As não-respostas de Deltan, nova economia e racismo

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Os jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler conversam com Getulio Vargas Jr., da Coalizão Direitos Valem Mais, e o advogado Adilson José Moreira

Jornal GGN – A pauta da TV GGN 20 horas desta sexta-feira abordou diversos temas relacionados à justiça, desde o caso envolvendo o ex-procurador Deltan Dallagnol à luta por cidadania e o combate ao racismo.

Os jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler conversaram com Getúlio Vargas Jr., da coordenação executiva da Coalizão Direitos Valem Mais, e Adilson José Moreira, advogado e autor dos livros “Racismo Recreativo” e “Tratado do Direito Antidiscriminatório”.

No início do programa, Nassif alerta para o caso dos supostos hackers que invadiram o Ministério da Saúde, e ressalta a necessidade de investigação do caso.

“Segundo as informações, eles roubaram não apenas os dados mais backup – não existe isso. O hacker pode pegar dados, mas backup é algo protegido”, afirma Nassif.

“Nós estamos na mão de um governo terrorista. Nós temos um presidente da República contra a vacina; nós temos um general Heleno, do GSI, com a mesma posição; nós temos um ministro da Saúde com a mesma posição”.

“Agora vem um hacker e desestabiliza todos os dados sobre a pandemia. Entrei para a gente fazer a nossa atualização diária, fora do ar. Ou seja: não apenas os dados de vacinação, é todo o sistema fora do ar. Estamos no escuro”.

Na visão de Nassif, o caso não só precisa ser investigado como não se pode descartar a possibilidade de que o caso tenha sido engendrado pelo próprio governo. “Não tem nenhuma responsabilidade, os três aí são pessoas primárias, são politiqueiras. Ajudaram a matar 650 mil pessoas”

“No momento em que você está discutindo o atestado de vacina – Bolsonaro contra, Heleno contra, ministro da Saúde contra. De repente, sai tudo do ar. Não tem atestado de vacina mais”, ressalta Nassif.

“Então, como é que essas três pessoas vão investigar uma suposta invasão que foi em favor deles? Esse é um ponto muito sério para a gente analisar”, lembra Nassif.

Deltan e as não-respostas

Nassif foi procurado pelo assessor do ex-procurador Deltan Dallagnol – “um cara educado até, com uma resposta do Deltan às acusações que tem saído em relação ao aumento do seu patrimônio”, diz Nassif, ao lado do jornalista Marcelo Auler. “São respostas que não respondem”

“Uma carta, no começo, muito agressiva e malcriada. Depois, vem as explicações que não respondem. Mas ele abriu a guarda – a partir do momento em que ele começa a dar explicações, mostra que ele se deu conta de que é uma figura pública, um funcionário público que ele foi, e ele deve explicações”

Entre as questões que aguardam resposta, estão perguntas relacionadas à compra do segundo apartamento de Dallagnol em nome da esposa e quais as doações intermediadas por Deltan ao Mude, quanto ele recebeu por palestras e quanto ele doou, entre outras perguntas.

“O que precisa esclarecer é essa história da filha de dois anos e meio, quando ela ingressou na sociedade”, diz Marcelo Auler, apontando uma operação muito estranha que é uma família que detinha quatro lojas de revenda – família Gabriel, que tinha quatro lojas.

“Essas quatro lojas de revendas que, aparentemente, o espaço físico ocupado hoje pelas lojas da família Dallagnol, em janeiro saiu do nome desses 4 Gabriel – pai, mãe, filho e nora – e foram para o nome do irmão da nora (…) Em junho, a família Dallagnol cria quatro empresas que assumem os pontos de venda – tudo indica que eles compraram o ponto de venda e, provavelmente, o estoque. E não compraram as empresas antigas. Isso você faz para não ter que assumir dívidas antigas”.

“Uma empresa tá no nome da irmã do Dallagnol, outra empresa está no nome da mãe do Dallagnol. A terceira empresa em nome do pai e da mãe do Dallagnol, e a quarta empresa, que é um mistério, em nome da irmã do Dallagnol e da filha menor do Dallagnol”, ressalta Auler.

“Como era uma criança de dois anos, dois anos e meio, quem assina é a mulher do Dallagnol. E ganha 1%, não é meio a meio. Aí ele, na nota que mandou para mim, (o assessor do Dallagnol) ele tenta dizer que a irmã quis beneficiar a filha porque a filha merece cuidados especiais”.

De acordo com Auler, “essa é a mesma filha que o levou a sair da força-tarefa quando ele disse ‘não, descobrimos que ela precisa de um cuidado especial – ora, quantos procuradores da República tem filhos com necessidades especiais, e nunca abandonaram o trabalho? E nem usaram o nome do filho para justificar que estavam deixando de fazer isso ou aquilo”.

“Como é que você vai pensar no futuro da criança oferecendo 1% de uma sociedade de uma loja que pode não dar certo? Se der certo é 1%, e pode não dar certo”, diz Auler.

Direitos Valem Mais

Nassif e Auler conversam com Getulio Vargas Jr., da coordenação executiva da Coalizão Direitos Valem Mais, organização que conta com mais de 200 entidades que atuam por uma nova economia comprometida com os direitos humanos, sustentabilidade socioambiental e superação de desigualdades

“A Direitos Valem Mais é uma coalizão composta por mais de 200 organizações (…) A gente tem visto, e aprofundado, o impacto em especial da EC 95 em um conjunto de políticas sociais – educação, saúde, assistência social, segurança alimentar”

Segundo Vargas, a coalizão tem feito anualmente notas técnicas para recompor qual seria o orçamento ideal para essas áreas se não tivesse o impacto da Emenda Constitucional 95, a partir de dados das próprias áreas. “A gente percebe que o impacto da EC 95 é muito pesado (…)”, diz Vargas, lembrando que a coalizão protocolou um novo pedido de impeachment do ministro da Economia, Paulo Guedes.

“A gente entende que o Paulo Guedes cometeu crime de responsabilidade ao não prever ao Orçamento de 2021 as despesas para o enfrentamento da covid-19, e suspendeu o auxílio emergencial, diminuiu drasticamente o auxílio emergencial no momento que era o auge da pandemia”.

“Então, o enfrentamento da pandemia foi catastrófico – de qualquer aspecto que a gente avaliasse seria. A gente sabe que, se não fosse o SUS estruturado, descentralizado, o número teria sido muito maior do que as 615 mil vidas ceifadas na pandemia (…)”.

Combate ao racismo

Nassif e Auler também conversam com Adilson José Moreira, advogado e autor dos livros “Racismo Recreativo” e “Tratado do Direito Antidiscriminatório”.

“Os avanços no campo teórico, os avanços no Judiciário tem sido significativos, na verdade. Nunca se produziu tanto no Brasil sobre a discriminação racial”, diz Moreira.

“Geralmente, nós pensamos que a discriminação racial ocorre simplesmente quando uma pessoa negra não consegue um emprego, ou não consegue entrar em um hotel, ou não ser atendida em um restaurante”, pontua Moreira.

“Na verdade, nós estamos falando de todo um sistema de exclusão social que tem como propósito fundamental garantir vantagens competitivas para pessoas brancas e, consequemente, excluir pessoas não brancas – especialmente pessoas negras”, afirma o advogado.

Moreira ressalta que “o racismo enquanto sistema de dominação social, tem uma dimensão ideológica baseada na premissa da superioridade branca, mas ele também tem uma dimensão material – que se manifesta por meio da discriminação direta, indireta, institucional, intergeracional, entre outras”.

Acompanhe as entrevistas completas de Getúlio Vargas Jr. e Adilson Moreira, além das análises de Nassif e Auler, na íntegra da TV GGN 20 horas.

Clique aqui e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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