“Não há suspeitas de fraude na eleição da Bolívia”, concluem pesquisadores do MIT

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"Não há suporte estatístico para reivindicações de fraude de voto. A análise estatística e as conclusões da OEA pareceriam profundamente falhas", concluem em relatório

Foto: STR/EPA-EFE/Shutterstoc

Jornal GGN – Uma pesquisa feita por dois investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) revela que “não há razões para suspeitar de fraude” nas eleições da Bolívia, que ocasionaram a destituição de Evo Morales e o pleito para novas eleições em maio deste ano. Os resultados dessa investigação foram divulgados na página de pesquisas científicas do The Washington Post, a Mokey Cage.

John Curiel e Jack R. Williams são cientistas e pesquisadores do Laboratório de Ciência e Dados Eleitorais do MIT e realizaram uma investigação sobre o pleito eleitoral do país latino-americano para verificar se as constatações da Organização dos Estados Americanos (OEA) eram verdadeiras. A conclusão foi que não.

O relatório da OEA foi um dos principais mecanismos de pressão para o conflito social iniciado pela oposição boliviana, após divulgar o resultado da vitória de Morales nas eleições de outubro passado. Com base em documento da OEA, a oposição sustentou que houve “fraude eleitoral”, pressionou pela renúncia do então presidente e convocou novas eleições.

No documento, a OEA “questiona a integridade dos resultados das eleições”, após afirmar ter identificado irregularidades. Desde que Morales pediu exílio no México, e posteriormente na Argentina, os integrantes do partido do então presidente, o MAS, foram perseguidos, cerca de 40 ex-funcionários eleitorais foram presos e 35 foram mortos nos protestos, dos quais a polícia aderiu à oposição.

O candidato do MAS que disputaria as eleições em dois meses, o ex-ministro Luis Arce, também foi alvo de uma intimação do Ministério Público, medida que foi vista pelos apoiadores de Evo como manobra para o impedir de concorrer ao pleito.

“A mídia relatou amplamente as alegações de fraude como fato. E muitos comentaristas justificaram o golpe como resposta à fraude eleitoral do MAS-IPSP. No entanto, como especialistas em integridade eleitoral, descobrimos que as evidências estatísticas não apoiam a alegação de fraude nas eleições da Bolívia em outubro”, informaram Curiel e Williams.

Em uma das constatações, os investigadores apontaram que no momento em que o sistema de contagem de votos foi interrompido, caso o pontos percentuais a mais obtidos por Morales fossem superior ao de seu concorrente, o ex-presidente Carlos Mesa, haveria possibilidades de suspeitas contra Evo.

“Como Morales havia ultrapassado o limite de 40%, a questão principal era se a contagem de votos era 10 pontos percentuais maior que a de seu concorrente mais próximo. Caso contrário, Morales seria forçado a ir a segundo turno contra seu concorrente mais próximo – o ex-presidente Carlos Mesa.”

E continuou: “Nossos resultados foram diretos. Não parece haver diferença estatisticamente significativa na margem antes e depois da interrupção da votação preliminar. (…) Se a conclusão da OEA fosse correta, esperaríamos que a margem de votação de Morales aumentasse logo após a contagem preliminar de votos parar – e a margem de eleição resultante sobre seu concorrente mais próximo seria muito grande para ser explicada por seu desempenho antes da contagem preliminar ser interrompida. Poderíamos esperar ver outras anomalias, como mudanças repentinas nos votos de Morales de delegacias que antes eram menos inclinadas a votar nele.”

Como conclusão, os investigadores apontam que “não foram encontradas nenhuma evidência de nenhuma dessas anomalias” e, ao fazer 1.000 simulações para verificar se era possível prever a diferença entre o voto de Morales e a contagem do concorrente, utilizando apenas os dados já verificados antes da contagem ser interrompida, “descobrimos que Morales poderia esperar uma vantagem de pelo menos 10,49 pontos sobre seu concorrente mais próximo, acima do limite de 10 pontos percentuais necessário para vencer imediatamente”.

Os pesquisadores norte-americanos concluem: “Não há suporte estatístico para reivindicações de fraude de voto”. “Em suma, a análise estatística e as conclusões da OEA pareceriam profundamente falhas”, continuaram.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. “não há razões para suspeitar de fraude” nas eleições da Bolívia, que ocasionaram a destituição de Nicolás Maduro.

    Não seria o Evo?

  2. Contudo, o informe final da OEA não se baseia na tendência estatística, mas lista uma série de adulterações em atas de seções eleitorais, dados transmitidos através de servidores fantasmas não cadastrados e muitos mais problemas aos quais o estudo dos pesquisadores do MIT sequer fazem menção… Estive na Bolívia durante as eleições e infelizmente, é muito implausível afirmar que não houve fraude. A derrubada subsequente de Evo Morales foi, de fato, um golpe militar e a transição para a autoproclamada senadora Áñez uma farsa legitimada pelo Tribunal Constitucional, mas isso não exclui o fato de que muito provavelmente houve sim tentativa de fraudar as eleições por parte do governo… Esse estudo, infelizmente, me parece apenas mais uma peça da guerra de informações dos dois lados sem se ater à veracidade factual.

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