Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
[email protected]

O Datafolha não deveria surpreender, por Gilberto Maringoni

BOLSONARO TEVE uma grande notícia neste domingo. Trata-se do Datafolha, mostrando que 59% dos entrevistados não querem sua saída. Não sei o grau de exatidão de uma sondagem telefônica, mas ela deve expressar o que vai pela vontade popular.

O Datafolha não deveria surpreender

por Gilberto Maringoni

Impossível saber o alcance do jejum nacional convocado por Jair Boslonaro e por diversos chefes de quadrilhas fundamentalistas para este Domingo de Ramos. As TVs ligadas a tais facções pouco noticiaram o evento, nas vezes em que sacrifiquei minha sanidade mental para prescrutar o esgoto da Record e da Rede TV. O site R7 tampouco dá muito destaque. Posso estar enganado, mas minha percepção até agora é esta.

Bolsonaro, certamente alegará que a iniciativa foi coberta de êxito. Com os fiéis refugiados em casa, difícil saber quem decidiu passar fome de moto próprio. Cerca de 200 doidos – segundo o UOL – saíram às ruas, em São Paulo, para atacar João Dória e reivindicar a reabertura do comércio, das igrejas e das escolas. Diferentemente dos novos ricos das carreatas, os baderneiros de agora foram à Paulista a pé, exercitar a musculatura já flácida por três semanas de refúgio forçado.

BOLSONARO TEVE uma grande notícia neste domingo. Trata-se do Datafolha, mostrando que 59% dos entrevistados não querem sua saída. Não sei o grau de exatidão de uma sondagem telefônica, mas ela deve expressar o que vai pela vontade popular.

Os que se espantam com a resiliência – adoro detestar essa palavra – do Boçal no gosto da massa, precisam levar em conta que ele é fascista, assassino potencial, estúpido e tudo o mais. Mas não é burro. Bolsonaro não brinca com seu eleitorado e não comete estelionato eleitoral. Entrega exatamente a mercadoria tóxica que promete há décadas.

É PRECISO ESTUDAR DETALHADAMENTE o que aconteceu no Brasil, a partir das decisões tomadas pelo governo federal eleito em 2014, para avaliar Bolsonaro. Tivemos ali um estelionato eleitoral quase canônico.

Naquela ocasião, como é público e notório, a chapa eleita prometeu mundos e fundos em campanha. Coisas como desenvolvimento, emprego, bem-estar, defesa dos direitos trabalhistas e vida melhor foram repetidas à la vontê em todas as mídias possíveis e imagináveis.

Mal fechadas as urnas, as palavra empenhada virou pó. Não apenas houve a concretização uma recessão planejada às escondidas com antecedência, como se materializou o que vários liberais – como Samuel Pessoa – advogavam havia pelo menos dois anos. O objetivo era elevar o desemprego para um patamar acima de dois dígitos, visando-se minar qualquer capacidade de resistência popular à retirada de direitos dali por diante. Ou seja, em 2015-16 limpou-se o terreno para a implantação da segunda onda neoliberal em nosso país, muito mais agressiva que a dos anos 1990.

O QUE SE SUCEDEU É CONHECIDO. A administração eleita desabou na aprovação popular em poucos meses, suscitando desencanto e raiva. Em palavras mais precisas, o novo governo deu uma banana para seu eleitorado e adotou o programa do adversário. Explicação alguma foi dada. O golpe foi dado quase sem resistência dos de baixo. Óbvio. A direita percebeu a deixa e atacou.

Bolsonaro, repita-se, é um fascista. Mas não rasga dinheiro. Continuará por bom tempo com legitimidade em cerca de um terço da população. Isso desarranja articulações que visam isolá-lo no palácio, convidá-lo a renunciar ou fazer prosperar a campanha pelo impeachment. Daí que o resultado do Datafolha deva ser estudado em perspectiva histórica. Não fazer isso significa entrar no pantanoso e falso terreno de que o povo seria burro. Não é. Teorizar tamanho disparate serve de autoengano confortável a quem não quer se lembrar do que fez em alguns verões passados.

A situação pode se reverter nas próximas semanas e erodir o colchão de legitimidade que o estúpido ainda apresenta, a depender da evolução das várias crises em andamento. A tarefa de apeá-lo do poder pode ser mais demorada e difícil do que aparenta.

Estamos no meio do caos. Mas é importante não ter ilusões com a realidade.

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Discordo totalmente.
    Não só desta idiotice de colocar a culpa do golpe no governo golpeado, como de achar que o bolsonaro vai sofrer com o caos que se intalará em breve em um país ignorante, dividido e depreparado. O bolsonaro cresce na desinformação, na confusão e no bagunça. Escrevam o que digo. O bolsonaro vai usar o pânico dos bolsomínions para inverter a verdade, criar uma narrativa alternativa e virar o jogo. Ele vai dar um golpe em breve. Vai ter sucesso? não dá pra saber, mas será muito difícil. Ele deveria ser neutralizado o quanto antes.

  2. Análise apressada, que toma o não apoio a renúncia como apoio ao governo. Não é. Muitos temem aumentar a instabilidade política no momento da pandemia. Considerando esse cenário, penso que a análise não reflete o que a pesquisa traz e nem abre possibilidade para interpretação dos dados…

  3. Opinioes vesgas, com total desrespeito aos fatos! O ressentido gilberto esquece, propositalmente, a acao da farsaJato, e consequente distruicao da industria de base nacional e desmonte da Petrobras, o massacre midiatico, o conluio com supremo e tudo, etc. Festival de abobrinhas em grande stilo.

  4. Sem comentários para um texto tão ruim… A principal guerra política hoje não é Direita x Esquerda e sim Direita x Direita, e a Direita que o Bozo resolveu enfrentar não deixará de destruir a ele e seus fanáticos…

  5. O articulista tem sempre que culpar o PT pelos males do Brasil. Nesse sentido se aproxima do “boçal” Bolsonaro que vira e mexe culpa o PT. Para ele, tudo começou como estelionato eleitoral da Dilma-PT em 2014, onde os eleitores escolheram votar em Dilma por melhorias socioeconômicas e outras coisas mais, no entanto o governo petista os traiu. Tudo Bem. Assim apoiou o Golpe de Temer e elegeu Bolsonaro, por vingança e continua apoiando o Mito. Agora esses eleitores aceitam que não tenham benefícios sociais e ou salario e outras coisas mais.
    E culpa do PT!!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador