Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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O Sonho Americano (I), por Izaías Almada

O espetáculo é ambientado nos anos 70, mas muito do que se vê em cena pode nos levar à reflexão do Brasil nos dias de hoje. Verdade!

O Sonho Americano (I)

por Izaías Almada

A divulgação da peça “O Sonho Americano”, produzida pelo Grupo Teatro dos Ventos, informa que o espetáculo é ambientado nos anos 70, mas muito do que se vê em cena pode nos levar à reflexão do Brasil nos dias de hoje. Verdade verdadeira!

Pude constatar isso no último domingo ao assistir a apresentação da peça no Teatro Heleny Guariba, com todas as suas poltronas ocupadas pelo público.

A primeira constatação que fiz ao final da encenação foi ver que o teatro, com seus mais de 2500 anos de existência, continua sendo a melhor das artes contadoras de histórias – sejam elas quais forem – e que ainda não foi em nenhum momento afetada pelas novidades da comunicação digital, como de alguma maneira estão sendo a televisão, o cinema e até mesmo a literatura.

Num cenário realista, uma sala configurada como deve ser, com suas mesas, cadeiras, poltronas e objetos de decoração, cinco personagens transitam pelo espaço com seus objetivos e ações muito bem definidos e desenvolvidos pelo autor e diretor Luiz Checchia.

Essas ações e objetivos nos encaminham aos poucos, para um encontro até certo ponto inesperado de dois primos, Beatriz e Bento, onde mostram a amizade que criaram desde a sua infância, para um clima pesado que se abateu sobre o Brasil nas décadas de 60 e 70, sobretudo para aqueles que, ideológica e politicamente resolveram pegar em armas para enfrentar uma ditadura imposta ao país pelo que de mais conservador, violento  e reacionário tomou conta daqueles que tinham o dinheiro e o poder.

O Golpe de Estado de 1964 contra o governo popular e nacionalista de João Goulart tomou o poder com extrema violência, organizado que foi pelos empresários brasileiros, colocado em prática pelos militares de então e, como não podia deixar de ser, com o apoio da embaixada dos EUA, filme que se repete na história político/econômica do nosso país.

A reação ao golpe começou a ganhar força já nos primeiros meses do governo militar, quando estudantes, sindicatos operários, camponeses, soldados e marinheiros, intelectuais e artistas, passaram a se juntar e mostrar nas ruas o descontentamento da nação. E nunca é demais lembrar que a classe teatral, em sua maioria e corajosamente, se colocou na luta contra a ditadura.

Em 13 de dezembro de 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5, instala-se o terror. A esquerda se divide e parte de seus militantes organizam-se para a luta armada. A luta se daria na cidade e no campo.

Um desses militantes é Bento que, no cumprimento de uma ação revolucionária, é obrigado a se esconder e procura pela casa de sua tia Antonia. E é aqui que começa “O Sonho Americano”.

Recebido pela tia, surpresa com o aparecimento do sobrinho em sua casa sem mais nem menos, aceita em ajudá-lo ainda que criticasse a opção armada abraçada por Bento.

As peripécias da narrativa teatral começam a se movimentar numa direção inesperada quando Bia, a prima Beatriz, chega em sua casa. O clima de emoção entre os primos, que – pelas lembranças da infância e adolescência – resvalou pela possibilidade de um amor nada platônico entre ambos ganha novas dimensões, colocando em cena os dois lados de um Brasil dividido entre a ilusão de um capitalismo explorador e perverso e uma alternativa socialista e democrática.

Na construção da opção guerrilheira toda segurança era fundamental ou mais que isso, pois qualquer descuido poderia levar à morte ou à prisão de muitos dos seus militantes e combatentes.

Tia Antonia e Bia dão-se conta daquela nova e repentina situação com a presença do jovem Bento. A consciência do que poderia acontecer dali para frente se impõe com tal força que os sentimentos se misturam de tal maneira e as opiniões se dividem.

(CONTINUA)

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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