Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

Vazamento da CNN revela que ataques de Brasília foram uma bomba semiótica transmídia, por Wilson Ferreira

Bomba semiótica completa: polissemia, novidade, efemeridade, movimento e imprevisibilidade. E, principalmente, os sincronismos

Vazamento da CNN revela que ataques de Brasília foram uma bomba semiótica transmídia

por Wilson Roberto Vieira Ferreira

O “vazamento” da CNN do vídeo que fez cair o ministro-chefe do GSI foi a evidência de que os ataques de 08/01 em Brasília foram muito mais uma calculada bomba semiótica transmídia, do que uma tentativa real de um clássico golpe de Estado. O suposto vazamento tornou inevitável para o Governo a CPI, prometendo expandir o universo narrativo dos ataques de janeiro em múltiplas mídias e plataformas – cada vez mais o circo midiático das CPIs é transmídia. Bomba semiótica completa: polissemia, novidade, efemeridade, movimento e imprevisibilidade. E, principalmente, os sincronismos em torno do “vazamento” nesta semana. A invasão de Brasília foi um golpe virtual para a TV. O início de um universo em expansão que ameaça virar um golpe real. 

Desde o início ficou claro que a invasão dos prédios dos três poderes em Brasília não era uma ação comum, do tipo golpe de Estado clássico – e nem pretendia ser. Tudo era de flagrante inutilidade para os golpistas: invadiram e depredaram prédios vazios, deixados propositalmente abertos e vulneráveis. Num domingo à tarde, ensolarado. Dezenas de ônibus chegando à cidade como se fosse acontecer algum festival ou qualquer outro evento turístico, religioso ou esportivo.

A paisagem bucólica rendia ótimas selfies para as redes dos patriotas que transformaram o evento numa espécie de parque temático do golpe – tudo parecia uma encenação, ópera bufa, um wanna be de golpe. Estavam lá apenas signos, cujo objetivo era render um bom espetáculo ao vivo pela TV… e assim foi.

Ao mesmo tempo, esse verdadeiro inside job militar sabia que dificilmente Lula morderia a isca. Ele é esperto demais para acionar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e deixar tudo sob o controle das Forças Armadas. Seria como assinar o recibo do golpe. Como sabemos, decidiu acertadamente fazer intervenção civil no governo do DF. 

Com tantas provas, evidências, registros audiovisuais, sincronismos para todos os lados que eram exibidos nos telejornais e gravações internas das câmeras de segurança dos prédios invadidos, tudo apontando para os graúdos artífices de toda encenação, era para os envolvidos serem sumariamente presos e condenados – lembre, caro leitor, como a ex-presidente interina da Bolívia, a direitista Jeanine Áñez, foi condenada a 10 anos de prisão, acusada de ter realizado um golpe contra seu antecessor, o esquerdista Evo Morales, em 2019… 

Pelo contrário, os “atos anti-democráticos” viraram uma “retranca” no jornalismo, naturalizado pelos capítulos diários sobre os trâmites legais dos “manés” presos, depoimentos, imagens diárias nos canais de notícias identificando um por um dos patriotas.

Enquanto todas essas figuras que estrelavam o jornalismo diário assumiam o papel de buchas de canhão de anônimos chefes e financiadores, o “08/01” (algo assim como a grife “11/09” para os americanos) jamais saiu das escaladas de telejornais ou notas em colunas ou chamadas de primeira página.

Parece que deliberadamente tanto Justiça como grande mídia fizeram questão de transformar o “ataque à Democracia” numa série com uma temporada interminável. Para quê? Bem, nessa semana vimos o porquê.

Três meses depois, como o “08/01” propositalmente não é resolvido e passou a ter um ótimo recall na opinião pública, surge um “vazamento” no canal CNN: um vídeo mostrando o ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, dentro do Palácio do Planalto, durante as invasões em 08/01. Supostamente, o general, junto com outros servidores, ajudava os invasores no interior do Palácio.

General Gonçalves Dias, o “militar de confiança de Lula”, como alguns colonistas fizeram questão de enfatizar. “Cai o primeiro ministro de Lula”, exultaram as escaladas, portais e capas de jornalões. 

Resistente desde o início a instaurar uma CPI dos atos anti-democráticos (“a PF já está investigando, dizia), Lula acabou jogado contra as cordas… xeque-mate! Se o “militar de confiança” estava do lado dos invasores e Lula colheu lucros políticos com a crise, então supostamente o governo poderia estar escondendo algo: de que também incentivou os ataques para faturar politicamente sobre o evento.

Sem saída, o PT terá que aceitar uma CPI que, como sempre, virará um reality show com debates entre surdos, com os olhos dos deputados vidrados em seus celulares tentando lacrar nas redes sociais. E embaralhando a urgente agenda econômica do Governo.

Narrativa transmídia

O 08/01 não foi uma tentativa de golpe, mas uma calculada bomba semiótica transmídia, cujo objetivo nunca esteve nas invasões em si, mas no potencial de um evento se transformar num universo em expansão – como é da própria natureza de uma narrativa transmídia.

Narrativa transmídia é um tipo de roteiro no qual são combinadas situações ficcionais com a realidade recorrendo a diversas mídias do mundo real e múltiplas plataformas de maneira a proporcionar ao receptor uma experiência imersiva. 

Enquanto na narrativa tradicional há começo, meio e fim, ao contrário, na transmídia a história nunca termina porque vai continuar em múltiplas plataformas. Propositalmente os roteiristas deixam soltos e sem explicação diversas sequências de episódios para incitar os espectadores a criar diversas interpretações em múltiplas mídias – chats, fóruns, redes e mídias sociais.

Desde o início as invasões de Brasília mostraram-se como catástrofe virtual com um fio solto fundamental: a ambiguidade – quem financiou? Quem ganhou com o evento?

Continue lendo no Cinegnose.

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3 Comentários

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  1. Nassif, texto inócuo e sem realidade política, essa análise, não condiz com a realidade estratégica, o estrago na direita já foi feito, nenhum circo de CPI muda isso, não tem esquerdista preso e nem réu. O ataque foi coisa infantil e de desespero, este texto tenta dá notoriedade, ao imaginário, não condiz com nada do acontecido. Texto pobre e de teoria fantasiosa.

  2. Será? A gente percebe o quanto o Lula está preocupado com a política interna e essa crise do GSI. Tanto que está fazendo um tour pela Europa até dizer “Chega”, e quando chega em Portugal leva um chega pra lá de brasilerentos com plaquinhas de Lulaladrão, em vez de ficar por aqui tomando conta da horta. Se Lula ficou doente a ponto de desmarcar a desejada viagem para a China apenas para não deixar que o bolsonaro fosse recebido de volta ao país com pompas e palhaçadas no aeroporto, não terá sido a “denúncia” da CNN um ataque capaz de preocupar Lula. Muito pelo contrário, nada mais oportuno que um escândalo capaz de “macular” um ministro milico de seu governo. A conveniência e a oportunidade também alcançarão o Múcio e o murcho do Heleno com um lindo bilhete azul. Se é para ler nas entrelinhas, a “resistência” do governo em abrir uma CPI do golpe esperava apenas a melhor oportunidade. Agora o espetáculo vai expor as entranhas do golpe e despir o exército de toda a sua arrogância. Já está ficando chato pra eles não ter “nomes de confiança” para a chefia do finado GSI – porque vai ser finado, muito provavelmente, ainda que possa permanecer por um tempo respirando por aparelhos.

  3. O ataque aos prédios dos poderes certamente não foi o golpe, nem chegou perto: os acampados não eram o golpe ,nem os excursionistas da fieira de ônibus: o golpe não deu as caras; os ” patriotas” ficaram esperando; eles queriam as ffaa: imaginavam sargentos com caras de Pitbull prendendo e arrebentando…quem? O povo eram eles,os ” patriotas ..!

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