Afinal, ainda é possível superar o capitalismo?, por Fábio Konder Comparato

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Afinal, ainda é possível superar o capitalismo?

por Fábio Konder Comparato

Especial para o Jornal GGN

Vivemos hoje, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, uma situação política mórbida, em que a tradicional distinção entre posições de esquerda e de direita parece ter perdido sentido. Sem ter a pretensão de diagnosticar a moléstia e propor a terapêutica adequada, creio, no entanto, que vale a pena refletir sobre dois fenômenos mundiais sem precedentes, que talvez estejam na origem da anormalidade. O primeiro deles é a superação aparentemente definitiva do Estado nacional, como quadro geral da vida política. O segundo é a progressiva e cada vez ampla utilização da inteligência artificial em todas as formas de atividade.

Reflitamos sobre o primeiro deles.

Até a Paz de Vestefália, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos na Europa em 1648, a soberania ou poder político supremo pertenceu durante milênios, salvo raríssimas exceções históricas, a pessoas ou famílias da mesma linhagem. A partir de então, essa soberania começou a ser exercida no quadro impessoal de Estados, como organismos políticos supremos. É esta última fase, ao que tudo indica, que está em vias de ser superada pelo fenômeno da transnacionalidade.

Aqui vão alguns exemplos para ilustrar o fenômeno.

Até as décadas finais do século passado, a emissão de moedas nacionais fazia parte da soberania estatal. Hoje, esse poder de criação monetária, embora incluído oficialmente na soberania de cada Estado, é exercido na prática, em grande parte pelos conglomerados bancários transnacionais e no restante pelos bancos centrais de cada Estado, mas que atuam livres da injunção estatal. O mesmo se diga do poder de gestão das moedas nacionais, cujo valor, embora fixado oficialmente por cada Estado, é sempre imposto de fato a cada um deles pelo poder transnacional bancário, cuja concentração se avoluma enormemente. Estima-se, assim, que nos maiores mercados financeiros do planeta – Wall Street e a City londrina (esta, enquanto não efetivado o Brexit) – 737 megabancos e fundos de investimento controlam 80% das 43 mil empresas transnacionais que neles atuam.

Sob a pressão desse poder crescente, nos últimos anos a regulação de conflitos de interesse econômico, quer entre particulares, quer entre estes e o Poder Público, ou unicamente entre Estados no plano internacional, passou progressivamente da competência estatal para a de tribunais de arbitragem, livremente estabelecidos pelas partes em conflito. Ao mesmo tempo, tratados internacionais de comércio vieram impor a regra de que empresas privadas podem responsabilizar diretamente os Estados por prejuízos sofridos, ao passo que os Estados já não têm competência para atuar judicialmente contra empresas privadas em matéria de comércio internacional.

Enquanto isso, a partir dos anos 80 do século passado, sob a liderança norte-americana, os Estados foram perdendo progressivamente o poder de regulação das atividades das empresas financeiras, eliminando-se notadamente a separação institucional entre bancos de depósito e bancos de investimento, estabelecida logo após a depressão mundial provocada pela crise de 1929.

Essa transformação substancial da organização econômica coincidiu com o ingresso da civilização capitalista em sua terceira e – segundo toda aparência – conclusiva fase histórica: a do capitalismo financeiro, cuja preocupação maior não é a produtividade, como na fase do capitalismo industrial e de serviços, mas sim a lucratividade pura e simples das operações empresariais. No terreno do capitalismo financeiro, com efeito, as empresas costumam gerar maior lucro com menor produção, pois seu método de atividade é, em grande parte, de pura especulação com valores mobiliários, quer originalmente emitidos, quer deles derivados; estes últimos, por isso mesmo denominados, na gíria financeira, derivativos. Para se ter uma ideia do caráter puramente especulativo de tais valores, estima-se que eles somam hoje, nos mercados financeiros do mundo todo, cerca de 555 trilhões de dólares; ou seja, o equivalente a 5 vezes o valor do produto mundial. Mas esse valor é puramente estimado e pode variar drasticamente em questão de segundos.

Assinale-se, por outro lado, que no bojo do capitalismo financeiro o poder de comando das empresas torna-se impessoal, pois está praticamente nas mãos de gestores anônimos de fundos de investimento.

Ressalte-se, ademais, que é justamente no âmbito do capitalismo financeiro que as transformações técnicas provocadas pela automação ou inteligência artificial têm sido as mais profundas. Nos mercados de valores do mundo todo, investimentos bilionários têm sido feitos, de forma a possibilitar a realização de milhares de operações em frações de segundo.

O triunfo dessa revolução tecnológica, todavia, não deixa de provocar graves consequências socioeconômicas, como o desemprego em massa de trabalhadores. De acordo com dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho, órgão das Nações Unidas, em seu relatório “Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo”, publicado em 2015, o nível do atual desemprego no plano mundial já é equiparável ao ocorrido após a grande crise de 1929, com a agravante de que, hoje, somente um quarto dos trabalhadores no mundo todo tem emprego estável. Por outro lado, segundo estimativa da Universidade de Oxford, 47% dos atuais empregos vão desaparecer nos próximos 25 anos.

Não bastasse isso, nos últimos anos o poder transnacional das grandes empresas vem estabelecendo a progressiva privatização do direito do trabalho, ao consagrar o princípio da substituição do direito legislado pelo negociado. Inútil dizer que, no Brasil, essa transformação, em vias de ser aprovada no Congresso Nacional, é escancaradamente contrária à Constituição, além de violar de modo direto vários tratados internacionais de que o nosso país é parte integrante.

Ao que parece, porém, a oligarquia brasileira já não tem a menor preocupação em dissimular o predomínio de seus interesses grupais sobre os direitos fundamentais dos trabalhadores, como estatuído na Constituição.

Não é preciso, na verdade, grande argúcia de análise para perceber que toda essa transformação da técnica empresarial, desenvolvida pelo capitalismo financeiro, vem provocando o aumento irreversível da desigualdade de condições de vida em todos os continentes.  Basta citar, a esse respeito, o último relatório da Oxfam International, confederação que reúne 18 organizações não governamentais em mais de 100 países, com o objetivo de lutar contra a pobreza e a injustiça social. Nesse relatório, publicado em janeiro de 2017, salienta-se que a diferença entre ricos e pobres aumenta sem descontinuar no mundo todo, e que no presente apenas 8 indivíduos possuem riqueza equivalente à de metade da humanidade. Ainda de acordo com esse mesmo relatório, em nosso país apenas 6 indivíduos detêm, em conjunto, a mesma riqueza que a metade menos abastada de toda a nossa população.

Importa salientar que essa revolução socioeconômica abalou em seus alicerces a mais autorizada doutrina dos partidos e movimentos políticos da esquerda, a saber o marxismo. Com efeito, no Manifesto Comunista, Marx e Engels afirmam que “a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes”. Assinalam que “nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais”. E prosseguem: “A nossa época, entretanto, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado”.

Hoje não é preciso grande acuidade de análise para verificar que essa interpretação histórica, tida como verdadeiro dogma pelas forças políticas de esquerda, foi totalmente desmentida pela evolução social.

Em primeiro lugar, porque em meados do século XIX, quando ela foi concebida, o capitalismo industrial mal desenvolvera o setor de serviços, que hoje ocupa uma posição preeminente nas economias mais avançadas. Ora, a atividade laboral, no setor de serviços, é bem distinta daquela desenvolvida no campo da produção propriamente industrial; entre outras razões, porque não há aquela concentração de trabalhadores num mesmo local, como a fábrica, por exemplo.

Em segundo lugar, porque o conjunto dos trabalhadores deixou de ser aquela massa compacta e uniforme, que o marxismo qualificou como proletariado. As especializações laborais multiplicaram-se, com a enorme diversificação não só das atividades, mas também da mentalidade dos trabalhadores; criando-se sobretudo uma oposição entre os chamados executivos, transformados em agentes do capital, e a massa indistinta dos assalariados.

Em terceiro lugar, porque, como se acaba de ressaltar, para desenvolver suas atividades as empresas modernas necessitam de um número cada vez menor de trabalhadores, devido à crescente utilização dos sistemas de inteligência artificial. Ou seja, para retomarmos a análise marxista, na atual luta de classes os trabalhadores perdem incessantemente a sua força numérica, sem que essa perda seja compensada com a invenção de novas armas de combate.

Se o que se vem de afirmar pode ser aceito, ainda que provisoriamente, como premissa válida de raciocínio, o que importa doravante é formular as diretrizes básicas de uma ação transformadora, que preserve o futuro da humanidade.

A primeira dessas diretrizes é que a nova sociedade a ser construída não pode fundar-se na supremacia de um grupo ou classe social sobre todos os outros, mas no princípio fundamental, enunciado na abertura da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, de que nascemos todos livres e iguais, em dignidade e direitos.

A segunda diretriz básica, complementar da primeira, é o escrupuloso respeito, em qualquer circunstância, das diferenças básicas de sexo, idade, etnia e cultura.

Finalmente, a terceira diretriz básica é a de que, para a preservação da vida no planeta, em todas as suas formas, é indispensável e mesmo urgente superar o capitalismo e construir uma civilização mundial comunitária.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

32 Comentários

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  1. se me permite Colega

    se me permite Colega Comparato  ..da licença  ..é que por estes dias nós estamos diante dum GOLPE de proporções gigantescas  aqui no BRASIL e vc se põe, meste momento, a filosofar sobre modelo econômico ?!  ..sinceramente, acho que nosso problema é mais embaixo

    Nossa economia por diversos fatores esta sem competitividade (no mundo em transição aonde o homem não vale nada) ,,servimos como fornecedores de matéria prima e comida  ..no mais somos descartáveis

    Esta elite daqui que vc fala esta desesperada  ..sem COMPETITIVIDADE desde antes de COLLOR ..ela pensa que achou um culpado pros seus males ..o salário e o Estado

     ..já já cairá a ficha quando ela for comida numa só dentada ..aí então ela entenderá que a ela falta uma NAÇÃO

    um dado  ..GOOGLE US$ 70 bi em publicidade/ano  ..GLOBO, caindo, US$ 7 bi  ..e a CHINA ainda ta com tudo querendo mais mundo pros seus 1,4 bilhão

     

    1. Mundo, 2030. Daqui a meros 13

      Mundo, 2030. Daqui a meros 13 anos.

      Na próxima crise financeira, Wall Street e City londrina entregam África e América do Sul em troca de apoio chinês ao avanço deles no Oriente Médio.

    2. Poxa, Romanelli, parece que

      Poxa, Romanelli, parece que você é que está boiando nessa. O que você menciona é importante, mas o que o Professor Comparato descreve é importantíssimo, porque justamente é a causa mais profunda das nossas agruras atuais. Basta procurar ler na internet as citações de membros das duas famílias banqueiras mais poderosas do mundo (sim, aquelas duas que começam com R) sobre a possibilidade da dominação do mundo pela manipulação financeira, pelo controle da emissão do dinheiro do mundo (e portanto dos bancos centrais) para se sentir um arrepio na espinha e admitir que tudo o que eles falaram ou conspiraram está se realizando, no Brasil inclusive, agora,  e o Professor Comparato traz à discussão alguns desses aspectos. Tudo a ver.  

  2. Se o capitalismo for superado…

    Se o capitalismo for superado, não será pelo socialismo, mas por outro sistema econômico ainda por surgir. O socialismo foi testado à exaustão no século 20 e fracassou. Só continua a ser cultuado em países atrasados como o nosso, onde os intelectuais ainda estão presos a esquematismos do tempo de Marx que não mais se aplicam às relações sociais modernas.

    Nos países adiantados, o que foi superado não foi o capitalismo, mas o devaneio de superar o capitalismo. Lá ninguém mais tem essa ideia, e o foco da discussão já foi há muito trazido para temas mais atuais, como a globalização. O autor do artigo foi lúcido em identificar a obsolescência dos modelos marxistas, que se aplicavam aos operários do século 19, todos trabalhando na mesma fábica e à noite voltando para o mesmo bairro operário, e portanto podiam organizar-se e reivindicar em bloco. Mas no final se perde em uma contradição: diz que a sociedade deve fundamentar-se no enunciado da abertura da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, de que nascemos todos livres e iguais, mas clama por uma civilização mundial comunitária. Essas premissas são mutuamente excludentes, pois uma sociedade livre tende a tornar-se desigual, uma vez que os indivíduos têm possibilidades desiguais, mas essa desigualdade com liberdade gera muito mais felicidade ao indivíduo do que a igualdade forçada de uma civilização comunitária.

    1. E eis aí o típico discurso neoliberal

      Não adianta embalar em muitas palavras, nem fazer uma redação bonita e intelectualizada: esse é o típico discurso neoliberal, de “fim da história”, típico Fukuyama, que quer pregar aos excluídos que a liberdade deles é o bem mais precioso que há.

      “Vocês são livres pra ganhar mal, ser explorados e passar fome!”. Ou a contrário: “vocês ganham mal, são explorados e passam fome, mas são livres!”… 

    2. …”temas mais atuais, como a

      …”temas mais atuais, como a globalização.”….????

      Como assim meu caro Pedro?  Mas, …a “globalização” ao que se sabe, chegou por aqui nas barcaças dos invasores portugueses. Se não me falha a memória, ainda no alvorecer do século XVI. Ou tó enganado?

      Quanto à sua descoberta, segundo a qual “o socialismo teria sido testado à exaustão no século 20”. Palavras suas. Jamais iria, eu, afirmar tamanha, digamos assim, impropriedade. Pois, sei muito bem que o termo “socialismo” tem se prestado ao longo do tempo como meia-sola, para muito sapateiro desonesto tapar buracos de solados de sapatos imprestáveis. Certamente, a observação que faço, não inclui a Grande Revolução Soviética de outubro de 1917.

      Orlando

      Em tempo: Pedro, o desenrolar dos processos históricos, se dão, como o subir as escadas de um grande edifício, no qual se vai bantendo e acrescentado uma nova laje, sempre…

  3. A simplicidade substantiva da genialidade

    Excelente artigo, conciso, informado e informativo, didático e exigente, de uma capacidade de análise e proposição que comprovam porque o professor merece o respeito de que é depositário como acadêmico e “intelectual público”, de certa maneira. Intelectual “produtivo” ao contrário de especuladores do conhecimento como FHC. 

    A observação sobre a pulverização da mão de obra no setor de serviços tem sido apresentada por outros estudiosos do mundo do trabalho (Márcio Pochmann em http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2016/06/crescimento-do-setor-de-servicos-dificulta-mobilizacoes-populares-1932.html) para explicar a desmobilização de sindicatos e a precarização de seu poder de pressão sobre governos e empresariado, o que o artigo coloca em perspectiva histórica mais abrangente.

    O que mais me animou no artigo foi a demonstração cristalina do por que é urgente discutirmos, de maneira responsável e com vistas à sua implementação gradual mas premente, a taxação das grandes fortunas e a reforma do sistema financeiro. O que nos coloca o problema da correlação de forças e sua mobilização para empreender esta batalha pois o próprio artigo detalha com habilidade o sequestro do poder político pela oligarquia financeira.

    Fez-me lembrar do filme “A grande aposta” sobre o crash de 2008 e do financiador da campanha do Trump, Robert Mercer , ironicamente representante icônico das duas entidades perversas e interligadas descritas pelo professor Konder Comparato, como um especialista em TI e cientista computacional que se tornou proprietário de um dos maiores hegde funds do mundo, e que odeia política tradicional e a figura do Estado! (http://www.newyorker.com/magazine/2017/03/27/the-reclusive-hedge-fund-tycoon-behind-the-trump-presidency)

     

    Parabéns ao professor e ao GGN como divulgador, pela pérola de artigo pra substantivar a discussão pública desse assunto que não pode mais ser adiado. E do qual depende o sucesso do projeto de Renda Básica de Cidadania, do vereador e defensor dessa revolucionária idéia, Eduardo Suplicy, uma alternativa à desvalorização do trabalho como fonte de renda pela concentração capitalista e oportunidade para que seja a labuta um espaço de criação coletiva, de liberdade, de engenharia de soluções para os muitos problemas do mundo, para um vida comunitária de aprendizado e desenvolvimento. Desculpem os pessimistas mas utopia é fundamental.

     

    SP, 09/05/2017 – 20:17

     

     

  4. Comunitária?
    É interessante como, por medo ou vergonha, muita gente boa tem usado essa palavra no lugar de “comunista”.
    Não precisam ter vergonha! Comunismo é bom! E tenham coragem! Sem coragem não se vai a lugar algum.
    Quanto à transnacionalidade, basta que tenhamos um governo mundial democrático e forte o suficiente, o que aparentemente só poderá ocorrer depois da terceira guerra mundial.
    Já a inteligência artificial será fundamental para sustentar o regime comunista mundial, quando estivermos maduros para dissolver o governo mundial. Difícil é prever as datas em que esses eventos ocorrerão.
    E, como se sabe, os golpes gêmeos em Honduras, no Paraguai e no Brasil explicam-se pela aproximação da data do primeiro desses eventos: a 3a guerra. Como algum comentarista do GGN já observou, estamos sendo arrastados pela maré vazante que precede o tsunami.

  5. Capitalismo

    Enquanto o capitalismo, termo criado por Loius Blanc, não ficou fossilizado em concepções anacrônicas. O socialismo tentou criar a terceira via para sobreviver.Contudo, a fragmentação sincrônica dos trabalhadores,a poderosa e onipresente midia, os tratados internacioanis de comércio, o consumismo, as discussões de gênero etc não deixaram nenhuma alternativa senão a capitulação. Morto o socialismo viva o rei capitalista.

    1. Rosalvo, você garante que a história é um carro abandonado?

      “E quem garante que a história
      É carroça abandonada
      Numa beira de estrada
      Ou numa estação inglória?

      A história é um carro alegre
      Cheio de um povo contente
      Que atropela indiferente
      Todo aquele que a negue

      É um trem riscando trilhos
      Abrindo novos espaços
      Acenando muitos braços
      Balançando nossos filhos

      Lo que brilla con luz propia
      Nadie lo puede apagar
      Su brillo puede alcanzar
      La oscuridad de otras costas.”

       

  6. mestre Comparato

    Professor Comparato, desde a Faculdade de Direito, vários professores meus me falaram sobre a sua importância para o direito brasileiro, reputação que se prova cada vez mais justa com demonstrações de análise e visão. O capitalismo atual é insustentável e está em um ritmo de acumulação e exclusão cada vez maior e mais acelerado.

    Houve comentário acima, criticando-o por estar discutindo novos modelos econômicos para todo o planeta, em vez de se centrar na crise política brasileira. Mas fica bem claro que tal problema local é consequência do grande problema mundial.

    Na verdade, senti o mesmo problema 2 anos atrás. Algo precisa substituir o capitalismo, mas isto não é o Comunismo. O velho precisa sair, mas o novo ainda não está pronto. Bem, mestre Comparato, estou humildemente tentando criar um novo Sistema, e estou colocando em um livro. Espero concluí-lo ainda este ano, centenário da Revolução Russa, quem sabe publicá-lo. Seja como for, que o novo surja logo para que a Justiça Social alcance a toda a humanidade. Mentes como a sua tem muito a contribuir para nosso Brasil e para o mundo.

  7. Comparato se equivoca a respeito do marxismo

    Comparato se engana quando afirma que o marxismo não dá conta do mundo atual e sua crise. Há muitas leituras de Marx e o “marxistmo que não funciona mais” é o da luta de classes, conhecido como  marxismo operário, que vê crê que a superação do capitalismo se daria por meio do trabalho e seu sujeito histórico, a classe trabalhadora. Por esta perspectiva, bastaria os trabalhadores (que seriam os produtores reais) se apossarem dos meios de produção que a revolução estaria feita. Foi o que aconteceu na Rússia em 1914. Este é o marxismo do manifesto comunista e está realmente superado.

    A crítica do valor de Moishe Postone, Robert Kurz e Grupo Krisis recupera um outro Marx, muito mais poderoso, em termos de interpretação e crítica do capitalismo. Segundo esta visão, a libertação do capitalismo não se daria pelo trabalho, mas seria uma liberrtação do trabalho. Isto porque, no capitalismo o trabalho é a substância do capital ou, por outras palavras, o trabalho existe, não para atender às necessidades das pessoas, mas simplesmente para virar capital. O dinheiro não é um meio para as pessoas viverem, mas a vida das pessoas se torna (por meio do trabalho) apenas ais um meio para o dinheiro se multiplicar (uma visão muito próxima da contracultura e de vários artistas).

    Para a crítica do valor, não se trata de saber se é possível superar o capitalismo, mas saber o que virá depois de seu fim que se aproxima inevitavelmente. Isto porque ele acabará por causa de suas próprias contradições internas. As novas tecnologias, ao substituir trabalho humano por tecnologia, diminui a produção de capital (que só pode ser produzido por trabalho humano). A hipertrofia das finanças foi a tentativa desesperda para salvar o sistema, adiantando capitais que nunca serão pagos pela economia real, simplesmente porque o sistema não consegue mais produzir valor a partir do trabalho.

    Comparato descreve bem o estado de coisas atual, mas não percebe a sua lógica interna, que tem a ver com o funcionamento do capital e suas coerções sobre as subjetividades e sociedades, que não tem consciência desta coerção. Aliás, a crecente diminuição de poder do estado nacional é apenas uma consequêcia lógica da consolidação do capital que, para Marx, sempre foi global e sempre submeteu os estados à sua lógica.

    Todos os dados empíricos confirmam a leitura que a crítica do valor faz de Marx, mas parece que ninguém que perceber isto. Talvez porque, para nós, o capital, como forma social, seja muito mais que uma forma de ganhar o pão. É acima de tudo uma forma de viver, de ver as coisas, quase como uma segunda natureza que nos maolda e nos coage e da qual dificilmente conseguimos nos distanciar para enxergar sua irracionalidade e seus perigos: esgarçamento do tecido social, mercantilização total da vida, esgotamento da natureza, desumanização do humano, tendência irrefreável à desigualdade….

    1. Concordo contigo, Wilton

      Há várias leituras de Marx; a mais rasa delas é a de que basta ao operariado tomar os meios de produção para que a revolução ocorra. Essa leitura era aplicável na época em que o gênio alemão formulou sua obra econômico-político-filosófica e até a primeira metade do século XX. Entretanto Marx é complexo e sofisticado demais e não cabe apenas nessa leitura superficial e dicotômica.

      Embora seja um texto crítico dirigido aos que se consideram integrantes da chamada classe média, reproduzo a seguir uma ácida análise que desmonta boa parte da leitura enviesada que muitos ‘acadêmicos’ e ‘pensadores’ atuais fazem do alemão barbudo, que viveu em Londres. 

      É intrigante que os mais ferrenhos críticos de Marx sejam aqueles que o estudam em maior profundidade. Isso mostra que, para se contrapor a uma escola de pensamento é preciso conhecê-la em profundidade. Naturalmente existem os boçais, do tipo Rodrigo Constantino e Olavo de carvalho, que dizem e escrevem um monte de asneiras; é de se duvidar que tenham lido Marx ou se o leram não demonstram a menor condição de compreendê-lo. Mas os verdadeiros liberais capitalistas continuam estudando Marx, cada vez em maior profundidade.

      O que a Esquerda precisa aprender a fazer é estudar e compreender Marx de forma não maniqueísta. Quando fizer isso e de fato chegar ao poder, aí sim, poderá implementar uma verdadeira revolução.

      _____________________________________________

      O “POBRE DE DIREITA” 

      A atual conjuntura nacional e internacional é caracterizada por políticas que atacam os interesses da classe trabalhadora.

       

      Ainda assim, tanto na Europa como na América Latina, observa-se um apoio eleitoral significativo a candidatos da direita que defendem abertamente políticas contrárias aos interesses dos mais pobres. Constata-se assim, a proliferação cada vez maior de um fenômeno social: o “Pobre de Direita”.

      Para analisarmos com maior precisão esse personagem, é importante definirmos o que é “ser pobre” na sociedade capitalista contemporânea. Vejamos.

       

      A pobreza é sempre um conceito relativo e que deve ponderar dois aspectos centrais: primeiro, a posição social do indivíduo no mundo do trabalho e, em segundo lugar, as possibilidades históricas de acesso à riqueza material que uma determinada época oferece.

       

      Na sociedade capitalista contemporânea existem milhares de posições de trabalho que equivalem, de maneira aproximada, à divisão de sua extensa (e caótica) cadeia produtiva. Ainda assim, nessa aparente diversidade de funções, conceitos elementares se encontram preservados.

       

      Há aqueles que são os detentores dos meios de produção – grandes empresários e banqueiros (0,1% da população mundial que detém a mesma riqueza que os restantes 99,9%) – e há também uma massa gigantesca que vende sua força de trabalho em troca de dinheiro e que, caso não arrume trabalho, não consegue reproduzir sua existência.

       

      Em suma, na sociedade capitalista há uma pequena minoria rica e uma esmagadora maioria pobre.

      Há aqueles que questionam a terminologia “pobre” tentando reservar esse termo para a população que vive na miséria, nas ruas, passando pelas necessidades mais básicas. Porém, temos que ser criteriosos nesse momento, para não cairmos nas falácias do sistema capitalista.

       

      É pobre todo aquele que vive através da venda de sua força de trabalho, isto é, se comporta como uma “mercadoria humana” que se vende no mercado de trabalho. Caso essa “mercadoria humana” resolva parar de trabalhar, morrerá de fome em um prazo não inferior a 10% de sua vida biológica (de 7 a 8 anos).

       

      É rico todo aquele que vive do trabalho alheio, isto é, pode viver sem trabalhar. Para além disso, esse indivíduo deve possuir uma renda acumulada que lhe garanta a reprodução de seu padrão de vida médio por toda a sua existência biológica (em média 80 anos). Notem que, a rigor, também não são ricos os pequenos e médios empresários e muito menos os profissionais liberais.

       

      Com essas definições chegamos a algumas conclusões básicas: não existe sociedade capitalista sem pobres. Uma nova sociedade, superior à capitalista, conseguiria eliminar a pobreza estabelecendo que absolutamente todos os seus indivíduos possuíssem o direito – inalienável – aos aspectos básicos de sua reprodução como ser-humano: saúde, educação, alimentos, moradia, acesso à cultura, vestimentas e lazer.

       

      Outra conclusão: a assim chamada Classe Média, muito embora possa ter acesso a esses aspectos anteriormente descritos (saúde, educação, alimentos, etc.) é em sua totalidade formada por pobres.

       

      A Classe Média apenas possui esse acesso de forma provisória, isto é, ela “aluga” uma condição de vida e paga geralmente bem caro por isso. Não se trata de um direito conquistado, mas de um “bem alienável” e que poderá ser perdido dependendo das idas e vindas do mercado de trabalho, problemas pessoais, doenças incapacitantes, acidentes, etc.

       

      Assim, a Classe Média “aluga” um status de vida que pode ser retirado dela tão logo sua renda caia. Parte da Classe Média, em determinados momentos, chega até a “alugar” uma vida parecida com a dos ricos. Mas uma crise econômica de médio porte já é suficiente para devolvê-la à pobreza (sendo que aqueles que “alugam” essa vida de rico, em regra, são arrastados de volta para a pobreza de forma sempre muito mais violenta e rápida do que aqueles que se abstiveram desse “aluguel”…)

       

      Enfim, ser da classe média é ser pobre. O fato de um indivíduo andar de avião não lhe faz ser dono do avião… Acaba a viagem esse indivíduo tem que sair para dar lugar a outros passageiros… Da mesma forma, viver uma vida de rico, não é ser rico. Como já foi salientado, ser rico é poder viver do trabalho alheio, mantendo seu padrão de vida por toda uma geração.

       

      Com esses conceitos postos à luz do dia chegamos também a outra conclusão lógica: não apenas é impossível existir capitalismo sem pobres, como é matematicamente impossível um pobre se tornar rico na sociedade capitalista.

       

      A existência de loterias e as histórias de “conto de fadas” de pobres que se tornaram ricos, são apenas meios para iludir a maioria da população dessa dura realidade: você é pobre e não há nada que você possa fazer para mudar isso – enquanto você viver sob as leis do capitalismo.

       

      Vejamos que, nos nossos dias, encontramos a esmagadora maioria da população, que é pobre, sonhando justamente o impossível: ser um dia rico. E manter esse sonho é o principal ofício dos políticos da direita. Esses estão incumbidos de manter os pobres na ilusão de que é possível a existência de uma sociedade onde qualquer um possa ser rico, dependendo do seu mérito e da sua ação como cidadão.

       

      Não por acaso, muitos desses políticos da direita são religiosos pois, a ideia de uma sociedade onde todos sejam ricos só pode ser comparável com a fé da existência de um paraíso após a morte…

       

      Esses políticos acabam se valendo da mesma lógica cristã: nem todos serão salvos e viverão a eternidade no paraíso, apenas aqueles que tiverem fé em Deus e fizerem por merecer; da mesma forma, serão ricos apenas aqueles que tiverem fé no sistema capitalista e fizerem por merecer (meritocracia)…

       

      O correto seria todos os pobres lutarem por uma sociedade que elimine a pobreza, o que significa – como já foi dito – superar as limitadas possibilidades do sistema capitalista e implementar um outro sistema que garanta a todos o direito de sua reprodução como ser-humano.

       

      Aqui o pobre não se tornaria rico (pois não existe rico sem pobre), mas se tornaria, simplesmente, livre. Livre pelo seu trabalho e pelo trabalho de todos os demais. Pois nessa outra sociedade o trabalho serviria para garantir a liberdade de todos e não a riqueza de alguns e a pobreza de todos os demais.

       

      Enfim, enquanto não houver a plena consciência dos indivíduos sobre esses conceitos aqui trabalhados, sempre haverá os “Pobres de Direita” – que são simplesmente pobres iludidos pelo sistema capitalista, que lhe vende a ideia de que eles não seriam, na verdade, pobres… mas sim parte da “classe média” ou “classe C ou B”.

       

      E… quando chega uma crise econômica capitalista, de forma manipuladora e ardilosa, a direita acaba dirigindo o ódio desses “Pobres de Direita” contra seus inimigos de classe (a esquerda) e outros demais fantasmas de ocasião (imigrantes, líderes da oposição, a imoralidade dos indivíduos, a falta de fé, etc).

       

      Ainda que seja um absurdo a existência de pobres que defendem um sistema que reproduz a sua própria pobreza, é necessário admitir que muitos desses estão tão iludidos e tão dependentes desse sistema que lutarão em sua defesa até o último minuto de suas vidas.

       

      Alguns desses pobres chegam a vestir uniformes, jogar bombas e dar cacetadas naqueles que protestam contra um sistema que lhes fazem ser pobres; outros pobres fazem campanha e se matam para eleger os candidatos da direita, que admitem ter nojo de pobres.

       

      Esses pobres são quase incorrigíveis ou já são absolutamente incorrigíveis. A essa população, restará apenas o desprezo das futuras gerações que certamente conseguirão criar uma nova sociedade de homens e mulheres verdadeiramente livres.

      1. A maioria dos pobres sempre foi de direita

        Os pobres nunca foram de esquerda. Se os pobres fossem da esquerda, a revolução socialista já teria acontecido há muito tempo, pois a maioria esmagadora da população é pobre.

        Marx e Engels constataram que a ideologia dos ricos é a ideologia dominante da sociedade, isto é, a ideologia internalizada pelos pobres e trabalhadores é a ideologia dos ricos e dos capitalistas.

  8. Comunitário?

    Comunitário = comunista?

    Qual é a diferença? Se é a mesma coisa, por que não usar a palavra já consagrada? Medo? Vergonha?

    Comunismo não tem estado; para isso precisa de uma base material mais sofisticada; a base para isso são justamente os aparelhos eletrônicos que embutem inteligência artificial. Cada vez mais, decisões sobre alocação de capitais são tomadas por computadores; quem é o dono?  

    1. Tem uma enorme diferença sim

      A diferença entre comunitário e comunista é imensa. E nem precisa intelectualizar muito, basta ir no dicionário…

      1. Ah, sim… comunitário 2.0 é

        Ah, sim… comunitário 2.0 é aquele pressuposto que acabará com o capitalismo, pelo simples fato de isolar(!) dos meios de produção capitalistas, juntamente com sua idologia, num purgatório pós-moderno muito interessante para a burguesia esquerdista…

        É um imperativo anticivilizatório que faria a revolução cultural maoista um genial engenho social…

  9. É fogo… a gente não podia

    É fogo… a gente não podia ter perdido os fundamentos. A noção está esquecida – ou a gente está fingindo que esqueceu – mas dinheiro, por sua natureza, não é nada exceto representação de trabalho. Se se perder esse fundamento – como parece que aconteceu – a economia toda desmonta – o que realmente está acontecendo. Por exemplo, onde já se viu uma empresa como a Microsoft ter ganho tanto dinheiro? Dos seus produtos há similares tão funcionais quanto os dessa firma, desenvolvidos a custo baixíssimo e entregues de graça pela Internet.

    Mas não tem como brigar contra esses monstros-oligopólios que criamos. Adianta alguma coisa fazer protestos na frente da sede da empresa Monsanto ou, em escala nacional, da firma Globo? São empresas privadas, não há a menor chance de ingerência pública sobre o que fazem. A meu ver, a única forma de eliminar esses monstros é deixando de acatar a liderança que eles querem ter sobre nós. Se é responsabilidade da firma tentar nos seduzir, nos aliciar, fazer com que nos alinhemos a ela, é responsabilidade nossa alinharmo-nos ou não, deixarmo-nos seduzir ou não. Enfim… o único movimento capaz de derrotar esses monstros é a descentralização. É deixarmos de admirar as grandes, enormes coisas, é abandonarmos eventual megalomania. Será que a gente consegue? Será que a gente aguenta saber que não há, afinal, nenhum grande líder, que quem faz o lider são os liderados? Quem precisa de agigantadas construções para chamar de suas (mesmo não sendo)? Quem topa abrir mão de ser “amigo do gigante” para assenhorar-se de si mesmo com independência, humildade e grandeza? Será que a gente consegue deixar de ser ovelha sem tornar lobo?

  10. Wilton Cardoso Moreira

    Sua reflexão, Wilton, salvou minha noite. Em essência, você mantém a convicção (tambem minha) que o capitalismo não é eterno como se apresenta, que chegará a seu fim, em razão de suas contradições. Comparato não é marxiano, o que não diminui em nada seu valor. Mas não compreende o todo, por isso.

    Pena que o pessoal aqui não leu todo o seu comentário.

    1. E é pena que ninguém queira ouvir os marxistas

      A pena mesmo, caro Fabian, é que ninguém quer saber do marxismo, ainda mais do marxismo da crítica do valor. Depois de 89, Marx foi varrido do mapa: como se não tivesse existido. Apenas alguns livres pensadores ou intelectuais acadêmicos ainda o leem.

      Enquanto as “esquerdas”, os keybesianos, os neoliberais e a extrema-direita tentam entender a crise e o mundo atual com ideias inconsistentes, parciais ou mesmo irracionais, sem chegar a lugar nenhum, os marxistas (principalmente os da crítica do valor) têm um diagnóstico consistente, global e confirmado pelos fatos.

      Mas ninguém quer prestar atenção neles.

      É como na Idade Média: ninguém queria nem ouvir algum questionamento sobre a existência de Deus: a própria dúvida já era pecado. Agora, ninguém quer nem ouvir sobre a possibilidade do fim do capitalismo. O capital é nosso Deus.

      1. Marx descreveu a sociedade do século XIX

        O grande erro das esquerdas está exatamente em acreditar viver nessa mesma sociedade até hoje.

        1. A lei da oferta e da procura foi revogada no Século XIX

          Nós não estamos mais no Século XIX, a lei da oferta e da procura foi revogada, os trabalhadores não trabalham mais, os capitalistas não exploram mais os trabalhadores, ninguém produz mais nada, não há consumo. O mundo não é mais o mesmo do Século XIX, a fórmula da água não é mais dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, agora a água é constituida de dois atomos de oxigênio e um de hidrogênio.

          Que descoberta tremanda.

  11. A igualdade entre esquerda e direita é um sinal da superabilidad

    É justamente a ausência da tradicional distinção entre a esquerda e a direita que demonstra a superabilidade do capitalismo. Isso nos palavras do Roberto Kurz:

    “Por um período de mais de cem anos, os sectores do serviço público e da infra-estrutura social foram reconhecidos em toda parte como o necessário suporte, amortecimento e superação de crises do processo do mercado. Nas últimas duas décadas, porém, impôs-se no mundo inteiro uma política que, exactamente às avessas, resulta na privatização de todos os recursos administrados pelo Estado e dos serviços públicos. DE MODO ALGUM ESSA POLÍTICA DE PRIVATIZAÇÃO É DEFENDIDA APENAS POR PARTIDOS E GOVERNOS EXPLICITAMENTE NEOLIBERAIS; HÁ MUITO ELA PREPONDERA EM TODOS OS PARTIDOS. ISSO INDICA QUE NÃO SE TRATA AQUI SÓ DE IDEOLOGIA, MAS DE UM PROBLEMA DE CRISE REAL. Seguramente, desempenha um papel nisso o facto de a arrecadação pública de impostos retroceder com rapidez por conta da globalização do capital. Os Estados, as Províncias e as comunas super-endividadas em todo o mundo tornaram-se factores de crise económica, ao invés de poderem ser activos como factores de superação da crise. Uma vez delapidadas as “pratas” dos sistemas socialmente administrados, as “mãos públicas” acabam por assemelhar-se fatalmente às massas de vítimas da velhice indigente, que nas regiões críticas do globo vendem nos mercados de segunda mão a mobília e até a roupa para poderem sobreviver. Porém o problema reside ainda mais no fundo. No âmago, trata-se de uma crise do próprio capital, que, sob as condições da terceira revolução industrial, esbarra nos limites absolutos do processo real de valorização. Embora ele deva expandir-se eternamente, pela sua própria lógica, ele encontra cada vez menos condições para tal, nas suas próprias bases. Daí resulta um duplo acto de desespero, uma fuga para a frente: por um lado, surge uma pressão assustadora para ocupar ainda os últimos recursos gratuitos da natureza, por fazer até mesmo da “natureza interna” do ser humano, da sua alma, da sua sexualidade, do seu sono o terreno directo da valorização do capital e, com isso, da propriedade privada. Por outro, as infraestruturas públicas de propriedade do Estado devem ser geridas, também, por sectores do capitalismo privado. ” – Roberto Kurz, A Privatização do mundo

    https://resistir.info/varios/privatizacao_mundo.html

  12. Independentemente de qualquer

    Independentemente de qualquer discussão econômica,ou de suas consequências,parece-me necessário possibilitar a real condução destas atividades pelos seres humanos.

    Hoje,independentemente da cor partidária e da teoria econômica defendida,existe uma força autônoma que rege a vida de toda a humanidade.

    O capitalismo tornou-se um Deus que rege a todos sem importar-se com suas consequências.

    É preciso que retomemos a discussão sobre a vida em sua essência. Não dá mais para aceitar que meia dúzia de pessoas detenham tantos recursos sem a menor finalidade a não ser o de possí-los.

    O capitalismo precisa ser dirigido e não dirigir toda a  humanidade .

  13. É chegada a hora

     

    …” De acordo com dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho, órgão das Nações Unidas, em seu relatório “Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo”, publicado em 2015, o nível do atual desemprego no plano mundial já é equiparável ao ocorrido após a grande crise de 1929, com a agravante de que, hoje, somente um quarto dos trabalhadores no mundo todo tem emprego estável. Por outro lado, segundo estimativa da Universidade de Oxford, 47% dos atuais empregos vão desaparecer nos próximos 25 anos.”…

    …”Basta citar, a esse respeito, o último relatório da Oxfam International, confederação que reúne 18 organizações não governamentais em mais de 100 países, com o objetivo de lutar contra a pobreza e a injustiça social. Nesse relatório, publicado em janeiro de 2017, salienta-se que a diferença entre ricos e pobres aumenta sem descontinuar no mundo todo, e que no presente apenas 8 indivíduos possuem riqueza equivalente à de metade da humanidade. Ainda de acordo com esse mesmo relatório, em nosso país apenas 6 indivíduos detêm, em conjunto, a mesma riqueza que a metade menos abastada de toda a nossa população.”…

    Apesar de tudo, continuamos fingindo não perceber a perigosa e acelerada decadência do sistema. Terminal. Bem vistas nos aspectos financeiros, econômicos, produtivos e morais, expressos na grande crise financeira e econômica desde final de 2007, na crescente gigantesca concentração de riquezas, incontido desemprego global, imbatível e incontrolável corrupção, acelerada desmoralização do Poder e das Instituições, notadamente da Justiça, pelas extravagantes e inadequadas condutas de seus mandatários. Ainda, gigantesco poder bancário ganhando bilhões e bilhões sem nada produzir. Esmagadora força dos maios de comunicações e das comunidades de informação tomando conta do mundo, acima das leis e de tudo. Como se já não bastasse, temos ainda o grande risco de exterminação da civilização a qualquer hora dessas, pela terrível devastadora guerra nuclear – quem sabe –  desencadeada por um bestial erro. E, outras mais.

    Entretanto, por detrás de tudo isso, situa-se a muito velha manjada concentração de riquezas em mãos de poucos, pai e mãe de toda a desgraça do mundo desde o início da civilização. Mas, querendo ou não, chegou a hora de mudar tudo. Mudar para o paraíso ou para o inferno. Não dá pra postergar mais. A hora é chegada.

    Em menos de 15 anos, praticamente, todos os meios de produção, intelectual e braçal, estarão aos cuidados das infatigáveis, competentes e precisas máquinas da robótica e da inteligência artificial. Pouca coisa ficará fora dessa exuberante fantástica genial dupla. Finalmente, o desemprego tomará conta do mundo, com estudo ou sem estudo – adeus emprego. Finalmente, o sistema entrará em colapso global pela acelerada corrosão do polo consumidor de produtos e de serviços, empurrando para a falência planetária o polo produtor de riquezas, sem poder continuar contando com os milhares e milhares de consumidores do mundo todo.

    Instigante indagação: optaremos pelo paraíso ou para o inferno da devastação nuclear?

     

  14. O pessoal da Economia

    O pessoal da Economia Solidária parece estar tendo sucesso na superação do capitalismo, e o melhor, sem briga, apenas desprezando a meia-dúzia de agigantados. A Comunidade Yuba e Cuba também parecem abrigar pessoas que vivem bem, poucas carências, nenhum desemprego, educação, saúde, moradia, cultura…

    Aliás, falando em carência, já reparou como a gente fica carente quando embarca na onda do capitalismo? É uma eterna insatisfação, um medo que não acaba mais. Até guerra o capital provoca para que a indústria bélica privada sobreviva. Fora os datenas e marcelos rezndes, a gritar que precisamos urgente comprar proteção… Como disse Mary Schmish num artigo de jornal, “não leia revistas de beleza, elas só te farão sentir-se feia”. E olha que interessante: a autora deu a esse artigo o título de “Tomem cuidado, queridos jovens, provavelmente vocês estão desperdiçando suas juventudes”, uma aviso sério e profundo. Aqui as empresas privadas, principalmente a firma “Globo”, comprou os direitos de reprodução desse artigo, renomeou-o para o cosmético “Use filtro solar” e o colocou na voz do rei do BBB, Pedro Bial.

    Mas voltando à alternativa ao culto do gigantismo, talvez em sociedades menos desiguais não tenhamos o “papa” da comunicação, o “mais-mais” dos negócios, coisas assim, o que significa que fica mais fácil acontecer efetivamente aquilo que o capitalismo promete (mas não cumpre): todos tendo acesso à realização plena e profunda de suas potencialidades humanas, todos tendo oportunidade. Não é gozado que na chamada “terra das oportunidades” tão poucos conseguem se realizar? Apenas os tais dos 1%…

    Nada que é humano é perfeito e puro. Assim como há escravidão no capitalismo, também há milionários que se dedicam a fomentar iniciativas humanitárias, que geram lucro apenas como propaganda institucional (como se isso fosse pouco, rs…). Nunca houve o capitalismo pleno. E também é assim com o socialismo. Nunhuma sociedade é puramente socialista, o comunismo russo nunca realizou o marxismo pleno. Mas parece que quanto mais uma sociedade tende ao socialismo mais as pessoas que a compõem encontram possibilidades efetiva de realização, prosperidade, independência, sem que “matar um leão por dia” para isso.

    De qualquer forma talvez valha a pena dar um refletida sobre a necessidade que temos de eleger os “mais-mais”. Depois de superada a infância, será que precisamos mesmo de grandes gurus para seguirmos? E se sim, porque? De onde vem essa necessidade? Como ela foi criada e como é mantida em nossos corações?

    Uns links, aí, se alguém quiser pensar no assunto:

    https://cirandas.net/fbes/o-que-e-economia-solidaria

    https://www.google.com.br/search?q=comunidade+yuba

    http://www.chicagotribune.com/news/columnists/chi-schmich-sunscreen-column-column.html

     

     

    1. Em tempo: um aspecto legal

      Em tempo: um aspecto legal dessa história de descentralização é que os monstros oligopólios monopolista substimam os, digamos, descentralizados. Quando é que uma Monsanto vais se preocupar com a pequeníssima cooperativa agrícola da Economia Solidária? E o melhor, uma cooperativa que não pretende crescer para além de certo ponto (para não virar ela mesma um oligopólio)? O grande monstro subestima aqueles que o desprezam. No entanto, imagina o que é a multiplicação desses pequenos em dezenas, centenas, milhares, todos alinhados mas sem estarem centralizados? O monstro morre de inanição, como um líder não existe sem liderados. Acho que é por isso que o líder quer que os liderados não descubram-se livres, não sejam auto-suficientes, soberanos de si mesmos, cada um de si.

    2. Profetas, Magos, Videntes,

      Profetas, Magos, Videntes, Iluminados, Oráculos, e Guros…  Não confie nestes farsantes, se por acaso encontrar um “Guru” no caminho, faça como o pessoal do ETA Pátria Basca e Liberdade, não o siga, mate-o!

      Orlando

      1. 🙂

        Quatro estrelas, Orlando. Não cinco porque não concordo com matar, isso tornaria a pessoa que mata num assassino. Acho que basta deixar prá lá. Mas adoradores de Roberto Justus, fiéis a Mark Zuckerberg, ou simplesmente a turma que só se submete ao dono da firma porque tem a esperança de um dia ter a sua própria forma de explorar o trabalho alheio, gerentinhos e diretores em geral: talvez haja uma alternativa a tais “oráculos”, e mais saudável, sustentável e prazerosa. Mesmo àqueles que hoje vivem da exploração do trabalho alheio, será que já pensaram na dependência e falta de liberdade que isso significa em relação a quem realmente trabalha? No trabalhão que dá manter a turma na rédea curta? Então, em relação ao que se ouve e lê, ué… eventualmente ouvir, verificar se há verdade. Não encontrou verdade ali, tchau, ué. Mas nunca desprezar uma ideia que se julga boa só porque quem a está expressando não parece legal. E de mais a mais, ideia só tem dono enquanto o dono não a expressa, né? Expressou, passa a ser de quem nela se enxerga, de quem dela gosta, é isso?

  15. Não é problema a esquerda e a direita perderem sentido

    Essa é a solução, na verdade. O que impressiona é, não só hoje, como em qualquer tempo passado, uma visão dicotômica da realidade como essa ter pretendido servir de guia para a compreensão das sociedades altamente complexas em que vivemos. A transnacionalidade tampouco é problema: a divisão entre nações sem mediação internacional resultou em massacres de milhões, assim como em populações inteiras alienadas do consumo de bens produzidos por linhas de produção atravessam diversos países. Na China e na Índia milhões foram tirados da miséria nas últimas décadas, algo que conservadores de esquerda e de direita insistem não ver. Acerca do controle sobre as moedas, esperem ver até onde o bitcoin pretende chegar, juntamente com a revolução block chain, escapando até mesmo dos controles bancários internacionais aqui mencionados. Considero que o capitalismo será superado quando tivermos meios de produção – diga-se, tecnológicos – apropriados para tanto. O problema é que sequer estamos discutindo a onda tecnológica que vai se abater sobre nós dentro de dez anos. A esquerda e a direita continuam batendo boca utilizando conceitos do século XX. E com isso estão ficando rapidamente obsoletas. Um exemplo claro: a esquerda brasileira se omitiu da discussão acerca da reforma trabalhista quando estava no poder e agora a direita vai fazer uma reforma PORCA, à sua maneira. Ambas serão varridas pelas novas tecnologias e relações de trabalho que estão por vir. Serão tempos de turbulência, até que aprendamos a pensar no futuro, ao invés de viver com os olhos no passado.

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