo, Hitler repetiu o modelo, quase cinco séculos depois. EXTORSÃO. Pura simples. Transformada em latrocínio: matar para roubar.
    Os muçulmanos fogem um pouco a esse padrão.
    Só se mata por bens. Especialmente para tomar os de outrem.
    O resto é preparação.

    1. Prezado Bispo, dentre as 10 maiores reservas de petróleo do mundo, estão países como Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, e Líbia (c.2020).
      Os imigrantes é que fogem ao padrão.
      Os motivos do ódio que despertam no Ocidente Cristão são mais rasteiros, e tem a ver com a nossa sensibilidade olfativa, entre outras coisas. Se é que me entendem.
      A lei judaica proíbe (ou proibia) empréstimos a juros entre judeus, mas para os gentios, tudo liberado. Graças a Deus.
      Dizem que foi assim que prosperaram os banqueiros judeus. Emprestando a juros aos gentios.
      Mas deixem-me pular esse assunto; o ódio e a reação despertadas são sempre avassaladoras.
      A Sra. Hannah Arendt não se furtou a expor as relações entre o nazismo e os judeus ricos. Não sei se chegou a ser considerada oficialmente persona non grata em Israel – mas motivos para isso não faltaram.
      Mas, hoje, certas figuras simpáticas ao Estado de Israel, e mesmo judeus, não escondem o seu fascismo – e seu nazismo, na verdade.
      Não importa se você é judeu, muçulmano, ateu, ou LGBT – se você tiver como comprar seu membership no clube deles, ou mesmo uma vaguinha de serviçal neles, você está numa boa. Se não tiver…boa sorte.
      Só não ofenda seus narizes. E se suar muito nas costas, que Deus te proteja. O que vem por aí será muito pior que as hemorróidas do antigo testamento.

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