O centro do atraso, por Paulo Teixeira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O centro do atraso 
 
por Paulo Teixeira
 
Neste domingo fomos surpreendidos com mais uma intervenção desastrosa e desumana na região da Luz, conhecida como Cracolândia, aqui em São Paulo. O prefeito João Dória, aquele mesmo que parou todas as obras da cidade, abandonou a zeladoria na periferia, piorou o congestionamento nas marginais e aumentou o número de mortes e vítimas no trânsito sob a justificativa de “acelerar São Paulo”, agora ataca com mais uma de suas atitudes inconsequentes a população mais vulnerável da cidade: a que faz uso abusivo de droga, em especial crack.
 
Durante os últimos quatro anos tivemos um sopro de humanismo, responsabilidade e seriedade com a política pública mais inovadora no país sobre o enfrentamento do problema do consumo excessivo de drogas: o programa De Braços Abertos, criado pela gestão Fernando Haddad.
 
Programa este baseado nas melhores práticas e experiências internacionais, elogiado por especialistas nacionais e da Europa e Estados Unidos que vinham a São Paulo conhecer a política que reduziu de 1500 para pouco mais de 400 usuários na região. Todos com acompanhamento médico intensivo, acompanhamento social, além de refeições diárias e possibilidade de trabalho, o que constitui-se como a essência de uma política de redução de danos. Isto é, era uma política que estava dando certo e tinha espaço para avanços. 

 
O atual prefeito, como em outras ocasiões, não embasou tecnicamente sua decisão e, ao invés de atacar a questão central do problema, o tráfico descontrolado de drogas, preferiu o jeito mais fácil e covarde: agredir e dispersar os mais vulneráveis. Regrediu e muito nesta iniciativa. 
 
A gestão tucana do governador Geraldo Alckmin, seu padrinho político, já havia tentado, em 2012, a mesma abordagem na operação conhecida como Sufoco. Resultado: a repressão policial causou dispersão dos viciados para todas as regiões da cidade, criando mini-cracolândias em 30 cenas de uso de crack espalhadas por São Paulo. 
 
Em 2012, essa operação desastrosa também foi feita sem planejamento algum, apenas com objetivos políticos, desrespeitando a população que precisava de assistência e acolhimento e não balas de borracha, bombas e cacetetes. 
 
Horas depois da operação deste domingo, a imprensa já noticiava que usuários se espalhavam por outras regiões do centro como a praça da Sé e a praça da República, além de aumentarem a favela da região conhecida como Bresser. 
 
Mais uma vez a população mais carente sofrerá as consequências dessa atitude irresponsável e midiática do prefeito que parece viver num reality show permanente. Uma política pública reconhecida no mundo todo, com resultados visíveis – diminuiu o tamanho da cracolândia e melhorou as condições de vida do usuário, foi fulminada por um simples capricho politiqueiro de um prefeito que se diz não-político e se mostra sim higienista, insensível e incompetente.
 
* Paulo Teixeira é advogado com mestrado na USP, deputado federal e relator do novo Código do Processo Penal.
 
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2 Comentários

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  1. Hoje Coletiva de Imprensa do Conselho Regional de Psicologia

    Recebi mensagem hj. Haverá coletiva hj no CRP, Rua Arruda Alvim 89, travessa da Teodoro, perto do HC e metro Clínicas ou Sumaré, onde serão divulgados os resultados de uma vistoria na cracolândia.

  2. O objetivo de Doria

    O objetivo de Doria evidentemente é a especulação imobiliária e a população que se lasque.

    Dito isso, qual a proposta da esquerda ?

    Haddad ficou 4 anos na Prefeitura e não limpou a região por que ?

    A cracolandia é uma vergonha para a cidade de São Paulo.

    É preciso que haja uma solução.

    A proposta de Doria pode ser ruim, mas é melhor que nada. Pelo menos vai dispersar a “turma” de nóias, o que vai dificultar para os traficantes.

    Não adianta a esquerda vir com conversa fiada ou demagógica, que nesse quesito o Doria é campeão.

     

     

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