Tortura como forma de negação da civilização.

Tortura como forma de negação da civilização.

 

Sem entrar em questões antropológicas, uma nação é civilizada quando o estado e o governo respeitam seus cidadãos. E seus membros se respeitam mutuamente. Quanto maior é esta consideração, mais digna é a sociedade.

Educação, saúde, segurança, trabalho, liberdade de expressão, informação e diversidade étnica-cultural fazem parte deste pacote civilizatório. São os alicerces do mundo moderno. Quebrá-las ou não atingir certos níveis é demonstrar, perante o mundo, que a nação ainda se encontra num estágio de pré-civilização.

A violação desses direitos afeta a imagem de uma nação. Se for a dos Direitos Humanos então, o conceito de país vai para o lixo.  

E por que dos Direitos Humanos? Porque esta transgressão tem uma particularidade. Ela é sempre cometida por parte do Estado para com o cidadão comum. Portanto é desproporcional a força, e covarde por isso mesmo. Além de uma traição. O estado existe justamente para proteger. Não se espera um crime por parte dele. É atroz. Na família, seriam os pais injuriando os filhos, a sociedade não aceita o fato. Com o Estado é a mesma coisa. O cidadão deve exigir justiça e punição para a autoridade que comete infração.

Entre tantas violações a tortura é a mais abominável. Porque além de deixar claro quem está cometendo e em nome de quem age, ela deixa a vítima totalmente impotente. Não há para quem recorrer.

Na idade média foi uso comum e constante para se conseguir a confissão. Com a evolução social e tecnológica essa pratica foi posta de lado. A confissão deixou de ser a rainha de todas as provas.

As autoridades civilizadas preferem uso da inteligência ao invés do terror. Questão de bom senso. E de maturidade.

No período chamado de anos de chumbo os usurpadores do poder preferiram utilizar o segundo método, a tortura. Os militares achavam que a violência era maneira mais rápida de chegar e destruir os que se opunham ao governo. Se eles estavam certo não saberemos. Pois nunca usaram a inteligência para podermos comparar. Não é mesmo?

Bem, o torturado, por razões óbvias, acabava falando. Dizia tudo. Mesmo o que não sabia. Inventava, aumentava. A tortura mais atrapalhava do que ajudava. Pois, para o torturado o que importava mesmo era por fim ao seu martírio.

Também aguentar sessões de pau-de-arara, cadeira do dragão, afogamento, estupros, seios arrancados, testículos esmagados, choques elétricos, ameaças de morte aos familiares, práticas comuns, não era para qualquer um. Até o mais empedernido militante fraquejava.

Por isso a justiça atualmente desqualifica confissões conseguidas através deste método. É uma forma criminosa, inconstitucional e não funciona.

Agora o torturador é um caso aparte. Escolhido a dedo. Tinha que ser violento, frio, calculista, sádico, bitolado, obediente  e insensível. Resumidamente, um psicopata. Do mesmo nível de um Elias Maluco. De um Fernandinho Beira-mar e outros afamados. Ou seja, um verdadeiro profissional da dor. Caso contrário o cara não manteria a compostura. Na Alemanha nazista soldados cometeram suicídio porque não tinham estomago para presenciar crueldades contra outros.

Recentemente, descobriu-se no coronel Brilhante Ustra um exemplar, cada vez mais raro, de torturador. Após a sessão de questionamento, sem tortura, promovido pela comissão da verdade dá para entender a lógica doentia que moveu esta mente humana.

Ele falando nos remeteu aos anos 70. Tratava os que se opunham ao golpe de 64 de comunistas, terroristas, assassinos frios e ditadores proletariados. Câncer a ser eliminado. Os militares? Salvadores da pátria. A dicotomia do bem e do mal. Sem espaço para o meio termo. Para o diálogo.

O ódio exalado por suas palavras desmentia a suas afirmações de que, enquanto comandante, ninguém tinha sido morto dentro das dependências do DOI. Os membros da CNV não precisavam nem mostrar o relatório oficial do exército com os números dos falecidos para desdizê-lo.

A expressão facial do coronel não deixou dúvidas nos ouvintes: estavam diante de um selvagem. Síntese da tortura. O ser que é a própria negação da civilização.

A tortura é sua destruição. É o seu fim. Somente com a verdade, com a punição podemos combater este ato vil. Entrarmos para o rol dos países civilizados. Não há outro caminho. Concordam?

Redação

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