Witzel acaba com sistema que incentiva polícia do Rio a matar menos

Governador assina decreto que retira a morte por policial da estatística de letalidade violenta no sistema de metas; Por outro lado, inclui nas metas o roubo de carga

Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assinou um decreto, publicado na edição do Diário Oficial do Estado desta terça-feira (24), que retira a morte por policial da estatística de letalidade violenta no sistema de metas, criado para conceder bônus salarial a policiais que contribuírem na redução dos índices de violência. As informações são do jornal O Globo.

O decreto de Witzel altera outro decreto criado em 2009 pelo então secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame, que define metas à área de segurança pública.

Na redação original do decreto, as metas eram a redução de: homicídios dolosos, roubos de veículos, latrocínio e roubos de rua. Em 2011 foi acrescentada a letalidade violenta, termo que englobava homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e homicídio decorrente da oposição à intervenção policial.

O que Witzel fez foi retirar “homicídio decorrente da oposição à intervenção policial”. O governador incluiu ainda nas metas a redução no roubo de carga. Ou seja, a vida foi colocada como menos importante do que objetos.

Em entrevista ao jornal O Globo, o especialista em segurança pública e ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar Robson Rodrigues lamentou a alteração promovida por Witzel no sistema de metas.

“É um retrocesso lamentável, já que o formato antigo do sistema exigia mais profissionalismo da polícia. A mudança é um sinal ruim. Na prática, a redução das mortes cometidas por policiais deixa de ser um objetivo almejado pela polícia”, destacou.

“Há alguns anos, um PM que recebesse salário de R$ 5 mil e trabalhasse em um batalhão que batesse todas as metas poderia ganhar até R$ 13 mil em bônus. Com a mudança anunciada hoje, matar mais ou menos deixa de ser um fator a ser considerado pelo agente na conta da possível gratificação”, disse.

A partir do novo decreto, o roubo de carga terá o mesmo peso de roubos de rua (peso 1). O roubo de veículo segue com peso 2 e a letalidade violenta com peso 3.

“É plenamente consistente com a política do Witzel [o novo decreto], na ideia que eles querem estimular as mortes por polícia e reduzir os outros homicídios. Faz todo sentido dentro da política dele, mas é uma tragédia do ponto de vista de minimização da violência no geral”, ponderou o sociólogo Ignacio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência, da Uerj, também ao Globo.

“Essa é uma coisa que já havia sido discutida na Intervenção Federal, que queria separar homicídios das mortes por policiais”, lembrou.

Nos últimos anos, o Rio vem apresentando crescimento no número de casos de homicídios provocados por agentes do Estado. Em 2015, foram 645 homicídios decorrentes da ação das forças de segurança, em 2016, 925 e em 2017, 1.127. No ano da Intervenção Federal na Segurança, 2018, o número de mortes praticadas por agentes do estado bateu recorde de 1.534 mortes. Até o final de 2019 esse número deve ser ainda maior, isso porque no período de janeiro a agosto, o total de homicídios provocados policiais foi 16% maior do que no mesmo período de 2018.

“Ao excluir as mortes decorrentes de ação policial dos indicadores a serem reduzidos, o governo está reduzindo ainda mais o controle da letalidade policial e estimulando o excesso de uso da força. No ano passado tivemos mais de 1500 mortos pela polícia, e em 2019 os policiais já são responsáveis por 40% das mortes na cidade do Rio e mais de metade em diversas áreas”, avaliou outro especialista, Silva Ramos, cientista social e coordenadora do Observatório da Segurança da Candido Mendes.

“Um estudo recente [Fórum Brasileiro, NEV e G1] acaba de mostrar que o RJ tem o pior desempenho de elucidação de homicídios do Brasil, com mais de 70% de inquéritos em aberto de homicídios que ocorreram há dois anos. Onde está a inteligência, a investigação e a perícia? As operações policiais letais e aterrorizantes criam uma cortina de fumaça para esconder a baixa eficiência da polícia fluminense Os resultados estão aí, operações com blindados em terra e no ar e as facções do tráfico e grupos de milícias se enraizando e expandindo pelo estado”, completou.

Em relação ao roubo de cargas, o Estado do Rio registrou o menor número de casos em 11 meses. E ainda, entre janeiro de agosto, ocorreram 5.277 ocorrências desse tipo, contra 6.440 no mesmo período do ano passado, ou seja, queda de 18%.

Redação

1 Comentário

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  1. Se não radicalizar, não vai rolar. Ou os setores conscientes vão pra rua fazer uma jornada Fora Bolsonaro, Fora Witzel e Liberdade para Lula, ou muito mais gente vai morrer, coisas muito piores vão acontecer, um verdadeiro pesadelo. Só povo radical na rua resolve o problema. Vamos juntar as bases de esquerda, que têm sangue nos olhos, e nos organizar à revelia das direções presas na idiotia política. Contra governo fascista o embate tem que ser violento, ir pra rua botar fogo no palácio, em agência bancária, que nem se tentou fazer em 2013. Só que dessa vez sem “horizontalismo”, com direção no ato, que aí a direita não consegue fazer as manobras midiáticas que fez aquele ano. Na moral, vamos levar pros partidos: FORA BOLSONARO! FORA WITZEL! LIBERDADE PARA LULA! FIM DA PM! E deixa o Jacques Wagner, o Rui Costa, o Marcelo Freixo, o Flávio Dino e o Haddad falando bosta sozinhos.

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