Golpe dentro do golpe: imprensa quer tornar Cármen Lúcia presidente, por Luis Costa Pinto

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Cercado pela Lava Jato e amargando baixíssimo índice de popularidade em função de um ajuste fiscal duro e guerra velada a programas sociais, o governo Michel Temer está preocupado com a possibilidade de a grande mídia se aproveitar da desmoralização da classe política e dar o “golpe dentro do golpe”, substituindo o presidente pela comandante do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia.

Segundo artido de Luis Costa Pinto no Poder 360, publicado nesta segunda (6), a articulação “não mais silenciosa” para alojar Cármen Lúcia no lugar de Temer está em curso ao menos desde o final do ano passado. O portal revelou, em 16 de dezembro de 2016, que Temer teve uma reunião com a cúpula da Rede Globo para tentar amenizar o tiroteio midiático. 

Na visão de Pinto, gestos de dois lados – do governo Temer e da oposição, liderada pelo PT – são necessários para frear essa investida de setores da grande mídia. Primeiro, quem se beneficiou do golpe do impeachment deve reconhece que a saga das “pedaladas fiscais” foi criada para atingir exclusivamente Dilma Rousseff. Na esteira desse mea culpa, o PT deveria aproveitar para reconhecer os erros do passado – de corrupção à desastrosa política econômica.

“Só quando um lado e outro do status quo político, vencedores e vencidos do drama solerte que encontrou em Eduardo Cunha um roteirista nefasto e eficaz, assumirem os papéis que lhes coube protagonizar, voltaremos a encarar a política como eixo natural para sair da rota do inferno. E os políticos como correia de transmissão. Caso a remissão dos pecados não ocorra haverá sempre alguém exibindo a toga da ministra Cármen Lúcia e querendo nos fazer crer que valerá a pena apostar em mais esse arremedo de guincho a fim de nos transportarmos para a terra prometida. Não vale”, diz Pinto.

Por Luis Costa Pinto

No Poder 360

Há uma evidente articulação em curso, não mais silenciosa, para alojar a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, na cadeira de presidente da República. É possível que ocorra à revelia dela, entretanto é improvável que assim seja.

Ao menos uma grande empresa da mídia tradicional flerta editorialmente com essa possibilidade –como revelou Fernando Rodrigues no Poder360 em dezembro de 2016. Articulistas dispersos em outros veículos e algumas lideranças empresariais ocultas nas trincheiras corporativas não enxergam heterodoxia demais nessa alquimia. Para esses, fins justificam meios.

Seria, sem dúvida, o golpe dentro do golpe. E há já um número razoável de cidadãos acadelados, como dizem os gaúchos, crendo ser indiferente o nome e a origem do despachante de plantão no Palácio do Planalto, se as vigas mestras da política econômica forem mantidas: arrocho fiscal inédito, inflação baixíssima assim obtida graças à indigência da atividade econômica, desemprego estratosférico e desmonte dos mecanismos de intervenção do Estado na economia –inclusive aqueles inerentes aos órgãos regulatórios.

Sufocado pela resenha policial em que se converteu o noticiário político do país, o Congresso Nacional e seus parlamentares inspiram pouca confiança para reagir a essa nova investida contra a origem das instituições democráticas –o voto.

Existe, entretanto, um caminho para começar a distender a cena política, e ele não dispensa gestos dos dois lados de sua margem.

No primeiro desses gestos, os beneficiários da deposição da ex-presidente Dilma Rousseff têm de admitir que se construiu uma compreensão singular da Lei de Responsabilidade Fiscal com o objetivo exclusivo de trocar o comando do governo eleito nas urnas de 2014.

O enredo das pedaladas fiscais, repetido à exaustão e coonestado pelo Parlamento e pelo Supremo Tribunal Federal, patinou com o verniz da legalidade a violência e a desfaçatez com que se incineraram os votos de 54 milhões de brasileiros –a maioria naquele pleito. Mas os criativos redatores do enredo do impeachment não lograram êxito, e jamais o farão ante a História, de dar legitimidade ao governo instalado depois do espetáculo infame meticulosamente redigido e dirigido pelo presidiário Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados entre 2015 e 2016.

Dilma Rousseff jamais voltará à cadeira da qual foi ejetada. Num gesto de inflexão rumo à necessária reconstrução da trajetória democrática e da normalidade institucional que tínhamos e de que tanto precisamos agora, faz-se urgente o reconhecimento, por parte dos vencedores das batalhas legislativas do ano passado, do caráter peculiar e único daquelas ações. Precisam admitir ante os vencidos que elas só existiram para o fim exitoso almejado.

Sendo bem-sucedida essa ação, abrir-se-á uma senda para que o PT e a própria ex-presidente Dilma Rousseff reconheçam os erros em série que nos levaram à catástrofe política atual.

Novidade alvissareira em 2002, quando Lula venceu José Serra, o Partido dos Trabalhadores travestiu a esperança com os andrajos da velhacaria unindo o que havia de mais podre no meio sindical com o que herdamos mais repugnante no populismo.

Não falo de Lula, personagem gigante da História republicana do Brasil pela coragem com a qual inverteu as prioridades da agenda nacional e nos pôs a jogar o jogo da economia em rota anticíclica em relação ao resto do mundo. Falo do PT, das lideranças regionais e congressuais do partido. A incompetência dos petistas para ler a cena política, aliada à inapetência de Dilma para com as regras do jogo em Brasília e a arrogância que os fez entrar no ringue para um tudo ou nada despidos de táticas e estratégias foram os responsáveis pelo nocaute que derrubou a todos. Para sair do estado de catatonia em que se encontram, esquerda e centro democrático têm de fazer uma expiação pública de culpas e reconhecer pecados.

Só quando um lado e outro do status quo político, vencedores e vencidos do drama solerte que encontrou em Eduardo Cunha um roteirista nefasto e eficaz, assumirem os papéis que lhes coube protagonizar, voltaremos a encarar a política como eixo natural para sair da rota do inferno. E os políticos como correia de transmissão. Caso a remissão dos pecados não ocorra haverá sempre alguém exibindo a toga da ministra Cármen Lúcia e querendo nos fazer crer que valerá a pena apostar em mais esse arremedo de guincho a fim de nos transportarmos para a terra prometida. Não vale.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

22 Comentários

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  1. Atras da grades

    Que a mesma fortuna que conduziu esse canalha à presidência , não só faça com que seus comparsas o abandonem , mas ainda que tome o mesmo caminho de seu sócio Eduardo Cunha : termine os seus dias atrás das grades . 

  2. Brásilvânia, a Transivânia Tropical

    Temos Darth Vader na Petrobrás, Dracula no Senado, mas até então à frente do Itamarati, Vlad o Empalador, como lider do Governo, mas até então Presidente do Senado e Nosferatu, na presidência postiça, porque não dar uma chance para Maga Patalógica? Ao menos é um terror light. Como a vantagem  que não muda nada, haja vista o vácuo de poder que vemos na colenda corte e vai custar menos, pois é frugal, não gosta de convescotes, não trará rebentos e dispensa cuidadores..

  3. Brásilvânia, a Transivânia Tropical

    Temos Darth Vader na Petrobrás, Dracula no Senado, mas até então à frente do Itamarati, Vlad o Empalador, como lider do Governo, mas até então Presidente do Senado e Nosferatu, na presidência postiça, porque não dar uma chance para Maga Patalógica? Ao menos é um terror light. Como a vantagem  que não muda nada, haja vista o vácuo de poder que vemos na colenda corte e vai custar menos, pois é frugal, não gosta de convescotes, não trará rebentos e dispensa cuidadores..

  4. É uma opção

    É uma opção sim.

    Principalmente com o recrudescimento das denuncias contra Temer, aliados as fatos de a economia continuar tosca, além da atual dificuldade na reforma da Previdência.

    Outro ponto que conta a favor na nova troca da Presidência é a questão da diluição de responsabilidades em relação à economia.

    Ex: Temer fica um ano e pouco não faz nada para o curto prazo para reerguer a economia, mesmo tendo o congresso na mão , com ampla maioria, pois coloca toda a culpa “nos erros da Dilma.”. Daí, Carmem Lúcia ou outro, entra, e continua na mesma lenga-lenga, daí um ano e pouco ela culpa Dilma e Temer, e assim vai. Em 2018 entra um tucano e faz a mesma coisa.

    Em 2022, se até lá não entrar uma ditadura, quem sabe volte um candidato minimamente progressista, mas ai o País já estará arrasado.

     

    1. Como assim se até 2022 não entrar uma ditadura, vc acha que esse

      golpe nos colocou em que? liberdades democráticas? Depois de incinerar 54 milhões de votos!

      Já vivemos uma ditadura chefiada pela máfia da qual o STF faz parte!

  5. Carmem Lúcia para presidenta de qual galinheiro?

    Acho que a Carmem Lúcia daria uma ótima prisidenta de um galinheiro. Agora presidir uma república…

    Sei não, hein?

    Seria pior do que o Temer e o Bolsonaro juntos.

  6. eu bebo sim……

    Seu Pinto, caso o mordomo (PT Lula Dilma) se declare culpado por:

    – ter provocado uma politica social inclusiva,

    -estar na defesa da Petrobrás como patrimônio da nação apesar dos ladrões de antanho,

    -apoiar a politica de incentivo à indústria naval e conteúdo pátrio,

    -defender a politica de incentivo dos bancos públicos,

    -ter tentado governar cedendo até o limite da indecência aos apetites dos bandidos de sempre, os da bíblia da bala da bola do boi, e com uma bancada mínima,

    -e depois se declarar culpado que somente com todas estas provocações a casa grande se viu obrigada a intervir para salvação da alma etc. etc.

    -que também enfim é o responsável do momento nefasto do FORA TEMER,

    -que o judiciário é o ultimo flor do lácio e salvação

    Ainda assim deverá aceitar cordado qualquer tia Carminha, os plin plin, etc. etc.e prometer nunca mais se meter a besta nesta terra da casa grande.

    1. Pois é o PT chegou lá e fez tudo o que fez, de BOM!!

      Em termos de conquistas sociais e ainda tem que se redimir!! Nesse Caso acho que o resto (PMDB, PSDB, PDS,PSB e #GloboGolpista) merece pena capital, afinal onde esta o antro de corruptos que assalta os cofres do país, e eles ficam velhos caqueticos, fazem suruba e enme morrem tem tempo de por filhos, netos e bisnetos até os “bastardos” no poder 🙁

    1. E o que mais ela poderia

      E o que mais ela poderia fazer? Governar? Com que programa? Com que legitimidade? Com qual articulação no Congresso? Ou ela convoca novas eleições, ou estabelece em definitivo a ditadura do judiciário. Seria algo inédito no mundo, que já viveu ditaduras policiais, clericais, militares, burocráticas, etc. Mas uma judiciariocracia seria grande novidade.

      O artigo propõe um absurdo – que os temerários reconheçam o seu crime, o de depor uma presidente ao arrepio da lei, em troca de que os legalistas reconheçam Temer como presidente. Ora, como é que os legalistas vão reconhecer Temer como presidente no momento mesmo em que ele confessa sua total ilegitimidade? E como é que temerários vão reconhecer um crime e ao mesmo tempo pretender manter o produto do crime, isto é, a presidência usurpada? É óbvio que se fizerem isso, o desgoverno termina de se desmoralizar completamente, e perde qualquer possibilidade de se manter. E aí Carmen Lúcia assume, na medida em que os presidentes das duas casas legislativas estão comprometidos nos esquemas de corrupção.

      Na verdade, a única esperança de Temer se manter agarrado ao tigre em que montou é a oposição legalista apoiar a sua queda. No momento em que se chegar a algum tipo de “acordo de cavalheiros”, o deboche vai ultrapassar os limites do suportável.

      Portanto, devemos continuar a dizer: em primeiro lugar, FORA TEMER. E em segundo lugar, já que foi impeachment sem crime, que se anule o impeachment e que Dilma volte.

  7. d qq forma, ludico ou lírico:

    d qq forma, ludico ou lírico: sem crime, sem imepachment,.

    fundamental é ensinar nossos filhos a corrigirem seus erros.

    a presidente segue eleita e inocente.

     

    BRASIL, reDILMA-se!

  8. Eu pagava pra ver o MinsitrO Carmem Lucia de PresidentO

    O Braziu vai ladeira abaixo, sem democracia tanto faz, tanto fez!! Mas tenho pena do Chico anisio não esta aqui pra ver um de seus personagens de presidentO do Braziu.

  9. É difícil demais conceber a
    É difícil demais conceber a ideia de que alguem eleito democraticamente foi destituida por nada,sem crime contra a constituição;apenas por interesse dos partidos que foram derrotados como PSDB pricipalmente,por não terem aceita a vitoria legal nas urnas de 54 milhões de votos;esta historia lamentavel aconteceu na patria Brasil.

  10. O belo artigo do jornalista
    O belo artigo do jornalista Luís Costa Pinto,em síntese,vai na mesma linha do texto que o outro Luís escreveu sobre a desmoralização da velha mídia na enrascada golpista em que se meteu,e não sabe como sair.Carmen Lúcia,a Carcereira, é uma nulidade que está sendo usada como balão de ensaio pela Globo.Me lembra a eficaz frase do outrora paladino da moralidade Demóstenes Torres,sobre seu colega goiano eleito pela grana do Jardim Zoológico de Goiânia:Carmen Lúcia é uma cabeça a procura de uma idéia.
    De parabéns os dois Luís,Nassif e Costa pelos corretos e certeiros artigos que publicaram,a nos dar conta que a velha mídia está atirando a esmo,corre o sério risco de acertar ela mesmo.Baleada em uma das pernas,com certeza já está.

  11. Amigos em Frias?

    Esse Poder 360 é a cara da Folha de São Paulo, parece apenas um novo “brand” para o mesmo produto, talvez até dos mesmos investidores, ainda que de forma enrustida… Será?

  12. Baboseira das piores. Esse

    Baboseira das piores. Esse negócio de culpar a Dilma por não ter “aberto os cofres” para os de sempre, incluídos os acunhados e os temeristas-GOLPISTAS é, em si, o arremedo da velhacaria. Esse negócio de desqualificar o PT por seus políticos regionais e municipais, então, beira a histeria que a globo, desde sempre, tenta impor aos abestalhados que ainda assistem aos seus ditos “programas”. A questão do GOLPISTA e sua trupe de padilheiros não se mistura com o PT em qualquer das curvas. O sistema (repito: O SISTEMA) jamais permitiu ao PT efetivmente bancar sua base parlamentar sem que tivesse que “jogar”. A Dilma só foi impichada porque se recusou a “jogar” e, por isso, a dizem inepta? O golpe foi dado pelos que perdem sempre nas urnas já que suas propostas estão aí na caratonha temerista-GOLPISTA. O problema desse país de merrecas foi que tanto o (in)judiciário, quanto o tal mpf se “ampararam” no amigão do youssef para ferrar a terra brasilis por séculos. Interesses escusos, bobagens farsescas, ignorância, arrogância, cretinice, sim, levaram o brasil (minúsculo) ao quinto dos infernos. Não há como culpar aquela que foi – efetivamente – REPUBLICANA em seu governo. É dizer que os sem vergonhas é que estariam certos. Vão se catar!

  13. Seria mais fácil e melhor

    Seria mais fácil e melhor para Democracia, o STF julgar o mérito do impeachment, que ainda não foi julgado, e cancelar esse golpe que está prejudicando todos. Quem foi contra e a favor do golpe.

    Restituir à Dilma o poder, com todos os seus ex ministro.

    Como acredito em duende, também acredito nessa possibilidade.

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