Especialistas alertam que mundo pode ficar sem antibióticos

Jornal GGN – Os seres humanos correm o risco muito real de ter um futuro sem antibióticos, em que as pessoas morreriam de doenças facilmente tratáveis atualmente, segundo cientistas. Especialistas afirmam que anos de ganhos em saúde podem ser revertidos por conta da mutação de micróbios, que fazem com que seja mais difícil e caro tratar doenças, aumentando e muito os riscos de morte. Os pesquisadores já comparam a situação hipotética de ameaça ao bem-estar humano ao problema do aquecimento global ou do terrorismo.

“É um grande problema de saúde pública”, afirma Patrice Courvalin, que dirige a unidade de pesquisa de agentes bacterianos do Instituto Pasteur, da França. “Trata-se de mais do que não ser capaz de tratar uma doença. Isso vai apagar muito progresso feito nos últimos 20 ou 30 anos”, completa. Sem antibióticos para combater bactérias oportunistas que representam um risco especial para as pessoas que estão muito doentes, cirurgias de grande porte, transplantes de órgãos, câncer e tratamentos de leucemia podem se tornar impossíveis.

“Em algumas partes do mundo, já há falta de antibióticos”, garante Timothy Walsh, professor de microbiologia médica na Universidade de Cardiff. “Em alguns lugares da Índia, Paquistão, Bangladesh, e possivelmente Rússia, Sudeste Asiático, América do Sul e Central. Estamos no fim do jogo. Não há mais nada”. A falta de antibióticos, na verdade, é o modo como os especialistas tratam da resistência às drogas pelas bactérias.

Tal resistência acontece através de mudanças na genética que alteram o código-alvo da bactéria em sua superfície, em que os antibióticos se ligam normalmente, fazendo com que o germe se torne impenetrável ou permitindo-lhe destruir ou “cuspir” o antibiótico. Estes super-germes triunfam através da pressão darwiniana, ajudado por seres humanos. Os antibióticos errados, tomados por um período muito curto, em uma dose muito baixa ou mesmo sendo interrompido vai deixar de matar os micróbios alterados.

Em vez disso, as drogas vão indiscriminadamente danificar outras bactérias e dar à cepa a resistência necessária para dominar e se propagar, permitindo vantagem competitiva. Na base do problema, estão as prescrições equivocadas ou desnecessárias de antibióticos e a facilidade com que os medicamentos podem ser obtidos sem regras rígidas em algumas partes do mundo, incluindo a Ásia e África. Mais que 70% dos antibióticos são administrados para infecções virais, contra o qual eles são totalmente ineficazes, dizem os especialistas.

Depois, há o problema dos agricultores em países como os Estados Unidos e a adição de antibióticos para a alimentação animal, como forma de ajudar rebanhos crescer mais rápido. Para agravar o cenário, ainda há o aumento das viagens – a bênção mundial para disseminação bacteriana, além de uma queda acentuada no desenvolvimento de novos antibióticos atribuída a uma falta de incentivos financeiros para a indústria farmacêutica.

Retorno à era pré-antibiótica?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a resistência aos medicamentos “ameaça um retorno à era pré-antibiótica”. “Muitas doenças infecciosas correm o risco de se tornarem intratáveis ou incontroláveis”, afirma a organização, em um folheto informativo sobre a resistência antimicrobiana. Um caso em questão: em 2012, pelo menos 170 mil pessoas morreram de tuberculose por conta da resistência da doença às drogas isoniazida e rifampicina, as mais potentes contra a enfermidade. Essa nova cepa é chamada de MDR-TB, sigla em inglês que, em tradução livre, significa “tuberculose resistente a múltiplas drogas”.

Segundo a OMS, cerca de 450 mil pessoas desenvolveram resistência às drogas contra a doença só em 2012. Quase 10% dos casos ainda podem estar relacionados a uma variedade ainda mais mortal e resistente aos antibióticos atuais, cuja sigla é XDR. Tal como outros micróbios resistentes às drogas, a MDR e a XDR podem ser transferidas diretamente entre pessoas – e qualquer indivíduo pode desenvolver a doença mesmo sem ter tomado esses antibióticos uma única vez na vida. “A resistência aos antibióticos é uma doença emergente e um problema da sociedade. O uso que você pode fazer de um antibiótico depende do uso feito pelos outros”, afirma Courvalin.

Outra preocupação para os planejadores de políticas de saúde pública, atualmente, é a disseminação de uma cepa multirresistente da bactéria Klebsiella pneumoniae, uma causa comum de infecções do trato urinário, trato respiratório e na corrente sanguínea, e uma fonte frequente de surtos hospitalares. Em algumas partes do mundo, apenas a classe de antibióticos carbapenemos permanece eficaz, mas já estão surgindo sinais de resistência, mesmo para esta última linha de defesa.

Os antibióticos são desenvolvidos para salvar centenas de milhões de vidas desde que Alexander Fleming descobriu a penicilina, em 1928. Mas até mesmo os próprios avisos de Fleming de iminentes resistência às drogas não foram ouvidos, e agora os cientistas dizem que as pessoas podem começar a morrer de infecções como meningite e septicemia, que são eminentemente curáveis hoje. “Se continuar assim, a grande maioria das bactérias patogênicas humanas será multirresistente aos antibióticos”, afirma Courvalin.

Uma possível saída, segundo os pesquisadores, são métodos mais eficientes de diagnóstico para determinar se a infecção é viral ou bacteriana, e ainda se é susceptível de tratamento. Além disso, os agricultores em todo o mundo devem parar de alimentar o gado com antibióticos, e no hospital as pessoas devem melhorar sua higiene para evitar a propagação de bactérias. No entanto, alguns especialistas acreditam que o dano não pode ser desfeito. “Os insetos se tornaram muito sofisticados, eles se tornaram muito complexos”, diz Walsh. “Você pode diminuir a resistência ou reduzi-la, mas nunca revertê-la completamente”.

Com informações do MedicalXpress.com

Redação

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