As propostas delirantes dos seguidores de Javier Milei para defender “ajuste militar”

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

Se alimentar uma vez ao dia e comer vegetais cultivados em hortas nas varandas dos apartamentos são algumas das propostas apresentadas

Imagem: Joaquin Temes

Para reduzir a poluição ambiental, o ex-presidente Jair Bolsonaro sugeriu à população, em agosto de 2019, “fazer cocô dia sim, dia não”. Durante os quatro anos em que esteve no Palácio do Planalto, Bolsonaro regeu uma orquestra desafinada de soluções esdrúxulas e cruéis para o país. 

Chegou a vez da Argentina experimentar algo similar nas mãos da extrema-direita. Depois da posse do presidente eleito Javier Milei, e do anúncio do ‘Plano Motosserra’, uma enxurrada de soluções absurdas e desumanas para o país começa a ser usada para amainar a catástrofe já esperada com o plano. 

No geral a cargo dos seguidores fanáticos de Milei, tal como com o bolsonarismo aqui no Brasil, as propostas são as de compartilhar o aluguel, não ter vergonha de alimentar filhos uma vez por dia e comer vegetais cultivados em hortas nas varandas dos apartamentos. 

Entre outras, viajar de bicicleta para evitar gastar dinheiro com gasolina ou transporte público. Parar de comprar comida até que os preços caiam e a máxima: tenha fé, otimismo e esperança.

Propostas para defender plano 

As propostas servem para defender o duro corte nos gastos públicos que Milei decretou nos primeiros dias de mandato e que já causou ondas de rejeição.

“Ajuste militar” é o nome com que todas estas iniciativas, umas mais controversas que outras, foram batizadas pelos opositores. A estratégia para justificar políticas empobrecedoras a todo custo não é nova: foi lançada durante o governo de Mauricio Macri (2015-2019), atual fiador do governo Milei.

O escândalo com maior repercussão foi protagonizado pelos jornalistas Eduardo Serenellini e Viviana Valles, ambos da emissora LN+, que naturalizaram a pobreza e as alternativas que os cidadãos estão adotando para gastar menos.

“Um vai cortar na plataforma para ver filmes, outro vai cortar no carro, e não vai usar mais, e outro é aquele que está gravemente doente, não vai tomar café da manhã tampouco irá almoçar, vai fazer uma refeição por dia. Em diferentes níveis, estamos todos cortando”, disse Serenellini, ao comparar o consumo cultural com a alimentação.

Políticos e jornalistas surfam na onda 

Um dos primeiros casos desta polêmica, que acaba de começar, foi protagonizado pela advogada e ex-candidata a senadora María Eugenia Talerico.

“Vamos levar as bicicletas. Vamos poupar energia. Vamos partilhar a renda. Pão e vinho e que Deus cuide da nossa saúde. Passamos por uma pandemia e vamos ultrapassar o rubicão”, escreveu a macrista. 

Ocorre que María Eugenia é integrante das classes mais altas da Argentina, sendo proprietária de uma dezena de imóveis de alto padrão, o que revela o perfil de quem tem induzido a população a defender propostas como a de fazer com que os filhos comam menos. 

A jornalista ultraconservadora Lana Montalbán decidiu por declarações semelhantes, a partir do lugar onde mora: Miami. “Amados argentinos, recomendo que aprendam rapidamente a ter hortas em seus jardins, varandas e terraços, por favor”, escreveu ela.

Usuários das redes sociais ironizam. “Mais um membro do clube dos milionários que quer te ensinar como ser pobre”, “quem é você para vir e nos dizer para esperarmos? De Miami, qualquer um tem uma opinião”, “é bom dar conselhos pouco práticos à distância e com a vida resolvida. Não há mais cinismo”, responderam.

Com informações do Pagina 12 e Agência RT

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