Os assassinatos recorrentes da PM, por Leonardo Sakamoto

Do blog do Sakamoto

“Meu filho recebeu 11 tiros. Um, na nuca, arrancou seu maxilar”
 
A chacina de Costa Barros, quando cinco jovens foram executados por policiais militares, está completando três meses. O carro onde estavam Wesley (25), Wilton (20), Cleiton (18), Roberto (16) e Carlos Eduardo (16) foi metralhado, na madrugada entre 28 e 29 de novembro do ano passado, na zona norte do Rio de Janeiro, por policiais – que ainda tentaram plantar uma arma a fim de justificar o crime. Ao todo, teriam sido 111 disparos. Alguns dos rapazes ficaram deformados devido à quantidade de projéteis.

“Uma semana antes de ser morto, ele me deu um abraço, falou que eu ia ter muito orgulho dele, que ele seria um grande oficial da marinha”, lembra Carlos Henrique do Carmo Souza, 34 anos, pai de Carlos Eduardo.

Ele conta que sua ex-esposa, emocionada durante o velório, abraçou o rapaz dentro do caixão, acreditando que ele estaria apenas dormindo. Puxada pelos presentes, acabou erguendo o corpo do filho e percebeu que estava sem o maxilar. Chamou Carlos Henrique de mentiroso, porque ele tinha dito que Carlos Eduardo morrera com um tiro na nuca e “apagou como um passarinho”.

“Não tive coragem de contar tudo para ela. Ele ficou todo destruído.”

Carlos Henrique carrega as fotos dos rapazes mortos em seu táxi para que não sejam esquecidos. Ele acredita que, além do despreparo e da burrice dos policiais envolvidos, houve racismo no crime. Todos os jovens eram negros.

Abaixo, estão trechos da entrevista que ele me concedeu no Rio de Janeiro, durante o lançamento do novo relatório mundial da Anistia Internacional.

Enquanto o Congresso Nacional aprova uma lei antiterrorismo, proposta pelo governo federal, as grandes capitais brasileiras seguem adotando o terrorismo de Estado contra sua própria população. Dessa forma, vamos nos afastando das mudanças estruturais para garantir paz – que incluem um Estado que pense em qualidade de vida para todos, uma polícia que não esteja em guerra contra seu próprio povo e que seja punida em caso de desvios e um horizonte de opções para os mais jovens que saem em busca de um lugar no mundo.

Por fim, boa parte dos policiais envolvidos nesses momentos são da mesma classe social dos moradores. Ou seja, é pobre (mal remunerado, mal treinado, maltratado) matando pobre enquanto quem manda ou lucra de verdade com todo o circo está em outro lugar.

Ninguém passa atirando a esmo em um carro no Leblon ou em Moema. Por que isso ocorre em Costa Barros, na Zona Norte do Rio? Porque lá a vida vale menos.

 

Redação

4 Comentários

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  1. O horror!
    O horror! mas nossa sociedade não se importa nem um pouco.
    Se for branco, classe medio, que mora e trabalha num bom bairro, ai é que está cagando e andando!
    ( desculpem, ás vezes é dificil ser educado!)

    Só se importa que acontece com ela.

    E os outros? Os outros são os outros,diria o brasileiro cordial, sorridente a caminho da barbarie!

  2. Isto tem sido prática

    Isto tem sido prática recorrente no Brasil.

    Recentemente,em Ponte Verde,área nobre de  Maceió,a polícia abriu fogo contra supostos assaltantes de uma lanchonete que teriam roubado o celular de um frequentador. Resultado: 3 supostos assaltantes mortos e dois foragidos.

    A população local,após ver o resultado da operação,abandonou um pouco sua bateção de  panelas e foram para a sacada de seus luxuosos apartamentos para  aplaudir a polícia.

    link do video: https://youtu.be/n2HwUQKXRAY

     

     

    1. Verdade

      Verdade, Vladimir. Só corrigindo, você deve ter errado na digitação, o bairro classe média de Maceió é a Ponta Verde.

  3. A covarde, corrupta e podre ditadura, não morreu….

    …  se camuflou e vive nos demo-tucanos, …. continua o seu trabalho macabro de  criar  um país sem povo, …para que os vampiros possam usufruir da nossa terra sem a competição dos “pobres”, ….  

    Para isso, usam PMs  jagunços travestidos de policiais, que não vacilam nem um minuto no trabalho de levar a morte ao povão, principalmente aos jovens humildes…

    Quando, finalmente, conseguirem eliminar a competição dos pobres, … vão se livrar dos assassinos jagunços fardados,….

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