
Trilhos Verdes na COP30
por José Manoel Ferreira Gonçalves
O Brasil passa por um reposicionamento global impactante. Seja nos encontros bilaterais, seja nos fóruns ou nas diferentes agremiações de países, o Brasil recuperou de forma meteórica a confiança de seus pares.
Um dos efeitos dessa mudança se expressa na conquista do evento da COP30, que se dará em Belém do Pará no ano de 2025. Estarei presente nesta COP, como tive oportunidade de estar em várias outras e, para este evento brasileiro estou fazendo pesquisas que vão redundar em um livro a ser lançado no tempo e lugar do encontro.
Ao mesmo tempo o mundo todo, mais notadamente a Europa, está vivendo na pele a brusca mudança nas temperaturas e nos eventos climáticos como um todo. Não há momento mais apropriado para discutirmos nosso papel nesta necessária cruzada contra a continuidade do desmantelamento do planeta.
A floresta amazônica desempenha um papel vital no equilíbrio climático global. Sua imensa biodiversidade e capacidade de absorver e armazenar grandes quantidades de gás carbônico fazem dela um dos principais santuários naturais do planeta. Que preservar a Amazônia é essencial para mitigar as mudanças climáticas é fato conhecido por todos.
Contudo, por maior que seja a Amazônia brasileira, o país é ainda maior, e, portanto, não nos basta apenas proteger a floresta. Também é preciso reduzir drasticamente as emissões causadas por atividades humanas. Um dos setores que mais emite gases de efeito estufa no Brasil é o transporte rodoviário de cargas e passageiros. A enorme frota de caminhões é um dos fatores que comprometem os esforços do país para cumprir suas metas climáticas.
Nesse contexto, o investimento em ferrovias é uma medida urgente e inteligente. O modal ferroviário é muito mais seguro, mais eficiente e mais sustentável que o rodoviário. Consome menos combustíveis fósseis e emite menos carbono por tonelada transportada.
Portanto, mesmo na própria Amazônia, projetos como a Ferrovia de Integração Nacional, interligando Porto Velho a Miritituba, devem ser acelerados. Ao migrar grande parte do transporte de cargas da rodovia para a ferrovia nessa rota, o impacto positivo sobre as emissões de gases de efeito estufa será muito significativo.
A ferrovia, ademais, contribuirá para reduzir o desmatamento, pois diminuirá o fluxo de caminhões pelas rodovias da Amazônia. Menos estradas significam menos aceleração da ocupação predadora da floresta.
Agora, se é importante na Amazônia, é tanto mais importante nos pontos de maior fluxo do país.
A conservação da Amazônia e a expansão das ferrovias devem caminhar juntas, como políticas integradas de transporte e meio ambiente. Só assim o Brasil poderá avançar para uma economia de baixo carbono, preservando seu maior trunfo verde.
A combinação de trens e árvores é o melhor caminho para um futuro sustentável.
José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro é presidente da FerroFrente, Frente Nacional para a Volta das Ferrovias.
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O aspecto mais importante e menos evidente nas discussões é não se abrirem rodovias onde o transporte pode ser feito por ferrovias. No caso da Amazônia, isso fica muito claro para qualquer um que observe fotos de satélite da região; são muito visíveis nelas as “espinhas de peixe” do desmatamento, que se formam majoritariamente ao redor das rodovias.