Nova Economia: Bresser-Pereira e o mundo de faz de conta dos neoliberais

Camila Bezerra
Jornalista

Empresários, políticos e economistas seguem defendendo um conceito que, além de nunca ter funcionado, já não é praticado nem nos EUA

Crédito: Reprodução/ Youtube TVGGN

O programa Nova Economia da última quinta-feira (28) contou com a participação do professor, cientista político e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira, autor do novo livro: Novo Desenvolvimentismo: introduzindo uma nova teoria econômica e economia política, que falou sobre a fantasia dos neoliberais e como este conceito já não é válido nem nos Estados Unidos. 

O professor explicou que há duas formas opostas da organização econômica do capitalismo: o desenvolvimentismo e o liberalismo. Na primeira, o estado faz intervenções moderadas na economia. 

Já de acordo com o segundo conceito, o estado não faz intervenções na economia, apenas garante a propriedade de contratos e equilibra a conta fiscal. Desta forma, caberia ao mercado a responsabilidade sobre a economia, algo que Bresser-Pereira descreve como “uma tolice que nunca aconteceu no mundo”

“Os Estados Unidos eram um país desenvolvimentista até 1980. Eles sempre intervinham na economia até 1980. Em 1980, eles fizeram a virada neoliberal. Durante 40 anos fizeram essa experiência desastrosa para eles e 2020, 2021, eles fazem a virada novamente para o desenvolvimentismo”, comenta o professor.

Cenário brasileiro

Apesar dos últimos 40 anos de estagnação, o entrevistado garante se manter otimista em relação ao Brasil, ainda que seja um país muito atrasado e subdesenvolvido, apesar de um grande momento de desenvolvimento entre 1930 e 1980.

“A teoria desenvolvimentista neoliberal é uma imbecilidade, é exatamente o oposto ao que eles dizem. O Brasil foi o segundo país que mais cresceu no mundo, primeiro foi japão, entre 1930 e 1980. mudou totalmente a estrutura econômico, passou a ter uma grande indústria, virou um grande exportador de manufaturados, fez o que eu chamo de revolução capitalista brasileira”, continua Bresser-Pereira.

A partir de 1980, o país passou a encarar a matriz da dívida externa, alta da inflação gerada por crise econômica e indexação determinada pelos militares. “Ficamos 10 anos estagnados. Mas aí o Brasil se submete ao neoliberalismo, em 1990, com o Collor. E desde então assim está.” 

Diante deste contexto, o entrevistado do Nova Economia afirma que economistas, empresários e políticos seguem amarrados ao conceito de neoliberalismo, que lá no norte já morreu, uma vez que os EUA voltaram a intervir na economia por meio da política industrial e das tarifas aduaneiras. “Então, nós vivemos no mundo de faz de conta, que é o mundo dos neoliberais.”

Novo desenvolvimentismo

Bresser-Pereira participou do governo Fernando Henrique Cardoso, mas não na área econômica, que descreve como fracasso devido às duas crises e baixa taxa de crescimento nos finais de mandatos. 

“Comecei a observar e fui ficando convencido de que não só a ortodoxia neoliberal evidentemente não tinha nenhuma solução para o problema, mas também que o desenvolvimentismo clássico não tinha solução para os problemas novos que tinham surgido”, explica o convidado. 

Foi então que surgiu o conceito de novo desenvolvimentismo, em que além da política industrial, envolve a macroeconomia diante da preocupação com a política cambial, situação da conta-corrente do país – que é frequentemente ignorada pelo desenvolvimentismo clássico – e taxa de juros.

Confira a entrevista na íntegra no canal da TVGGN:

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1 Comentário

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  1. Será que ao ver ameaçada a soberania que a sua moeda (dolar) detém no planeta, como moeda divisa internacional e que lhe poderia ser um golpe quase fatal, os EUA permitirá quieto, que países vistos como suas fontes de riquezas e de ousadas manipulações que possam: não apenas descartar o dólar em transações grupais especificas, como se atreverem a desatar as amarras da dependência secular e buscar o proibido (por eles) e tão decantado desenvolvimento?
    Será também, que: mesmo surgindo um genial, eficiente, seguro e aprovado sistema econômico dinâmico, confiável, estabilizador e duradouro, Tio Sam-bicioso nos permitirá levá-lo adiante?
    Será que já raiou a liberdade ou se foi tudo ilusão?

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