Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Seria a guerra na Ucrânia um filme mal produzido?, por Wilson Ferreira

Mas, e se o próprio acontecimento for falso? Um “evento-encenação”, como conceitua Humberto Eco no seu texto clássico “Tevê: a Transparência Perdida”

Seria a guerra na Ucrânia um filme mal produzido?

por Wilson Roberto Vieira Ferreira

Na cobertura jornalística da Guerra na Ucrânia, a grande mídia vem falando muito em “guerra de narrativas” e “propaganda de guerra”, além da “verdade como a primeira vítima”. Claro, que tudo isso só se aplica aos russos. Porém, na utilização dessas expressões de “desconstrução” existe um ardil: oculta uma coisa mais grave do que “narrativas” – o fato de que na guerra atual não há mais dissimulações, mas simulações: “eventos-encenação”. Não importam as narrativas de dissimulações, sejam da OTAN ou de Putin. O ponto de partida já é simulado. Dois exemplos: o vídeo-diário do “Illusion Warfare Report” e o site “Anti-Spigel” que denunciam como a Ucrânia está se tornando um estúdio de TV a céu aberto para a produção de vídeo especialmente roteirizados para serem posteriormente segmentados em pequenos clipes pelos telejornais – para serem exibidos em lopping nas inúmeras entrevistas ao vivo com especialistas.

Costuma-se dizer que na guerra a primeira vítima é a verdade. De que a guerra é uma “batalha de narrativas” e que a propaganda de guerra seria uma arma tão poderosa quanto blindados e bombas. Será que nos acostumamos a dizer isso porque ainda pensamos em uma mídia convencional? Uma mídia que ainda operaria dentro do paradigma das formas clássicas de manipulação com propósitos de dissimulações – mentir ou esconder aquilo que estaria de fato acontecendo. 

Mas, e se o próprio acontecimento for falso? Um “evento-encenação”, como conceitua Humberto Eco no seu texto clássico “Tevê: a Transparência Perdida” In: Viagem na Irrealidade Cotidiana, Nova Fronteira, 1984. E se a própria reportagem e captação de imagens for muito mais do que uma dissimulação, mas agora uma simulação?

Este Cinegnose já descreveu em uma série de artigos sobre a natureza de false flags ou inside Jobs da série de atentados na Europa de 2015 a 2017 (a recorrência de uma série de indícios de um script logístico e midiático fixo: simulações de combates ao terrorismo nos locais antes do atentado “real” acontecer, conclusões rápidas, lugares icônicos e sincrônicos dos atentados, a narrativa do “lobo solitário” etc. Alguns exemplos:

http://cinegnose.blogspot.com/2015/11/atentados-em-paris-nao-aconteceram.html

http://cinegnose.blogspot.com/2015/01/o-atentado-ao-charlie-hebdo-foi-um.html

http://cinegnose.blogspot.com/2016/07/ataque-em-nice-entre-false-flag-e-o.html

http://cinegnose.blogspot.com/2017/03/ataque-em-londres-mais-um-atentado-que.html

http://cinegnose.blogspot.com/2017/05/ataque-em-manchester-cria-dissidencias.html

http://cinegnose.blogspot.com/2016/12/do-atentado-em-berlim-as-criancas.html

E que culminou com o flagrante de uma equipe de reportagem da CNN nas ruas de Londres, em 2017, pega com a mão na massa fabricando uma manifestação de muçulmanos supostamente protestando contra o Estado Islâmico – repórteres se transformando em diretores de cena e até policiais ajudando os produtores na marcação de cena dos atores – clique aqui.

E na Guerra da Ucrânia não poderia ser diferente. Duas interessantes fontes estão fornecendo relatos que nos faz colocar na mesma situação do personagem de Jim Carrey em Show de Truman, quando acidentalmente flagrou, por trás de uma parede cenográfica do que seria o saguão de um prédio, produtores do reality show comendo o seu café da manhã.

A primeira é uma série de vídeos “Illusion Warfare Report: The Road to Ukraine”, uma espécie de video-diário de uma viagem através da Polônia em direção a Kiev disponível no perfil do Twitter “LezLuTHOR” (@LezLuthor), iniciado em 5 de março.

E a segunda, o site Anti-Spiegel denunciando que as imagens dos resultados de um suposto bombardeio russo a uma maternidade em Mariupol foi um evento-encenação, com a presença onipresente de uma atriz e influenciadora digital que desempenhou diversos papéis – além do desempenho canastríssimo de soldados e crianças diante das câmeras.

“De guerra, só o nome do café”

O vídeo-diário começa com imagens do repórter dentro do avião que o leva para a Polônia e mostra a primeira página do jornal gratuito Metro estampando um heróico Zelensky sentado confiante num figurino militar acompanhado de uma brava manchete: “Sua Melhor Hora”. Acompanhamos a viagem de ônibus de Krakow a Przemysl, uma paisagem bucólica sem nenhum sinal de guerra ou tensão. “De guerra, só o nome do café”, brinca numa cafeteria à beira da estrada.

Ele faz a rota contrária dos refugiados que entram na Polônia, para relatar em uma estação de trem: “uma rota bem planejada e gerenciada que garante aos ucranianos que chegam sejam engarrafados e comprimidos nos saguões de bilheterias para que a mídia crie a ilusão do inferno na Terra”. As imagens mostram o caos provocado muito mais pelo estardalhaço dos repórteres e seus equipamentos.

Nos vídeos, nota-se que os repórteres propositalmente se colocam no centro dos corredores de passagem para que deliberadamente sejam esbarrados e até empurrados, para simular a atmosfera de caos e tensão. Necessário para um perfeito teatro de guerra. Repare, caro leitor, como repórteres, num ambiente já apertado, cercam os refugiados para criar uma atmosfera ainda mais opressiva e claustrofóbica.

Do lado de fora, mais interessantes simulacros: veículos policiais são deixados com intensas luzes piscantes. A cada 20 minutos ecoam sirenes, enquanto veículos (vans e polícia) circulam inexplicavelmente em loop em torno do quarteirão.

E num canto do estacionamento, a complexa parafernália de fios, monitores, um autêntico switcher, com potentes geradores para a iluminação das cenas: “todas as fotos encenadas precisam de uma boa iluminação”, diz.

A mídia é onipresente. O repórter diz que não consegue encontrar vagas em hotéis ou albergues. Será porque estão ocupados por refugiados? Não! Estão tomados por jornalistas, técnicos e produtores de TV. “Enquanto esses canalhas dormem no luxo, os pobres ucranianos são deixados dormindo na estação ferroviária”, denuncia. Claro! Para criar mais oportunidades de eventos-encenação: criar o cenário da “tragédia humanitária”.

É destacado como a produção dá o apoio para encenar situações caóticas: portas são bloqueadas parcialmente por placas e voluntários, para criar um engarrafamento de pessoas nas portas para serem capturadas pelas câmeras.

Afinal, criar filas produz um bom efeito psicológico de tensão.

Outro bom dispositivo semiótico para criar esse clima de guerra são jornalistas estranhamente trajando coletes à prova de bala estampado “PRESS”. Estranhamente porque, ao redor, só vemos ucranianos relaxados, conversando, até dando risadas ou concentrados nas telas e seus celulares – o importante não é a realidade, mas os signos da realidade…

Um minuto depois, caminhando para longe do cenário do “flagelo”, o repórter encontra ruas tranquilas e uma vida dos moradores absolutamente normal.

Como o refrão de Madonna diz em “Vogue”, “Strike the pose!”: um jovem posa para um fotógrafo como um herói que parte para lutar na Ucrânia ao lado de Zelensky.

Em Lviv, Ucrânia, mais caos fabricado para criar boas cenas à mídia: um toque de recolher é aplicado das 20h às 8h, o que significa que os viajantes não podem sair da estação e são forçados a participar da experiência de crise 4D totalmente imersiva, completa com adereços como o barril de lixo pegando fogo.

Em todos os vídeos de seu diário há uma contradição entre a vida normal dos cidadãos em Lviv e mesmo Kiev (mostrando o comércio aberto e supermercados abastecidos com frutas e gôndolas cheias – porém, é proibido comprar bebidas alcoólicas cujos setores estão isolados com faixas) com lugares em que atmosferas de guerra são perfeitamente encenadas.

Como, por exemplo, em Kiev em que tanques de guerra andam inexplicavelmente em loop por quarteirões e, sem falar, das indefetíveis sirenes ecoando na noite para alertar para ataques aéreos que nunca acontecem – com o claro propósito de assustar a população.

Enquanto os canais fechados de notícias exibem, também em loop, vídeos de supostos soldados da resistência ucraniana em pleno fogo cruzado contra os russos – apesar do suposto fogo cruzado, os enquadramentos das câmeras são perfeitos, sem trepidar ou hesitar, o que seria normal para um cinegrafista numa situação perigosamente letal.

O hospital-maternidade e a influenciadora digital

E visível a escalada de notícias de bombardeios em escolas, creches e notícias sobre crianças mortas. É crescente, reforçando a obsessão sangrenta e cruel do Hitler da vez, Putin.

Só faltava para o teatro da guerra um hospital-maternidade ser bombardeado… cheio de bebês, parturientes, médicos e enfermeiros. O ataque ocorreu na quarta-feira, 09/03, deixando 17 pessoas feridas, conforme o noticiário – só o fato de não haver mortos, diante das imagens de total destruição, já representaria um milagre.

Óbvio! Toda canastríssima produção hollywoodiana deve obrigatoriamente terminar com um bom happy end!

A primeira dica foi o enésimo vídeo do garoto-propaganda Zelensky, numa retórica overacting, carregada: “Mariupol. Ataque direto de tropas russas na maternidade. Pessoas, crianças estão sob os destroços. Atrocidade! Por quanto tempo mais o mundo será um cúmplice ignorando o terror? Feche o céu agora mesmo! Pare com os assassinatos! Você tem poder, mas parece estar perdendo a humanidade”. E acompanhando a estudada dramaticidade do ator-presidente, um vídeo de 1:19 minutos.

Continue lendo no Cinegnose.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

2 Comentários

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  1. Exatamente como no filme de 1997 “Wag the Dog” em portugês com o título ” Mera Coincidência” do Dustin Hoffman e Robert De Niro

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