Peça 1 – a CPI e os linchamentos
Linchamento público é um dos recursos mais baixos do jornalismo corporativo. Aumenta a audiência, o poder de coerção da mídia, permite a celebração selvagem da unanimidade em torno de um sentimento primal, que sobrevive a todas as civilizações.
Em mercados desenvolvidos – e competitivos – um dos componentes saudáveis do jornalismo é a busca de versões e interpretações novas, especialmente em coberturas continuadas. É o que permite aos melhores veículos romper com a unanimidade dos linchamentos, buscando ângulos não explorados e permitindo, assim, que o público tenha acesso a mais informações para poder formar seu juízo, sem a indução sanguinolenta da malhação de Judas.
Aliás, recomendo “Doze Homens e uma Sentença”, um clássico de Sidney Lumet, filme de 1957 – logo após o macarthismo -, que descreve magistralmente esses movimentos de opinião. Começa com 11 jurados votando pela condenação do réu, sem analisar os fatos, sendo puxados por um besta fera punitivista, soltando raios de ódio pelos olhos.
Depois, gradativamente, o 12o jurado, interpretado por Henry Fonda, vai colocando fatos e raciocínios na discussão. E os demais jurados vão se imbuindo gradativamente dos princípios básicos de direitos, mudando aos poucos sua posição. No começo, com relutância por ir contra a maioria. Depois, aderindo quando as informações e conceitos do personagem de Fonda conseguem penetrar na carcaça classe média e eles se percebem não apenas jurados de um caso, mas defensores de princípios.
Quando isso ocorre, dão-se conta da figura tóxica do jurado punitivista – uma interpretação notável de L.J. Cobb – e passam a ter por ele o mesmo asco que desperta, nas pessoas civilizadas, o contato com bolsonaristas de raiz.
À esquerda ou à direita, especialmente na mídia, a discussão pública brasileira não obedece a princípios. A competição sadia por fatos novos não penetrou na mídia, apesar da Lava Jato, da Escola Base, do Bar Bodega, do caso Alceni Guerra e tantos outros. Nem a entrada de veículos novos ajudou a arejar a mídia. Há um bolor que impregna todos os poros e diminui o jornalismo brasileiro.
No caso Escola Base, jornalistas receberam informações preciosas dos advogados dos donos da escola, mostrando que as marcas nos ânus das crianças – que o delegado e a mídia atribuíam a orgias com professores – não passavam de assaduras, segundo laudos do Instituto Médico Legal. Soube disso por jornalistas que cobriam o caso e não conseguiram divulgar em seus respectivos veículos. Fui o único a dar essa informação, para romper com o linchamento.
Agora, analiso o caso Prevent Senior a partir do dossiê preparado pelos 12 médicos e uma advogada. O relator da CPI, senador Renan Calheiros, manteve o documento sob sigilo a pretexto de garantir a segurança dos denunciantes. Não facultou o documento sequer aos acusados.
Recebi de jornalista de grande veículo, possivelmente pela impossibilidade de divulgar uma análise isenta em seu próprio veículo. Afinal, nenhum veículo – enfatizo: nenhum veículo! – até agora noticiou sequer as manifestações diárias de clientes e funcionários em defesa da Prevent Senior contra os massacres de que é alvo.
Peça 2 – 12 médicos e uma sentença
Duas informações são essenciais, antes de começar a análise do dossiê.
- Os médicos tiveram acesso a todas as mensagens enviadas através de WhatsApp.
- Conforme o próprio dossiê informa, tiveram acesso a todos os prontuários de pacientes.
Portanto, em tese, teriam todas as condições de reforçar suas acusações com provas.
O dossiê tem 65 páginas.
Página 3 à 5 – apresenta, em tom de denúncia, que a Prevent Senior exige lealdade e obediência do corpo médico. E que médicos que não se enquadram são punidos com demissão. É característica de qualquer organização, pública ou privada, que busca a eficiência.
Página 6 – em 16 de março de 2020, 8 médicos que atuavam na linha de frente fizeram consulta sob alegação de que estavam impedidos de usar equipamento de proteção individual. O dossiê mostra trechos de WhatsApp com recomendações sobre “uso racional de máscaras”. Como conferir a afirmação? Simples: ouvindo a assessoria de imprensa da Prevent. Consultada, ela explicaria que a mensagem foi passada no início da pandemia, quando hospitais e empresas de saúde tateavam sobre o que fazer. E a orientação teria sido revista 8 dias depois. Aí se teria um argumento concreto na mão, que poderia ser confirmado ou desmentido pelas testemunhas.
Páginas 7 a 9 – o título indica o conteúdo: “Da suposta aliança com o governo”. Relata as ameaças do Ministro Henrique Mandetta à empresa e a informação de que “supostamente” teriam procurado proteção junto a “supostos” assessores palacianos. Após o “suposto pacto”, teriam se aconselhado com o toxicologista Dr. Antony Wong, a imunologista Dra. Nise Yamaguchi e o virologista Dr. Paolo Zanotto.
A palavra “suposto” aparece 13 vezes no documento; “suposta” aparece 14 vezes; “supostamente” aparece 17 vezes. No total, 44 suposições em um documento de 65 páginas mantido sob sigilo, e tido como peça central de uma acusação que visa destruir um plano de saúde que atende 550 mil pacientes rejeitados pelos demais planos.
Página 10 e 11 – informa que o Diretor Clínico explicou que foi-lhe pedido pelo governo que “apenas colaborassem com o protocolo de atendimento”, mas depois solicitaram que colaborassem com o protocolo de pesquisa. Depois, descreve uma estratégia óbvia do governo, como se tivessem sido obtidas por mensagens secretas transmitidas através de “comentários confidenciados”.
“Segundo comentários confidenciados ao Diretor Clínico, as estratégias adotadas pelo Governo Federal seriam conduzidas pelo próprio presidente Bolsonaro, sob orientação dos assessores”.
A “prova” apresentada é o próprio protocolo da Prevent Senior.
“Como prova da veracidade dos fatos narrados, segue nos documentos anexos alguns dos protocolos descritos em que está clara a determinação para uso de medicamentos sem eficácia comprovada”.
Ou seja, levanta um documento público e notório – os protocolos da Prevent Senior – para tratar a doença – e apresenta como prova que ela participou da elaboração da estratégia de governo, também pública e notória.
Ali, fica-se sabendo que “guardiões” – mencionados no hino da Prevent como chamamento nazista – é uma função gerencial do modelo Prevent.
Página 12 – traz uma mensagem de WhatsApp comprovando que todos os pacientes encaminhados pela Teletriagem passavam por exame de tomografia de tórax. E que os pacientes “descompensados em franca insuficiência respiratória” deveriam ser imediatamente encaminhados à sala de emergência para atendimento imediato. Portanto, o próprio dossiê desmente a informação reiteradamente ecoada pela CPI de que todos os esforços da Prevent visavam abreviar a vida dos pacientes para reduzir os custos.
Página 13 – mostra informação pública, de entrevista do diretor clínico à CNN, admitindo que ministravam cloroquina.
Página 14 – Publica mensagem do Diretor Clínico orientando os médicos a selecionarem pacientes que poderiam entrar na pesquisa sobre hidroxicloroquina.
A mensagem orienta os médicos para que encaminhem ao responsável pelo programa todos os nomes de pacientes suspeitos de Covid-19. Há uma observação:
“Não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”.
Se a mensagem se refere à seleção para o programa, fica claro que pede para não informar os pacientes na fase de seleção do programa. Mesmo porque, se é uma seleção, significa que apenas parte dos pacientes será escolhida.
No entanto, essa interpretação do trecho da mensagem serviu de combustível para uma das acusações mais sérias contra a Prevent Sênior: a de que ocultava o tratamento dos pacientes que já estavam no programa.
Consultando a assessoria de imprensa da Prevent, fica-se sabendo que a recomendação era para não despertar nos pacientes a ideia do tratamento alternativo, porque muitos deles não se enquadrariam nos quesitos – justamente aqueles que poderiam ser negativamente afetados pelo tratamento, devido à existência de doenças prévias.
Página 15 – Mesmo assim, com base nessa livre interpretação, o dossiê conclui – sem a apresentação de qualquer elemento de prova – que
- “o objetivo (de não informar os pacientes) era supostamente manipular os resultados”.
- “Por sua vez, a manipulação de resultados teria por objetivo supostamente provar que o discurso e as diretrizes informadas pelo governo federal e seus aliados seriam verídicas.”
Nenhuma prova: apenas convicções, como na Lava Jato.
Em entrevistas na época, antes do assunto virar tabu, o Diretor Técnico havia dito que o trabalho da Prevent, até então, consistia em levantar estatisticamente a incidência do Covid em pacientes que já consumiam hidroxicloroquina para outras doenças; e comparar com pacientes que não consumiam. O dossiê coloca todos esses pacientes como “cobaias”, sem explicar que já eram usuários do medicamento.
Essas questões poderiam ter sido apresentadas ao Diretor Técnico na sua sabatina na CPI, mas não foram. Seria simples ler um relatório de 65 páginas e levantar as acusações principais, de maneira extremamente competente como foi feito com a Global, a Precisa, o banco que não era banco, casos muito mais complexos.
No entanto, o Diretor Técnico não só não foi indagado sobre fatos específicos, como foi praticamente impedido de dar qualquer explicação. No interrogatório, pretendia-se que respondesse apenas “sim ou não” às questões formuladas e que se encaixavam nas acusações gerais. E a juíza que estranhou um julgamento em que o acusado era impedido de se defender foi denunciada ao Conselho Nacional de Justiça por senadores que se tornaram meninos super-poderosos, graças ao endosso acrítico da mídia.
Página 16 – Continua o relatório: “Quando foi solicitada a autorização pela pesquisa em 6 (seis) de abril de 2020, os pacientes da Rede Prevent Senior, sem ciência, já estavam servindo de “cobaias humanas” desde 26 (vinte e seis) de março”.
Reparem na cronologia:
* 26 de março: a mensagem diz que é para começar a selecionar os pacientes candidatos aos estudos. O dossiê transforma o início da seleção em aplicação efetiva do tratamento.
* 6 de abril (10 dias depois), segundo o dossiê, os pacientes foram transformados em “cobaias humanas”. Ou seja, em 10 dias selecionaram, e começaram o tratamento. Nem separa os pacientes que já tomavam hidroxicloroquina para outras doenças.
* 14 de abril: concedida a autorização para iniciar as pesquisas;
* 20 de abril: a pesquisa foi suspensa porque não foi possível montar o grupo placebo (o que não receberia remédios, para efeito de comparação).
Todas essas informações foram retiradas do dossiê. Ou seja, segundo o dossiê, não houve a pesquisa. Como fica, então, a menção às “cobaias humanas”?
Página 17 a 20 – descrição dos métodos científicos, preparado por uma especialista e sem nenhuma relação com as denúncias.
Sobre isso, falarei em um capítulo à parte.
Página 21 e 22 – menciona interesses econômicos e políticos da Prevent Senior. Os interesses econômicos estariam ligados à distribuição do kit Covid – que era entregue de graça. O ganho seria a captação de pacientes procurando tratamento. Esta semana, em reunião com planos de saúde, o Ministro Queiroga admitiu que todos hospitais e planos recorreram à hidroxicloroquina por absoluta falta de indicação de outros remédios.
Página 23 a 27 – menciona a propagação das desinformações em parceria com os assessores. As “provas” são entrevistas de Pedro Batista, o diretor clínico, ao lado de Paolo Zanotto e de Nise Yamaguchi. Em uma delas – com a presença de Roberto Kalil Filho (que tem um programa na CNN) – Kalil afirma que “se existem evidências em uma doença desconhecida, todas as armas que pudermos utilizar, nós devemos utilizar”.
Outras “provas” foram o apoio ao tratamento por blogs ligados a Bolsonaro e a Olavo de Carvalho, além do apoio de médicos defensores da cloroquina.
Páginas 28 a 29 – informações sobre as estratégias da Prevent de aplicar o tratamento nos primeiros dias de suspeita da doença. Nenhum dado novo relevante.
Página 30 e 31 – dados sobre o Código de Ética Médico. Nenhuma prova criminal.
Páginas 32 e 33 – “denunciam” gráficos de desempenho dos médicos, “induzindo a competitividade entre os médicos, que passaram a ter metas de prescrição de medicamentos”. Ou seja, tratando como suspeitas ferramentas básicas de gestão.
O dossiê mostra mensagem de 11 de junho de 2020 para afirmar que os médicos continuaram obrigados a manter altos os níveis de prescrição mesmo com a redução de casos de Covid. Em 11 de junho de 2020 a pandemia estava em plena expansão.
Página 34 a 35 – Diz que “as descrições dos Diretores Clínicos das Unidades dos Hospitais da Rede Prevent Senior eram assombrosas sobre o uso dos mais diversos medicamentos e tratamentos experimentais em pacientes graves”. Não mostra nenhuma mensagem ou evidência para o “assombroso” da afirmação.
“Se não fosse pela mensagem anexa seria impossível conceber que um médico intitulado Diretor Executivo, tenha proposto e induzido que médicos testassem medicamentos sem eficácia em pacientes com doenças crônicas graves”.
Não coloca o óbvio O medicamento “sem eficácia” não substituiu nenhum medicamento “com eficácia” pela relevante razão de que não existiam medicamentos “com eficácia” comprovada contra Covid. A acusação maior – de não ter eficácia – é transformada em “medicamento que matava pacientes”.
Outra afirmação grave, sem nenhuma comprovação:
“Quando questionados por quais razões essas orientações eram transmitidas, as respostas eram sempre a mesma: caso os pacientes evoluíssem para óbito a família não saberia que foram feitos de cobaias.”
Ou seja, a advogada dos médicos faz uma acusação gravíssima contra a empresa. E a única prova são as declarações em off de um dos médicos que quer processar a empresa. Com acesso a todas as mensagens transmitidas pelo WhatsApp não apresentou nenhuma que comprovasse a afirmação. E a CPI aceitou como prova alegando que as provas estavam no dossiê secreto, que não podia ser divulgado. A imprensa endossou a explicação e deu um cheque em branco para o dossiê secreto. Agora, divulgado, mostra não haver tais provas. Qual a diferença dos fake news das redes bolsonaristas?
Página 36 e 37– começa a avançar em explicações para os interesses em jogo, emulando o estilo Lava Jato, que dividia as organizações criminosas entre grupos especializados.
- Fornecimento de medicamentos pela Vitamedic.
- Fornecimento de dados (“evidências”)
- Fornecimento de informações.
Segundo a lógica, “os médicos consulentes informavam que a Vitamedic lucrava com a venda de medicamentos, a Prevent lucrava com a adesão dos planos de saúde cuja publicidade vinha dos assessores que eram financiados pela Vitamedic”.
Diz que, com esse ciclo, “mais pacientes evoluíram para óbitos e mais informações inverídicas do suposto processo de tratamento precoce se propagaram”. Ora, a doença matava, sim. Se não há nenhuma evidência de que o tratamento curava, também não há nenhuma evidência de que matava – a não ser na tragédia criminosa do hospital em Manaus.
Com acesso a todo banco de dados da operadora, o dossiê não apresentou uma evidência que endossasse acusação de tal gravidade.
Página 38 a 43 – diz que um coordenador afirmou que se sentia como se participasse do Terceiro Reich. Bastou isso, uma declaração de um coordenador não identificado, que nada fica a dever aos editoriais do Estadão, comparando Lula e Bolsonaro, ou os ataques da direita contra a Odebrecht, “empresa petista”, para um enorme levantamento dos crimes do nazismo.
Diz o relatório:
Métodos nazistas
“Natzweiler e Sachsenhausen, os prisioneiros foram sujeitos aos perigosos gases fosgênio e mostarda, com o objetivo de testar possíveis antídotos”.
Métodos da Prevent Senior
“Os médicos consulentes relataram que durante a Pandemia do COVID 19, a Rede Prevent Senior utilizou medicamentos sem eficácia comprovada para supostamente estudar a doença”.
Página 43 a 52 – longa exposição sobre a ética médica, explicada de modo genérico.
Página 53 a 64– sobre o “acolhimento”, um procedimento em que enfermeiro também atendiam os pacientes em um sistema aberto nos computadores consultório médicos. Nada a ver com as acusações, apenas críticas aos métodos da Prevent.
Página 65 – Caso Antony Wong
Página 66 – caso Regina Hang
Peça 5 – o hino “nazista”
Até o hino da Prevent – uma música de baixa qualidade, composta por um dos donos – foi apresentado como prova de padrão nazista.
Gravação mostra hino que, segundo advogada, médicos da Prevent Senior eram obrigados a cantar; ouça
Áudio: médicos da Prevent cantavam hino da operadora; comentaristas repercutem
E a prova estaria na letra:
Nascemos para trilhar
Um caminho a desbravar
Nascemos para viver
De lutas até morrer
E juntos nós estaremos
E juntos nós venceremos
Com espadas e com canhões
O hino é tratado como prova de que a Prevent Senior seria uma seita. A resposta da empresa é ironizada pela reportagem da Globonews, conforme pode-se conferir nos links.
O tal hino apenas emula hinos de times de futebol brasileiros. “Guardiões”, no caso – como o próprio dossiê informa -, é uma classificação de funcionários incumbidos de garantir os padrões de atendimento do plano.
Hino da Prevent – “Nascemos para trilhar / Um caminho a desbravar / Nascemos para viver / De lutas até morrer / E, juntos, nós estaremos / E, juntos, nós venceremos / Com espadas e canhões / Nós somos os guardiões
Atlético Mineiro – “Lutar, lutar, lutar / Pelos gramados do mundo pra vencer / Clube Atlético Mineiro / Uma vez até morrer
Santos Futebol Clube – “Sua bandeira no mastro é a história / De um passado e um presente só de glórias / Nascer, viver e no Santos morrer / É um orgulho que nem todos podem ter
Bangú – “O Bangu tem também como divisa na camisa, / O vermelho sangue a brilhar”.
Paysandu – “Lutar”! eis a divisa que trazemos! / “Vencer”! eis a esperança que nos guia! / (…) Cada um de nós guarda no peito / Amamos os combates! E na luta / Como antigos heróis nos comportamos /Por isso a vez do público se escuta / Saudar o Paysandu com meus aclamos
Palmeiras – “Quando surge o alviverde imponente / No gramado em que a luta o aguarda / Sabe bem o que vem pela frente / Que a dureza do prélio não tarda! / E o Palmeiras no ardor da partida / Transformando a lealdade em padrão”
Atlético Paranaense – “A tradição vigor sem jaça / Nos legou o sangue forte / Rubro-negro é quem tem raça / E não teme a própria morte”
Cruzeiro Esporte Clube – “Nos gramados de Minas Gerais / Temos páginas heróicas e imortais / Cruzeiro, Cruzeiro querido / Tão combatido, jamais vencido!
Peça 6 – o método científico e o empírico
Esta semana publiquei um artigo mostrando a importância da observação empírica como método de análise, a partir do Prêmio Nobel de Economia dado aos economistas que rebateram as teorias convencionais de que aumento de salário mínimo provocaria desemprego.
O Nobel de economia e a importância da observação empírica, por…
Na página 17, o próprio dossiê descreve esses métodos.
O método científico exige um grupo experimental e um grupo de controle, parte recebendo o medicamento e parte recebendo o placebo.
Na introdução de novos medicamentos, é necessário um grupo de pacientes recebendo medicamentos de eficácia comprovada e outro, recebendo o medicamento em teste. Só que, no caso da Covid, não havia nenhum medicamento de eficácia comprovada.
O método empírico, no caso, consiste em observar dois grupos de pacientes, divididos de acordo com critérios médicos – o tipo de medicamento que usam, por exemplo – e tirar conclusões estatisticamente relevantes. Com base na ficha de seus pacientes, a Prevent levantou que o público que já tomava hidroxicloroquina tinha menos incidência de Covid que os demais.
Não se tratava de pesquisa científica, mas de observação empírica.
Peça 7 – hidroxicloroquina contra a vacina
No meio do caminho, em cima das pesquisas do francês Didier Raoult, Donald Trump e o próprio Bolsonaro iniciam uma campanha insana de apresentar a hidroxicloroquina como alternativa à vacinação. Ai, tudo se torna guerra santa. O estudo-observação da Prevent é massacrado nas publicações científicas por uma razão óbvia: era apenas uma observação, sem obedecer aos critérios da pesquisa científica. Mas estava dentro de uma temática que se tornara o centro da disputa do terraplanismo de ultra-direita contra a ciência.
Nenhum médico sério, nenhum hospital sério, a não ser o Senador Heinz – que queria convocar o doutor Anthony Fauci, responsável pela vacinação nos EUA, para dar explicações na CPI – endossou essa loucura de Trump-Bolsonaro contra a vacina. Mas muitos não tiveram a coragem de vir a público romper com essa dicotomia criminosa propagada pelo bolsonarismo. Por omissão, interesse ou conivência, cometeram crime grave, sim.
O crime da Prevent não foi prescrever um medicamento de eficácia não comprovada, com acompanhamento médico, em uma epidemia em que não havia nenhum medicamento de eficácia comprovada identificado. Quando a politização explodiu, a Prevent Senior simplesmente se recolheu, deixou de divulgar seus estudos. E, calando-se, consentiu que o bolsonarismo utilizasse o tratamento como arma anti-vacina.
Este é o crime – e não é coisa pequena. É falta gravíssima sim, e por ela terão que responder não a empresa Prevent Senior, nem o Conselho Federal de Medicina, as associações de médicos pró-cloroquina, mas as pessoas físicas por trás das (in)decisões.
Um dos álibis mais frequentes para essas campanhas de linchamento é o mote, “ele errou assim, logo não faz mal acusá-lo de ter errado assado”. Acusar alguém de algo que não fez, a pretexto de outros malfeitos que ele fez, continua sendo mentira, notícia falsa, anti-jornalismo.
Mesmo porque, a qualificação correta dos erros é fundamental para impedir as jogadas que sempre se escondem por trás da caça ao Judas do momento.
Peça 8 – sobre bruxos e inquisidores
Tentando estabelecer um mínimo de discernimento nessa batalha sem heróis, em que os bruxos querem queimar as vacinas, e os inquisidores pretendem queimar os bruxos:
- Receitar hidroxicloroquina, com acompanhamento médico, não é crime, mesmo se houver dúvidas sobre sua eficácia. Ainda mais se for ministrada com acompanhamento médico, impedindo seu uso por pacientes com comorbidades. Praticamente todos os grandes hospitais e planos de saúde recorreram a tratamentos alternativos – a maioria, com os medicamentos adotados pela Prevent – por absoluta falta de alternativas.
- Estimular a venda maciça de hidroxicloroquina, e a automedicação, é crime.
- Não se usa a hidroxicloroquina para economizar custos, a não ser que se acredite em seus poderes curativos.
- Utilizar a hidroxicloroquina para combater vacinas e medidas de prevenção, é crime.
- Afirmar que um plano de saúde mata pacientes para redução de custos é terraplanismo.
Peça 9 – conclusões finais
Quando a Covid explodiu, pegou o sistema hospitalar de guarda baixa. A Prevent foi uma das mais afetadas, justamente por ter o público mais idoso. Mandetta – homem da Unimed – viu a oportunidade de destruir um inimigo incômodo já que a Prevent expunha de forma ampla a ineficiência do sistema: conseguia atender público idoso com mensalidades de até metade do valor dos outros planos, com atendimento de bom nível e sem abrir capital, e tendo lucro.
A jogada passou em branco. Até o dossiê dos 12 médicos menciona o golpe de Mandetta, mas a imprensa sumiu com o episódio – com exceção de uma menção extremamente cuidadosa do Elio Gaspari – porque Mandetta já era “gente nossa”.
Para se defender, a empresa, que até então não tinha nenhum histórico de ligações políticas, se aproximou do governo Bolsonaro através dos tais consultores.
Declarada a guerra política, iniciou-se um vale-tudo que a mídia aderiu de forma indesculpável. No período de maior caos, provocado pela pandemia, todas as UTIs lotaram, a confusão se espalhou por todos os hospitais. Se quisesse, a CPI poderia levantar facilmente um erro de diagnóstico em cada grande hospital.
Mas levantou um caso de erro de diagnóstico da Prevent – em um universo de 550 mil segurados! – e transformou em regra geral: o plano que matava pacientes para economizar.
E não ocorreu a nenhum veículo de imprensa explorar uma questão central: o paciente vítima do erro declarou que continuava cliente da Prevent porque era bem tratado. Como assim? Um prisioneiro de Treblinka, podendo escapar, optaria por continuar? Esconderam a declaração, como têm escondido todas as manifestações de funcionários e clientes em favor da empresa.
Por seu estilo, a empresa é órfã de mídia – não anuncia nos veículos de comunicação – e de mercado – nunca quis abrir capital. A partir do modelo Prevent, os principais banqueiros de investimento, alguns com influência nítida na mídia, outros com ligações estreitas com membros da CPI, deram-se conta que havia uma ineficiência generalizada no mercado de saúde privado – demonstrada pelo modelo Prevent, com mensalidades custando metade dos concorrentes, atendimento melhor e boa rentabilidade. Dessa constatação nasceram grandes negócios de fusão e capitalização, capitaneados por grupos como o BTG Pactual e o Opportunity.
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Não há, até agora, provas de que qualquer desses grupos esteja por trás da campanha contra a Prevent Senior, ou que haja qualquer intenção dos senadores da CPI, que não os ganhos políticos decorrentes de um trabalho meritório, fundamental para expor as chagas do bolsonarismo.
Mas um eventual enfraquecimento da Prevent, se se tornasse irreversível, obrigaria a empresa a ser vendida para outro grupo e outra marca, em um mercado em que há gigantescas inversões de recursos para a consolidação de grupos de saúde. Apenas com as operações de venda de participação do grupo D´Or, o BTG Pactual embolsou mais de R$ 2 bilhões.
É nesse quadro de grandes interesses em jogo que chamou atenção a frente única da mídia contra a Prevent. E, principalmente, a posição do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) de abrir uma campanha propondo simplesmente a venda da carteira de clientes da Prevent, através de um site cujo domínio é de uma empresa desconhecida, sediada em Atlanta.
As primeiras evidências da guerra comercial em torno do caso Prevent
Qual a razão do relator da CPI saudar a parceria que tinha com o IDEC e insistir nessa venda de carteira, antes mesmo da Agência Nacional de Saúde Suplementar investigar as acusações? Ou dos ataques sistemáticos ao modelo de verticalização da empresa – fundamental para racionalização de custos – como se fosse mero expediente para esconder erros?
É nesses momentos que fica mais nítido o déficit de jornalismo do país. Uma cobertura técnica seria de mais difícil compreensão dos leitores – viciados em vilões de histórias em quadrinho. Mas o modelo da mídia é Datena ou os grandes veículos internacionais?
Os responsáveis pela Prevent erraram gravemente endossando a campanha de Bolsonaro. Mas, a partir daí, todas as notícias falsas contra ela ficam liberadas? E como fica o jornalismo?
Um jornalismo maduro permitiria identificar claramente os pecados da operadora e discutir as punições cabíveis. Mas impediria as desconfianças sobre as grandes jogadas que se escondem atrás de campanhas de linchamento. E, principalmente, que seja destruído, da mesma maneira com que a Lava Jato destruiu centenas de milhares de empregos, um plano que atende 550 mil órfãos de planos de saúde.
Se terminasse uma semana antes, a CPI teria sido perfeita. Terminando agora, sai arranhada. Mas ainda na condição de uma CPI essencial para desvendar as tramas do mais inescrupuloso sistema de poder que se apossou do Brasil. Mesmo assim, daqui pela frente, diluída a bolha de linchamento, o caso Prevent irá pairar como uma sombra incômoda sobre a reputação da CPI.
Artigo publicado originalmente no GGN em 16/10/21
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Singular e responsável! É o mínimo que posso dizer. Após ter lido seu primeiro artigo sobre o tema, de pronto fiquei sem entender o quê estava acontecendo… mas a “pulga” atrás da orelha já se instalou…
Método Lava Jato! Quantos mais casos similares veremos daqui pra frente, ou até mesmo, quantos já aconteceram como “laboratório” para o principal?
Valeu Nassif!
Lamentável!!!
O diabo cobra os pactos.
Costumo dizer que a coisa mais difícil de se encontrar hoje em dia é a verdade. Ainda mais quando a maioria dessas “verdades” nos chegam em alguns poucos caracteres limitados pelos donos das redes sociais. Ler artigos como esse acende uma luz para iluminar essa busca. Parabéns pelo artigo.
Nassif, não entrarei no mérito de todo seu artigo. Também acho que a empresa deve ser preservada, fato que não tem sido usual no Brasil. Aponto apenas um parágrafo onde acho que você justifica como ferramenta básica de gestão (normaliza) uma competitividade antiética, senão criminosa na medicina:
Páginas 32 e 33 – “denunciam” gráficos de desempenho dos médicos, “induzindo a competitividade entre os médicos, que passaram a ter metas de prescrição de medicamentos”. Ou seja, tratando como suspeitas ferramentas básicas de gestão.
Adolf Eichmann também usou ferramentas básicas de gestão para tornar eficiente a logística da qual era responsável.
Nassif preciso, caminhando por águas preventas pelos selecionadores de matérias “pacíficas”. Parabéns. É um belo apanhado de questionamentos sobre a voz única, tonitruante, do poder midiático brasileiro.
A propósito, vi, várias vezes, “Doze Homens E Uma Sentença”. Além da densidade dos questionamentos da mídia e do seu poder de achincalhe e de assassinato de imagem, da envergadura de “A Montanha Dos Sete Abutres”, permite um belo estudo comparativo do Tribunal Popular no Brasil e nos Estados [Des]Unidos.
Em que pese a gigantesca admiração que tenho pelo respeitabilissimo companheiro Luís Nassif e a percepção de que ele demonstra integridade e fala em nome da honra de sua profissão, além é claro de ter indiscutível razão sobre o quão incompatíveis são a civilização e o estado-de-direito com os linchamentos bárbaros tão em voga na Terra Brasilis nessa nossa redescoberta do ódio social, sou forçado a declarar:
Nenhum tipo de punição é grande demais ou desproporcional para o tanatológico Governo Bolsonaro e para todos aqueles que com ele coadunam ou a ele se rendem.
Gente, eu li isso???
Se o Nassif tivesse praticado o PRINCÍPIO DA PREOCUPAÇÃO não teria escrito tamanha ficção!
Basta, para isso, levar em conta uma “live” entre o diretor técnico da Prevent com o orientador de doutarandos da USP em que o Dr. Paulo Zanotto vaticina: “lero, lero, lero…e aí é o OVO DE COLOMBO”.
O que pode ser justificado após isso?!
Médico não é cientista, não passa de um técnico que decora sintomas típicos e recorrentes em uma população, um amigo por 2 anos teve disenteria, e inúmeros médicos não sabiam o problema, graças ao hospital universitário da ufrj o problema foi solucionado, caso uma pessoa tenha um problema de saúde que não se enquadre no verbete decorado pelos médicos, a pessoa ficará doente por longo tempo, conheço vários casos que demonstram que médicos, feiticeiros e sacerdotes não se diferem tanto assim, nunca se acredita em médicos, sempre que possível consulte mais de um. Essas pessoas cometem erros gravíssimos e provar é impossível, sempre haverá o subterfúgio técnico para explicar que não houve erro, profissionais que marca ponto no hospital público e vão atender na sua clínica particular ou demonstrem seus racismos aos cubanos, acreditar na ética dessas pessoas é um devaneio pra mim.
Artigo essencial. A Verdade Posta. Doa a Quem Doer. Não Quero Para os Meus, Não Quero Para os Outros. Que Sejam Responsabilizados Pelos Crimes Cometidos e Não por Conveniência Politica- Econômica- Partidária!
O mais estranho é que a cpi não terminou, investigações estão em andamento, mas o Ministério Público de São Paulo, de maneira rápida, concisa, compreenssiva e promíscua, firma TAC com a prevent s, se fosse um político, artista ou pobre ou negro, o mp, seria implacável, se for pobre ou negro estaria na cadeia antes do processo começar, se for político eles viram atores das câmeras de tv, e os processos só teria prosseguimento de 2 em 2 anos em parceiria com o TRE, e os jornalistas, no caso Odebrecht eles diziam que se a empresa quebrar não tem problema, pois outra a substituiria, mas a prevent, ficará na mão do MP e não estarei surpreso se eles usarem a prevent no futuro para usos políticos, estou imaginando Doria segundo turno com Bolsonaro, e a prevent s sendo usada se for Lula e Bolsonsaro, o mp terá descontos especiais ou promoverá palestras de promotores.
Parabéns pela série de artigos sobre o caso. Especialmente por este texto. Nos dá esperança de conhecer alguma verdade.
Fato: Hapvida e Prevent estavam incomodando grandes grupos.
A pandemia é uma guerra em que a verdade foi vítima também e todos saímos perdedores.
Aprendendo mais um pouco com sua analise minuciosa, que não há mocinhos nem bandidos e sim os verdadeiros fatos e verdades.
Os jornalistas parciais deveriam ler isso e se envergonharem.
O que me espanta é que médicos, aparentemente sem formação científica, possam fazer experimentos perigosíssimos sem que estes passem por um conselho de ética isento. Em qualquer Universidade, qualquer pesquisa com seres humanos, mesmo que não invasivos, devem passar por um comitê de ética. Isto deveria estar na lei. No caso de empresas privadas, deveria ser um comitê composto por pessoas de fora da empresa
Há uma cratera no texto : nenhum comentário sobre o gravíssimo depoimento à CPI do paciente que se salvou graças à intervenção das filhas. E que motivou o comentário de um Senador-MÉDICO : “O Senhor escapou do corredor da morte.”
Há pelos menos dois Senadores-MÉDICOS na CPI. E um Senador do Espírito Santo, ex-delegado de polícia, extremamente lúcido e responsável.
Por que não ouvi-los antes de publicar este texto?
Na ânsia de atacar, com razão, o jornalismo de esgoto, medíocre, leviano e irresponsável, Nassif desqualifica o trabalho da CPI e justifica condutas “empresariais” da Prevent Sênior que são incompatíveis com a ética médica.
Jornalismo é isso!
A argumentação heurística permeia o presente texto do Nassif. Contudo, convém lembrar: “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” (Guimarães Rosa). Aguardemos que se efetive investigações isentas, de tal modo, a evidenciar a ocorrência dos fatos que deram azo aos depoimentos conflitantes no que concerne à empresa do “plano de saúde”. Nunca é demais lembrar que a lógica da acumulação capitalista se move pela razão cínica, e, as empresas médico-hospitalares, não são exceções á regra. Não há considerações éticas nas decisões dos “gestores”… tão somente o objetivo do lucro que sustém e reproduz o capital investido. Nessa seara é a sobrevivência do capital que está em jogo, e não avida dos consumidores hospitalizados… Diante da eventual ineficiência na alocação produtiva dos fatores – no afã de preservar os lucros -, corta-se custos indiscriminadamente. De uma perspectiva da análise econômica isso é compreensível, pois ao irromper a pandemia num contexto de crise estrutural do setor médico-hospitalar privado (diminuição dos consumidores): salve-se quem puder (da falência). Quanto à CPI da COVID, ao que parece chega-se ao fim, de maneira melancólica, depois de tantas e vindas, do malabarismo político do senador Omar Aziz, mais “de olho” em sua candidatura em 2022 ao Governo do Amazonas. Falava grosso na mesa dos trabalhos, mas nos bastidores, o intento era esvaziar a ação proativa do relator. Sendo assim, as “disputas” em torno do teor do relatório do relator Renan Calheiros expõe as contradições da espetacularização midiática, das intervenções dos senadores na busca dos holofotes, todos querendo serem lembrados nas eleições de 2022… Esse é o Brasil que vai para frente, no atraso civilizatório. E a culpa não é da pandemia. Ela sim, é culpa de um sistema político disfuncional. Culpa de um Estado (governo) capturado por interesses de grupos privados.
Minha maior dúvida é o motivo do velho da Havan que.mora em busque SC , com milhões aqui e no exterior levar sua mãe pra se tratar no plano mais barato do Brasil na segunda onda onde já era conhecido a ineficácia do tratamento precoce e sair com atestado de óbito sem constar e real causa da.morte coincidência? Propaganda boca-a-boca?
Porque a prevent sênior é ótima. Conheço hospitais de todos os continentes e o atendimento da prevent é impar. Administrei hospital de campanha na pandemia e eu convivi com o fantasma do COVID no meu subsolo e só quem foi a luta sabe do Que estou falando.
Parabéns Nassif! Me emocionei com seu artigo! Muito justo e imparcial! Sou beneficiário junto com minhas
Família, meus falecidos avós e é muito triste ver esse linchamento de terceiros com uma empresa tão linda e que só fez o bem, aos idosos, aos atletas e hoje tenho seu nome manchado com sangue por pessoas que desconhecem a palavra acolhimento.
Acho curiosa a tentativa de contrapor, neste e no referido artigo sobre o Nobel de economia, “o método científico e o empírico”, “pesquisa científica” e “observação empírica”, fazendo desta a última bala de prata contra todos os males das abstrações teóricas da ciência, confrontando-a com a realidade que ela se nega a olhar, sendo a um só tempo “método de análise” (sic), “forma de conhecimento” e procedimento de checagem de consistência das teorias científicas. Uma fórmula para todas as estações, quase um padre Quevedo conceitual que, com toda a sua fúria empírica, sentencia: “Esta teoria é inconsistencte! Isto não écsiste!”
Para quem tem a mínima familiaridade com os processos de pesquisa científica, os critérios que o definem e como, no seu desenvolvimento, foram se constituindo historicamente as teorias, seus métodos de investigação e os procedimentos a serem ali adotados, o argumento de que haveria um “método empírico” estranho ao “método científico”, que “sempre foi visto como irrelevante” pela ciência (a partir da observação das disputas internas ao campo do saber econômico especificamente), e que só recentemente teve a sua importância reconhecida pelo trabalho demiúrgico dos laureados economistas, ao tomarem de empréstimo (ora, ora…) métodos das ciências naturais, não faz o menor sentido, chegando mesmo a soar como quase ingênuo.
Isto porque, como se pode verificar em qualquer manual mediano de metodologia científica adotado em faculdades, não apenas o conhecimento científico se define, pelo menos desde o surgimento da astronomia moderna, como um conhecimento EMPÍRICO, como a “observação empírica” sempre foi, ao menos desde Galileu, parte constitutiva do método científico, um de seus momentos essenciais, por meio do qual se processa este conhecimento. Em outras palavras, não há que se falar em conhecimento científico digno desse nome que não parta da ou que não retorne à realidade sensível (que é um outro modo de dizer “empírico”) na tentativa de compreendê-la e explicá-la. Curioso que, naquele outro artigo, tudo é empírico (a observação, os métodos e suas constatações, a análise… até os economistas!) só não a própria realidade, que, afinal, é o mundo que a ciência se limita a conhecer, como se a realidade fosse algo dado e limitado a sua dimensão empírica, visão que, pelo menos desde a psicanálise, já foi profundamente questionada.
No mais, concordo plenamente com o argumento de que o terraplanismo é algo profundamente arraigado em nossa opinião pública, se apresentando nas mais surpreendentes e variadas formas.
Vamos por partes sobre a analogia do caso da Prevent Senior com outros casos jornalísticos.
Sei da formação ética do Luis Nassif, porém seu de sua admiração ao mercado, desde que seja operado por pessoas honestas, coisa que não acredito, obscurece um pouco a sua visão.
Parto basicamente do seguinte pressuposto, qualquer plano de saúde que opere na sua maioria com idosos não é viável economicamente salvo se cobrar taxas exorbitantes, logo tanto em situações normais como em situação excepcionais é impossível fazer medicina com lucro sem aplicar métodos nada éticos, saúde só pode ser mantida pela solidariedade entre jovens e idosos, ou seja, os jovens pagam e consomem quase nada dos serviços médicos e os velhos pagam e tem subsídio cruzado dos jovens, o resto é fantasia. Mas vamos analisar com todo o cuidado o texto do Nassif pois acho que ele não quer entender o que, segundo a advogada dos médicos disse sob juramento, que escutou várias vezes de membros da Prevent Senior: Óbito também é alta.
O exemplo do filme que assisti algumas vezes, “Doze Homens e uma Sentença”, é um péssimo exemplo, pois no filme havia o pressuposto, “in dubio pro reo”, no caso da Prevent Senior, quem eram os réus não eram os médicos, mas sim os pacientes. No caso da CPI isso fica claro pela tentativa de transferir os pacientes para o tratamento paliativo, coisa que não se faz em doenças infecciosas, eles tentaram ASSASSINAR um paciente que se recuperou e conseguiu depor na CPI, um assassinato como uma norma para mim já chega para condenar aqueles que acharam uma solução “barata” (1/3 a 1/4) dos preços dos outros planos), ou seja, não acredito em milagres gerenciais.
A frase lealdade e obediência não é uma expressão típica de qualquer organização, pública ou privada, que busca a eficiência, mas sim uma tradução do alemão do juramento das SS a Hitler “Ich Schwore Dir, Adolf Hitler, Treue Und Gehorsam” que traduzido para o português fica “Eu juro a você, Adolf Hitler, lealdade e obediência”, ou seja, um lema prussiano do século XIX “dem Kaiser Treue und Gehorsam” ou “lealdade e obediência ao imperador”. Tanto a versão prussiana como a nazista não me deixam nada confortáveis e não considero um lema para qualquer “organização, pública ou privada” que busque a eficiência.
Agora vem uma segunda afirmação que considero um verdadeiro absurdo, desde 27 de fevereiro de 2020, um engenheiro chamado Rogério Maestri, já sabia que o Covid era uma pneumonia contagiosa como podem ver no vídeo que coloquei no meu canal do YouTube, que se alguém duvidar é só procurar em https://youtu.be/JCJvq-1OWEM (Por que e como um engenheiro que não tem nenhuma formação médica fica falando sobre coronavirus?), então dizer que o uso de máscaras de proteção para coronavírus era algo conhecido desde antes de março. Logo numa pneumonia de coronavírus, ou seja, que atacava o sistema respiratório qualquer neófito como eu sabia que era necessário EPI tipo máscara, coisa que já era utilizado na Ásia desde aquele momento. Se um engenheiro curioso em 27 de fevereiro de 2020 já sabia da necessidade de máscaras (coisa que comprei na farmácia no início de março) é surpreendente que uma instituição que se lança posteriormente numa “pesquisa” não deveria que “no início da pandemia, quando hospitais e empresas de saúde tateavam sobre o que fazer”. A única restrição da OMS fazia no início da epidemia, é que não deveria ser generalizado o uso de máscaras, simplesmente porque faltariam máscaras para os profissionais de saúde.
Quanto os “supostos assessores palacianos” a farta documentação em vídeos com conversas, palestras e “lives” entre Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto e membros próximos ao palácio eram frequentes e em muitos momentos foram incluídos nessas reais documentações (não supostas, nem relatos testemunhais) a presenças dos diretores da “Prevent Senior”.
Quanto a “protocolos de atendimento” aí que começa a tragédia. A Prevent Senior não tinha o mínimo corpo técnico para estabelecer um protocolo de atendimento, coisa que nem o ministério da saúde publicou até os dias de hoje, só uma versão de 2020 sem o mês e sem prescrição de nada. Por outro lado a Prevent Senior em abril de 2020 estabeleceu um protocolo de manejo clínico (https://static.poder360.com.br/2020/04/protocolo-Prevent-Senior-tratamento-covid-19.pdf) em que baseado numa pesquisa completamente fajuta de Didier Rault (vide o que escrevi em 10 de abril de 2020 (https://jornalggn.com.br/artigos/cloroquina-bolsonaro-aposta-num-pesquisador-rebelde-antissistema-ou-megalomaniaco-sem-etica-por-rogerio-maestri/) Cloroquina: Bolsonaro aposta num pesquisador rebelde antissistema ou megalomaníaco sem ética? Que nos dias de hoje é provado que a última hipótese é a real (megalomaníaco sem ética) Vide o artigo do DCM de 18 de outubro de 2021 (https://www.diariodocentrodomundo.com.br/didier-raoult-guru-da-cloroquina-violou-etica-em-centenas-de-estudos-no-brasil-e-no-mundo-usando-ate-bebes/) Didier Raoult, guru da cloroquina, violou ética em centenas de estudos no Brasil e no mundo, usando até bebês.
Logo a seguir vem uma inversão de raciocínio do texto do Nassif incrível: “Em entrevistas na época, antes do assunto virar tabu, o Diretor Técnico havia dito que o trabalho da Prevent, até então, consistia em levantar estatisticamente a incidência do Covid em pacientes que já consumiam hidroxicloroquina para outras doenças; e comparar com pacientes que não consumiam. O dossiê coloca todos esses pacientes como “cobaias”, sem explicar que já eram usuários do medicamento.”
A inversão é simples, como o uso da hidroxicloroquina era um uso “off label” é um uso fora de qualquer prescrição anterior do medicamento para a doença em que ele é utilizado, porém como a “Prevent Senior” aplicava aos seus pacientes os remédios sem a mínima recomendação, exceto a picaretagem da “pesquisa” do doutor Raoult Didier, o emprego desse medicamento numa quantidade significativa de pacientes configura uma “pesquisa”, mas como essa pesquisa nem tinha passado por autorização de existir e os pacientes simplesmente não entendiam o que estavam fazendo com eles, realmente eles eram na realidade cobaias de laboratório.
Agora se mostra o mais grave, talvez tanto por desconhecimento dos “médicos aprendizes de feiticeiros pesquisadores” com menos grave do Luis Nassif.
Não se faz pesquisa médica escolhendo o grupo sob tratamento, começar o mesmo, depois pedir autorização para pôr fim escolher o grupo placebo. Ensaio duplo cego randomizado, escolhe-se o grupo (tratamento + placebo), sorteia-se por uma pessoa independente quais serão os tratados e os com placebo, obtida a autorização com os critérios de escolha aprovados anteriormente e nem os médicos nem os pacientes sabem que estão recebendo o remédio ou o placebo (duplo cego=médico e paciente sem saber – randomizado= escolha dos pacientes aleatoriamente do grande grupo), essa etapa independente da escolha dos pacientes que tomarão o medicamento e placebo de forma independente introduz um alto viés na pesquisa, logo está totalmente comprometida a pesquisa.
Na sua defesa a Prevent Senior, Nassif coloca um comentário sobre as páginas 17 a 20: Descrição dos métodos científicos, preparado por um especialista e sem nenhuma relação com as denúncias.
Aqui Nassif mostra porque eu coloquei as restrições a metodologia nos parágrafos anteriores, a descrição dos métodos é uma pequena introdução do porquê da “pesquisa” da Prevent Senior necessitar aspas para a palavra pesquisa, pois a sistemática dessa bruxaria não tem nada de pesquisa. Se alguém não entende a necessidade dessa descrição é simplesmente porque não sabe como se faz uma pesquisa!
Há outras imprecisões que seguem adiante, a prescrição de Hidroxicloroquina e outro medicamento utilizados pela Prevent Senior, já no início desse ano eram não só comprovadamente ineficientes, mas eram em vários casos letais.
Daqui até o item – o método científico e o empírico, tecerei comentários outra hora, pois é bem mais difícil de comentar a confusão estabelecida pelo Nassif, pois olhar fichas de pacientes e a partir do que Nassif está dizendo que é um método empírico em ciência é extremamente distante, mas deixa para mais tarde.
Vamos por partes sobre a analogia do caso da Prevent Senior com outros casos jornalísticos.
Sei da formação ética do Luis Nassif, porém seu de sua admiração ao mercado, desde que seja operado por pessoas honestas, coisa que não acredito, obscurece um pouco a sua visão.
Parto basicamente do seguinte pressuposto, qualquer plano de saúde que opere na sua maioria com idosos não é viável economicamente salvo se cobrar taxas exorbitantes, logo tanto em situações normais como em situação excepcionais é impossível fazer medicina com lucro sem aplicar métodos nada éticos, saúde só pode ser mantida pela solidariedade entre jovens e idosos, ou seja, os jovens pagam e consomem quase nada dos serviços médicos e os velhos pagam e tem subsídio cruzado dos jovens, o resto é fantasia. Mas vamos analisar com todo o cuidado o texto do Nassif pois acho que ele não quer entender o que, segundo a advogada dos médicos disse sob juramento, que escutou várias vezes de membros da Prevent Senior: Óbito também é alta.
O exemplo do filme que assisti algumas vezes, “Doze Homens e uma Sentença”, é um péssimo exemplo, pois no filme havia o pressuposto, “in dubio pro reo”, no caso da Prevent Senior, quem eram os réus não eram os médicos, mas sim os pacientes. No caso da CPI isso fica claro pela tentativa de transferir os pacientes para o tratamento paliativo, coisa que não se faz em doenças infecciosas, eles tentaram ASSASSINAR um paciente que se recuperou e conseguiu depor na CPI, um assassinato como uma norma para mim já chega para condenar aqueles que acharam uma solução “barata” (1/3 a 1/4) dos preços dos outros planos), ou seja, não acredito em milagres gerenciais.
A frase lealdade e obediência não é uma expressão típica de qualquer organização, pública ou privada, que busca a eficiência, mas sim uma tradução do alemão do juramento das SS a Hitler “Ich Schwore Dir, Adolf Hitler, Treue Und Gehorsam” que traduzido para o português fica “Eu juro a você, Adolf Hitler, lealdade e obediência”, ou seja, um lema prussiano do século XIX “dem Kaiser Treue und Gehorsam” ou “lealdade e obediência ao imperador”. Tanto a versão prussiana como a nazista não me deixam nada confortáveis e não considero um lema para qualquer “organização, pública ou privada” que busque a eficiência.
Agora vem uma segunda afirmação que considero um verdadeiro absurdo, desde 27 de fevereiro de 2020, um engenheiro chamado Rogério Maestri, já sabia que o Covid era uma pneumonia contagiosa como podem ver no vídeo que coloquei no meu canal do YouTube, que se alguém duvidar é só procurar em https://youtu.be/JCJvq-1OWEM (Por que e como um engenheiro que não tem nenhuma formação médica fica falando sobre coronavirus?), então dizer que o uso de máscaras de proteção para coronavírus era algo conhecido desde antes de março. Logo numa pneumonia de coronavírus, ou seja, que atacava o sistema respiratório qualquer neófito como eu sabia que era necessário EPI tipo máscara, coisa que já era utilizado na Ásia desde aquele momento. Se um engenheiro curioso em 27 de fevereiro de 2020 já sabia da necessidade de máscaras (coisa que comprei na farmácia no início de março) é surpreendente que uma instituição que se lança posteriormente numa “pesquisa” não deveria que “no início da pandemia, quando hospitais e empresas de saúde tateavam sobre o que fazer”. A única restrição da OMS fazia no início da epidemia, é que não deveria ser generalizado o uso de máscaras, simplesmente porque faltariam máscaras para os profissionais de saúde.
Quanto os “supostos assessores palacianos” a farta documentação em vídeos com conversas, palestras e “lives” entre Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto e membros próximos ao palácio eram frequentes e em muitos momentos foram incluídos nessas reais documentações (não supostas, nem relatos testemunhais) a presenças dos diretores da “Prevent Senior”.
Quanto a “protocolos de atendimento” aí que começa a tragédia. A Prevent Senior não tinha o mínimo corpo técnico para estabelecer um protocolo de atendimento, coisa que nem o ministério da saúde publicou até os dias de hoje, só uma versão de 2020 sem o mês e sem prescrição de nada. Por outro lado a Prevent Senior em abril de 2020 estabeleceu um protocolo de manejo clínico (https://static.poder360.com.br/2020/04/protocolo-Prevent-Senior-tratamento-covid-19.pdf) em que baseado numa pesquisa completamente fajuta de Didier Rault (vide o que escrevi em 10 de abril de 2020 (https://jornalggn.com.br/artigos/cloroquina-bolsonaro-aposta-num-pesquisador-rebelde-antissistema-ou-megalomaniaco-sem-etica-por-rogerio-maestri/) Cloroquina: Bolsonaro aposta num pesquisador rebelde antissistema ou megalomaníaco sem ética? Que nos dias de hoje é provado que a última hipótese é a real (megalomaníaco sem ética) Vide o artigo do DCM de 18 de outubro de 2021 (https://www.diariodocentrodomundo.com.br/didier-raoult-guru-da-cloroquina-violou-etica-em-centenas-de-estudos-no-brasil-e-no-mundo-usando-ate-bebes/) Didier Raoult, guru da cloroquina, violou ética em centenas de estudos no Brasil e no mundo, usando até bebês.
Logo a seguir vem uma inversão de raciocínio do texto do Nassif incrível: “Em entrevistas na época, antes do assunto virar tabu, o Diretor Técnico havia dito que o trabalho da Prevent, até então, consistia em levantar estatisticamente a incidência do Covid em pacientes que já consumiam hidroxicloroquina para outras doenças; e comparar com pacientes que não consumiam. O dossiê coloca todos esses pacientes como “cobaias”, sem explicar que já eram usuários do medicamento.”
A inversão é simples, como o uso da hidroxicloroquina era um uso “off label” é um uso fora de qualquer prescrição anterior do medicamento para a doença em que ele é utilizado, porém como a “Prevent Senior” aplicava aos seus pacientes os remédios sem a mínima recomendação, exceto a picaretagem da “pesquisa” do doutor Raoult Didier, o emprego desse medicamento numa quantidade significativa de pacientes configura uma “pesquisa”, mas como essa pesquisa nem tinha passado por autorização de existir e os pacientes simplesmente não entendiam o que estavam fazendo com eles, realmente eles eram na realidade cobaias de laboratório.
Agora se mostra o mais grave, talvez tanto por desconhecimento dos “médicos aprendizes de feiticeiros pesquisadores” com menos grave do Luis Nassif.
Não se faz pesquisa médica escolhendo o grupo sob tratamento, começar o mesmo, depois pedir autorização para pôr fim escolher o grupo placebo. Ensaio duplo cego randomizado, escolhe-se o grupo (tratamento + placebo), sorteia-se por uma pessoa independente quais serão os tratados e os com placebo, obtida a autorização com os critérios de escolha aprovados anteriormente e nem os médicos nem os pacientes sabem que estão recebendo o remédio ou o placebo (duplo cego=médico e paciente sem saber – randomizado= escolha dos pacientes aleatoriamente do grande grupo), essa etapa independente da escolha dos pacientes que tomarão o medicamento e placebo de forma independente introduz um alto viés na pesquisa, logo está totalmente comprometida a pesquisa.
Na sua defesa a Prevent Senior, Nassif coloca um comentário sobre as páginas 17 a 20: Descrição dos métodos científicos, preparado por um especialista e sem nenhuma relação com as denúncias.
Aqui Nassif mostra porque eu coloquei as restrições a metodologia nos parágrafos anteriores, a descrição dos métodos é uma pequena introdução do porquê da “pesquisa” da Prevent Senior necessitar aspas para a palavra pesquisa, pois a sistemática dessa bruxaria não tem nada de pesquisa. Se alguém não entende a necessidade dessa descrição é simplesmente porque não sabe como se faz uma pesquisa!
Há outras imprecisões que seguem adiante, a prescrição de Hidroxicloroquina e outro medicamento utilizados pela Prevent Senior, já no início desse ano eram não só comprovadamente ineficientes, mas eram em vários casos letais.
Daqui até o item – o método científico e o empírico, tecerei comentários outra hora, pois é bem mais difícil de comentar a confusão estabelecida pelo Nassif, pois olhar fichas de pacientes e a partir do que Nassif está dizendo que é um método empírico em ciência é extremamente distante, mas deixa para mais tarde.
Uma questão que não foi suscitada, mas deveria ser sempre lembrada, principalmente quando se fala dos testes em Manaus é que houve a aplicação de dois protocolos diferentes durante as pesquisas.
1 – Protocolo francês/europeu/Didie Raul – esse protocolo indicava o uso da cloroquina antes do quinto dia após ser infectado. Esse protocolo recomendava o uso da cloroquina na dose máxima permitida pela bula do medicamento.
2 – Protocolo Americano – Nesse, a recomendação era dar a cloroquina, quando o paciente já estava prestes a ser intubado e recomendava o uso de uma dose altíssima da cloroquina, (não me recordo o valor exato) mas era 2 ou 3 vezes acima do máximo recomendado na bula do medicamento.
Foi esse segundo protocolo, o Americano, que causou o maior número de mortes, nos testes em Manaus. As mortes causadas pelo protocolo francês, não foram causadas pela cloroquina, mas sim pela interação medicamentosa da cloroquina com a Azitromicina. Elas separadas já causam uma mudança na pressão arterial e batimento cardíaco. Ambas, somadas, aumentam elevam ainda mais essas o problema.
A Prevent Senior usou o protocolo francês, segundo entrevista dado ao Nassif em abril de 2020.
A imprensa brasileira não se preocupou em sem didática e explicar o assunto, a preocupação dela foi ficar no dialogismo discursivo com o Bolsonaro.
Cloroquina funciona X Não Funciona!
Cloroquina mata X Não mata!
A CPI também se mantém nesse dialogismo estúpido e raso. Não respeita nem a cronologia dos fatos e das pesquisas cientificas.
Estou estupefato e desapontado com esta matéria do admirável Nassif.
Na ânsia para se contrapor ao jornalismo de linchamentos – crítica onde ele tem absoluta razão – ele envereda por uma análise com fundamentos frágeis e acaba praticando também o seu linchamento da CPI e da mídia.
Ele parece ignorar que, apesar das posições teóricas a favor ou contra, ATOS e FATOS “criminosos” praticados pelo grupo – empresa + laboratórios + conselheiros médicos e palacianos… – foram expostos de forma clara e comprovada. E nenhuma narrativa, ainda que bem elaborada e da lavra alguém de credibilidade como o jornalista Luiz Nassif, tem o poder de alterar esses ATOS e FATOS.
Ninguém é ingênuo para negar que em tudo e sempre há interesses submersos envolvidos. Só que isso é verdade para os dois lados. Se os há em quem ataca a empresa, também os há em quem tenta defendê-la.
Ainda que possa haver excessos nas acusações contra a Prevent, os seus crimes foram expostos e o Nassif, empenhado na defesa, se desviou de enfrentá-los.
Quem ignora a REALIDADE, por mais bem intencionado que possa estar sendo, depõe contra si mesmo.
Lamento que ele próprio manche sua biografia, com esta matéria. Li e reli e cheguei a duvidar que isso saiu do Luis Nassif que conheço.
Não é um fato novo que a descoberta de delitos seja incrementada e utilizada para fins outros, quase sempre para alimentar a fúria do mercado ou o voraz enriquecimento pessoal de gente mais ou menos sem caráter. Entretanto a Prevent Sênior agiu sim de forma eticamente deplorável insistindo em protocolos superados pela evolução das pesquisas. Pior, o que está se revelando é que a Prevent Sênior tem uma política de redução de custos ao encurtar tratamentos de alto custo e acelerar altas médicas em decorrência do tempo.
Que os urubus financeiros do mercado se aproveitem disso não isenta a Prevent Sênior de atitudes que rodeiam a criminalidade. Não só em questões referentes à Covid.
Aguardo fim de processo criminal movido por familiar para poder revelar mais um caso que eu, como médico, considero criminoso. Vamos ver o que a justiça dirá.