“Trama diabólica”: sem respaldo, Lava Jato planejou monitorar voos dos advogados de Lula

Procuradora fez chegar a Deltan denúncia de vizinha de Valeska Martins, insinuando que advogada teria algo a esconder em casa após viagem a Genebra

Por Cintia Alves

Jornal GGN – Além de ter grampeado irregularmente e monitorado minuto a minuto as conversas dos advogados que defendem Lula na Lava Jato, os procuradores da força-tarefa ainda debateram a possibilidade de rastrear os voos internacionais de Cristiano Zanin e Valeska Martins, sem nenhum respaldo legal.

A “trama diabólica” que desrespeita a intimidade e os direitos constituídos dos advogados foi parcialmente narrada ao Supremo Tribunal Federal em petição encaminhada pela defesa na última sexta (12).

Nas conversas obtidas pela Operação Spoofing, a partir do hackeamento dos celulares de membros da Lava Jato, a defesa de Lula conseguiu identificar um diálogo entre Deltan Dallagnol e uma procuradora identificada como “Anamara”, que possivelmente vem a ser Anamara Osório Silva, Secretária de Cooperação Internacional Adjunta na Procuradoria-Geral da república.

Anamara procurou Dallagnol para dizer que ficou sabendo, por meio de uma vizinha de Zanin e Valeska, que o imóvel onde o casal mora em São Paulo estaria passando por uma aparente reforma, com barulho de quebra de paredes drywall, justamente depois que Valeska fez uma viagem internacional. Os procuradores trataram a obra com suspeita e discutiram ficar de olho nos passos dos advogados.

Em sustentação no STF na terça passada, 9 de fevereiro, quando a Segunda Turma, por 4 votos a 1, decidiu autorizar o compartilhamento de mensagens da Spoofing com a defesa de Lula, Zanin comentou pela primeira vez sobre a “trama”.

A mensagem de Anamara teria sido enviada em 29 de setembro. Zanin não especificou o ano. Anamara escreveu: “Deltan, uma informação que recebi de uma vizinha residencial do advogado Cristiano, do Lula. A esposa dele, Valeska, que você deve saber que é filha do Roberto Teixeira, viajou para Genebra e, desde então, ela tem ouvido eles lixando, quebrando a parede de drywall.”

Deltan respondeu à integrante da PGR: “Obrigado Anamara, acho que vale uma checagem mais geral das viagens.” E, no chat com os colegas de Curitiba, postou a demanda: “Caros, recebi essa info e acho que vale a pena checar saídas do País e destinos. Quem pega isso para analisar?”

“Isso é um escândalo, inaceitável; isso afronta, assola o devido processo legal”, disse Zanin na sustentação no Supremo. “Isso não pode ser assim, [o dossiê da Spoofing] não pode ser soterrado para que ninguém descubra as ilegalidades que aconteceram na Lava Jato para além daquelas que já são conhecidas”, acrescentou.

No documento ao STF, a defesa lembra que companhias aéreas são obrigadas a manter e repassar às autoridades, quando solicitado, dados sobre reservas e registros de viagens que ocorreram nos últimos 5 anos, segundo o art. 16 da Lei nº.12.850/2013. Mas, para isso, precisaria existir uma investigação individualizada sobre os alvos de tal medida, “envolvendo a hipótese de crime de organização criminosa”, que não é o caso de Zanin e Valeska. “Jamais para acesso geral e irrestrito de dados por membros do Ministério Público”, ao contrário do que foi cogitado por Deltan Dallagnol.

“É preciso dizer mais? Ou relembrar que anteriormente a ‘Lava Jato’ havia interceptado de forma dissimulada o principal ramal do escritório de advocacia destes subscritores para monitorar em tempo real a estratégia de defesa? Na verdade, a trama diabólica entre membros do Ministério Público contra os advogados do Reclamante, para inviabilizar o direito de defesa deste último, também emerge do material analisado e em breve será explicitada”, anotou a defesa, indicando que deverá fornecer mais detalhes em futuras petições.

Redação

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