Sete vezes em que o Carrefour atuou com descaso e violência

Um homem foi morto após ser espancado em loja do RS nesta quinta (19); episódio se soma a uma série de outros casos

Casos de racismo, violações trabalhistas e agressões contra animais também aconteceram em supermercados da rede – Foto: Bertand Guay/AFP

do Brasil de Fato

Sete vezes em que o Carrefour atuou com descaso e violência

Redação
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

A rede de supermercados Carrefour está envolvida em mais um caso de violência envolvendo seus funcionários e uma de suas unidades. Na noite desta quinta-feira (19), um homem negro foi espancado até a morte em uma loja localizada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi agredido por um policial militar e por um segurança terceirizado do supermercado. Ambos foram presos em flagrante e são investigados por homicídio qualificado.

Segundo a Brigada Militar, como é chamada a corporação do Rio Grande do Sul, as agressões começaram após um desentendimento entre a vítima fatal e uma funcionária do local. Freitas teria ameaçado bater na funcionária, que acionou a segurança.

De acordo com imagens que circulam amplamente nas redes sociais, ele teria sido levado para a entrada da loja e, segundo a Polícia Civil, teria iniciado o conflito. Logo depois, se tornou alvo do espancamento pelos outros dois homens.

Vítima faleceu no local / Foto: Reprodução/Internet

As imagens retratam ainda outros seguranças ajudando a imobilizar a vítima. Após uma série de socos e chutes, o homem, desacordado, foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que tentou reanimá-lo sem sucesso.

Em nota, o Carrefour declarou que iniciou rigorosa apuração interna do caso.

“Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais”, diz trecho do comunicado. 

Entretanto, o supermercado carrega um histórico com episódios recentes de violência, racismo e descaso envolvendo os clientes e os próprios funcionários. Confira:

Morte ignorada

Em 14 de agosto deste ano, um promotor de vendas do Carrefour faleceu enquanto trabalhava em uma unidade do grupo, em Recife (PE).

O corpo de Moisés Santos, de 53 anos, foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas, para que a loja seguisse em funcionamento e permaneceu no local entre 8h e 12h, até ser retirado pelo Instituto Médico Legal (IML).

À época, o Carrefour pediu desculpas “em relação à forma inadequada que tratou o triste e inesperado falecimento do Sr. Moisés Santos, vítima de um ataque cardíaco” e afirmou que errou ao não fechar a loja imediatamente após o ocorrido. A atitude da loja foi considerada desumana e amplamente criticada.

Controle de idas ao banheiro

Em maio de 2019, a Justiça do Trabalho de São Paulo concedeu liminar pedida pelo Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região contra o Carrefour, que estaria controlando a ida dos empregados ao banheiro.

A juíza Ivana Meller Santana, da 5ª Vara do Trabalho de Osasco, identificou condições consideradas degradantes para os trabalhadores.

De acordo com o Sindicato dos Comerciários, nas sedes de sete cidades (Barueri, Carapicuíba, Embu, Itapevi, Jandira, Osasco e Taboão da Serra), operadores de atendimento e de telemarketing são obrigados a utilizar “filas eletrônicas” para o uso do banheiro.

Além disso, devem manifestar necessidade do uso, registrando o nome no sistema eletrônico de fila e avisar ao supervisor em caso de urgência.

“Este tempo de espera pode acarretar prejuízos à saúde do trabalhador. Isto sem relatar o constrangimento de precisar explicar ao monitor/supervisor as suas necessidades fisiológicas, eventuais problemas intestinais ou estomacais, os relativos ao ciclo feminino”, disse a juíza na decisão.

Cachorro envenenado e espancado

Em dezembro de 2018, um cão que estava no estacionamento de uma das lojas da empresa, em Osasco, morreu após ser envenenado e espancado por um funcionário.

“Um segurança do Carrefour que matou o cachorro. Ia ter uma visita de supervisores da matriz e o dono do mercado, da filial de Osasco, pediu para o funcionário dar um fim no cachorro. Ele deu chumbinho no meio de mortadela, e agrediu o cachorro”, afirmou ao portal G1 Rafael Leal, da ONG Cão Leal, na ocasião.

A rede de hipermercados também não socorreu o animal. “O cachorro foi resgatado com vida todo ensanguentado por uma pessoa que estava perto e socorreu. Ele foi levado para uma clínica veterinária particular, mas morreu em atendimento.”

Caso Manchinha: Segurança foi responsabilizado por morte de cachorro no Carrefour de Osasco / Foto: Reprodução/Internet

Mais um caso de racismo

Em outubro de 2018, funcionários da empresa, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, agrediram Luís Carlos Gomes, porque ele abriu uma lata de cerveja dentro da loja. Surpreendido pelos funcionários do supermercado, o cliente reiterou que pagaria pelo item.

Mesmo assim, ele foi perseguido pelo gerente da unidade e por um segurança e depois encurralado em um banheiro, onde recebeu um mata-leão.

Gomes, que é deficiente físico, teve múltiplas fraturas e, como sequela de uma cirurgia, ficou com uma perna mais curta que a outra. Ele acusou o supermercado de racismo e discriminação e pediu uma indenização de R$ 200 mil.

Na época, o Carrefour disse, em nota, que “a rede repudia veementemente qualquer tipo de violência e reforça que, constantemente, realiza treinamentos e reorienta suas equipes, a partir da prática do respeito que exige dos seus colaboradores e prestadores de serviço”.

Demissão como retaliação

Em dezembro de 2017, trabalhadores do Carrefour que reivindicaram benefício de remuneração por trabalho em feriados foram demitidos da empresa, com a justificativa de corte de gastos. Os funcionários, no entanto, garantiram que os nomes que receberam a demissão estavam envolvidos em movimentos grevistas.

“Na verdade a empresa nunca teve cortes às vésperas do Natal e Ano Novo. Em 12 anos de casa, nunca vi isso acontecer. Como sempre bati minhas metas, portanto, gerava lucros, fica explícito o motivo de retaliação a fim de desestabilizar o movimento, sim”, contou um ex-funcionário ao The Intercept, na época.

Os funcionários que trabalharam durante os feriados de novembro de 2017 receberam apenas R$ 30 por dia trabalhado, menos da metade do que recebiam antes. Um empregado que recebe R$ 1.290 por mês, ou R$43 por dia, deveria receber R$ 86 por feriado, já que a diária era dobrada nesses dias.

Caso Januário Alves de Santana

Em 2009, seguranças da rede de hipermercados agrediram o vigia e técnico em eletrônica Januário Alves de Santana, de 39 anos, no estacionamento de uma unidade em Osasco. Ele teria sido confundido com um ladrão e foi acusado de roubar o próprio carro, um EcoSport.

Após o caso, manifestantes protestaram no estacionamento da unidade, onde estenderam uma faixa de 30 metros com a frase: “Onde estão os negros?”. Carros também exibiram protetores de para-brisa com a frase “Carrefour racista”. O caso foi reportado pelo portal Geledés.

Edição: Leandro Melito

Redação

6 Comentários

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  1. Com a palavra o presidente da Fundação Palmares, cidadão negro que é capaz de afirmar que os negros escravizados viviam melhor no brasilsil do que no continente africano.
    Se ele resolver se pronunciar, possivelmente defenderá o francês Carrefour e seus funcionários, todos eles “gente fina”.
    Em minha opinião, desde a infância se aprende, durante o jantar, que é muito mais cômodo ser racista, pois assim evita inúmeras discussões ao longo da vida, não se arriscando a perder amigos, diante de situações absurdas pratica a hipocrisia e por aí segue o elenco de vantagens que o racismo oferece para poupar aborrecimentos.
    Isto aqui é um caso perdido, e só pensarei diferente quando eu puder ver negros como diretores de bancos comerciais e/ou sendo donos de lojas em shopping com o mesmo padrão do Rio Sul, Fashion Mall, ou Barra Shopping.

  2. É, havemos de nos render às evidências: o brasil não é um país racista e nem segregacionista. Se fosse, a exemplo dos americanos, estaríamos em passeata de protesto com tochas nas mãos incendiando lojas e exigindo retratação. Mas não, o vice presidente e a loja reiteram. Está tudo dentro da normalidade, porque o país não é nem racista nem segregacionista.

  3. pois é, cade o MPF nestas horas? se fosse o Lula matando uma formiga, ja tavam em cima irado mais brabos que o hulck, agora como foi um negro….

    isto precisa sim de punição exemplar!!! vou dar uma sugestão: multa de 100 milhões para o estado como danos coletivos, indenização de mais 100 milhões para reparação á família da vitima. E a multa deve ser igual tambem para a empresa de segurança.

    Prisão de TODOS os evolvidos, desde os dois seguranças, aquela mulher de branco que aparentemete tava filmando e não tava nem aí para p rapaz morrer, mais os gerentes da loja que permitem este tipo de gente como funcionário, e talvez até incentivem este tipo de comportamento…

    e por fim o FECHAMENTO DA LOJA, para ver se por fim o Carrefour aprende.

    ano passado, acho foi uma cachorrinha que foi espancada ate a morte tambem numa loja Carrefour, e agora isto….fora o que a gente não fica sabendo… então não tem esta não, FECHEM LOGO ESTA MALDITA LOJA.

  4. Tem coisa que só se aprende vivenciando. Acho que se a diretoria do Carrefour entrasse na porrada com a mesma potência que fizeram com João Alberto Silveira Freitas, certamente não haveria tantas demonstrações de racismo e menos diretores no umbral.

  5. Definitivamente perdi minhas esperanças no ser humano. Estamos retornando a um período em que a barbárie está se tornando uma prática comum. Não aprendemos nada com os erros de nossos antepassados, pelo contrário esses erros ao invés de serem corrigidos para que possamos viver em uma sociedade melhor estes são estimulados a serem repetidos. Pra que serve vivermos numa sociedade tecnologicamente avançada se nossos ideias ainda se assemelham às do século XVIII?

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